Layla James tinha 13 anos quando seus seios ainda em formação foram amputados. Vinha tomando bloqueadores hormonais e testosterona desde os 11, quando disse aos pais que achava ser um menino.
Os pais procuraram ajuda médica. Pelo menos três médicos recusaram o tratamento hormonal devido à pouca idade da menina. Mas apareceram outros. Uma psicóloga, Susanne Watson, recomendou o tratamento depois de uma única sessão. Também foi em uma única consulta que a cirurgiã plástica Winnie Tong decidiu que Layla poderia fazer a dupla mastectomia.
As duas médicas estão sendo processadas, juntamente com o hospital e o provedor do plano de saúde que permitiu as intervenções.
“Os acusados não questionaram, escrutinaram ou tentaram entender os eventos psicológicos que levaram Layla à crença equivocada de que era transgênero, nem avaliaram, analisaram ou trataram de seus múltiplos sintomas de comorbidades”, dizem os advogados contratados por ela depois que, aos 18 anos, resolveu fazer a “destransição”, já desprovida dos seios extirpados.
“Em vez disso, os acusados presumiram que Layla, uma menina de 12 anos emocionalmente desequilibrada, sabia o que precisava para melhorar sua saúde mental”.
Como tem acontecido em outros casos, os profissionais médicos apavoraram os pais da menina com a seguinte pergunta: “Vocês preferem ter um filho vivo ou uma filha morta?”.
Acenar com a ideia de suicídio é uma tática para conseguir a anuência dos pais.
Existe uma foto de Layla depois da mastectomia no hospital. Uma criança. Como mulheres obrigadas a fazer a intervenção radical por causa do câncer de mama, ela ficou com sequelas em razão dos nervos cortados na cirurgia.
A história dela é praticamente idêntica à da jovem inglesa chamada apenas de Jasmine num documentário da televisão ITV.
Aos 15 anos, ela foi encaminhada à clínica de afirmação de gênero de Tavistock, em Londres. A instituição foi posteriormente fechada por causa das múltiplas denúncias, feitas inclusive por profissionais que lá trabalhavam, de que havia uma cultura médica voltada para ignorar todos os múltiplos distúrbios emocionais dos jovens pacientes, principalmente meninas, e dirigir tudo para as intervenções médicas.
Aos 17, Jasmine entrou para o tratamento hormonal e para a lista de candidatos à mastectomia, chamada eufemisticamente de “operação na parte de cima”. Durante um ano, tomou testosterona, o que deixou efeitos permanentes. Tendo voltado a se considerar mulher, Jasmine precisa fazer a barba todo dia e sua voz ficou com um tom mais grave.
“Quando disse que ia destransicionar, eles me deram alta. Disseram que não era mais paciente deles. Se alguma vez quisesse voltar, começaria da estaca zero”, conta Jasmine. “Mas eu tinha feito uma mastectomia. Eu me sinto um pouco mutilada e parte de uma experiência que deu errado”.
“Às vezes, sinto ciúmes de outras pessoas, de mulheres que são biologicamente do sexo feminino. Elas ainda têm sua voz natural, suas características naturais. E eu não tenho mais”.
Jasmine diz ter sido influenciada por vídeos de outras jovens que mostravam as fases da transição nas redes e “pareciam tão felizes”.
Não há números confiáveis sobre a quantidade de pessoas que fazem a “destransição”. Organizações de promoção de transgêneros têm interesse em diminuí-los drasticamente. Do outro lado, existe uma muralha de recusa em reconhecer que pode haver efetivamente casos de pessoas que fazem a redesignação de gênero e ficam mais felizes – ou menos infelizes, considerando-se que seres humanos são complicados, ainda mais quando está envolvida a identidade sexual ou de gênero.
Mas há indícios de que a destransição envolve sobretudo meninas, mais suscetíveis ao desejo de aceitação social e a pressões dos grupos, nas redes, para que “virem meninos”.
O radicalismo das intervenções exigiria que todos os casos fossem tratados com extremo cuidado, mas não é isso que tem aparecido em exemplos como os mencionados. Existe uma pressão social para que crianças e adolescentes sejam levados ao pé da letra quando declaram ser de outro gênero – ou até de outra espécie.
Um caso bizarro numa escola da Inglaterra mostrou um professor agredindo verbalmente uma aluna de prováveis 13 anos por ter dito que a coleguinha “não podia ser um gato por que é uma garota”.
Isso mesmo: uma criança diz que é gato e a escola não só “normaliza” a situação como até penaliza alunas que obviamente estão vendo a insanidade de toda a encenação.
O caso foi revelado pelo jornal Telegraph. Uma reportagem posterior levantou exemplos semelhantes em escolas: um aluno quer ser tratado como dinossauro, outro como cavalo e mais uma como gato. Uma jovem estudante contou sobre a colega que “responde com miados quando o professor pergunta alguma coisa”.
É óbvio que todo mundo consegue ver a ligação entre os fatos: se cada um pode se identificar como pertencente ao gênero que quiser – mais de cem, e aumentando -, por que não pode dizer que se considera um gato e exigir ser tratado como felino?
No caso das ”identidades animais”, existe um complicador adicional. Há uma modalidade de fetiche sexual cujos participantes se denominam “furries”, ou peludinhos, como bichos de pelúcia ou animais de verdade. Usam fantasias para realizar suas fantasias. Teriam os casos de crianças que se identificam como bichos decorrido do vazamento de um fetiche pertencente ao mundo adulto?
“Os professores deveriam se perguntar o quê essas crianças estão vendo online”, disse ao Telegraph a integrante de uma organização de mães, Tracy Shaw. “De que grupos estão participando online? O que está acontecendo na casa delas? O que está acontecendo na vida da criança e quem mais está envolvido?”.
O nível de insanidade social está alto. Por medo de parecerem preconceituosos ou transfóbicos, muitos preferem se calar mesmo quando é considerado aceitável que crianças miem na sala de aula e tratamentos hormonais ou cirúrgicos, como tirar seios, úteros, pênis e testículos, com consequências para a vida toda, são prescritos para jovens certamente sem condições de avaliar seu alcance.
Acatar e respeitar a todos não significa adesão incondicional à identidade alegada, sem levar em consideração toda a constelação de eventos psicológicos e sociais envolvidos.
Jovens como Layla James estão mostrando que a conta pode ser alta. O custo das indenizações também, mas este é o menor de todos.
Fonte: Veja