O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou, neste domingo, 28, invadir Israel, em meio à guerra entre as Forças de Defesa de Israel (FDI) e o Hamas na Faixa de Gaza. No norte, o Hezbollah também tem realizado ataques em território israelense.
“Assim como entramos em Karabakh e na Líbia, faremos o mesmo com Israel”, disse Erdogan durante uma reunião do Partido da Justiça e Desenvolvimento, referindo-se à disputa de Nagorno-Karabakh e à Líbia, que tiveram a colaboração de forças turcas.
Em resposta, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, comparou o presidente turco ao ditador do Iraque, Saddam Hussein, que comandou o país entre 1979 e 2003.
“Erdogan está seguindo o caminho de Saddam Hussein e ameaça atacar Israel”, declarou Katz no Twitter/X. “Ele deveria apenas lembrar o que aconteceu lá e como tudo terminou.”
Em 2003, durante incursão norte-americana no Iraque, em meio à Segunda Guerra do Golfo, depois dos ataques de 11 de setembro, Hussein foi capturado em 13 de dezembro. No dia 30 daquele mês, morreu, condenado à morte por um tribunal iraquiano.
O último dos ataques do Hezbollah a Israel ocorreu no vilarejo druso de Majdal Sham, quando, no sábado 27, um foguete lançado desde o Líbano matou 12 crianças e deixou mais de 30 pessoas feridas.
“O Hezbollah é o maior exército terrorista do mundo e essa ameaça ao Estado de Israel não pode continuar”, disse o porta-voz das FDI, o brasileiro Rafael Rosenszajn, em vídeo feito no campo de futebol atingido pelo foguete.
“Vamos fazer o que for necessário para garantir que nossos civis voltem para casa em segurança, seja de uma forma diplomática ou se necessário de uma forma militar, estamos prontos para isso”, completou, em outro trecho do depoimento, sobre os mais de 60 mil civis que tiveram de deixar suas casas depois de 7 de outubro, em função dos mísseis lançados pelo Hezbollah.
Depois de décadas em busca de conciliação com o Ocidente, a Turquia, que é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), passou a praticar uma política de aproximação com forças árabes e de equilíbrio de poder com a Rússia.
Enviou, em 2020, forças para atuar no conflito entre azeris e armênios pelo enclave de Nagorno Karabakh, no Azerbaijão, de maioria armênia. A Turquia tem envolvimento com a região do Cáucaso desde os tempos do Império Otomano, que, desmembrado, acabou dando origem ao país em 1923.
Tanto os otomanos quanto o Império Russo, de maioria cristã-ortodoxa, buscavam controlar áreas onde atualmente estão a Armênia e o Azerbaijão. Com a derrocada do Império Otomano, depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Turquia perdeu a influência em regiões, mas manteve a ligação étnica com os azeris (etnia do Azerbaijão).
E, em 2020, se inseriu no contexto local para competir com os russos, de quem a Turquia diminuiu a compra de gás natural. Boa parte deste produto, agora, vem do Azerbaijão. No conflito, os turcos acabaram se tornando mediadores do armistício que manteve uma área considerável da região sob controle de Baku (capital do Azerbaijão), o que era de interesse turco.
Na Líbia, que entrou em guerra civil depois da queda do ditador Muamar al Kadafi (2011), o interesse da Turquia são as saídas para o mar. Isso em uma região próxima, que desde meados do século 20 a incomodou por estar sob controle ocidental, no caso da Itália, cuja maioria é católica.
Em 2019, Erdogan assinou memorando para cooperar com o Governo de Unidade Nacional da Líbia e enviou tropas para das suporte ao grupo no país, contra os concorrentes do Exército Nacional Líbio.
O interesse de Erdogan também é decorrente do trecho do documento assinado, que permite a extensão das fronteiras marítimas da Turquia para as costas de Derna e Tobruk, o que, por meio do Mediterrâneo, lhe daria acesso ao norte da África.
Império Otomano controlou a área onde está Israel
O discurso do presidente turco também tem relação com o histórico do Império Otomano na antiga região da Palestina, controlada pelos otomanos até o fim da Primeira Guerra.
Os ingleses dominaram a região entre 1920 e 1948, um ano depois da Partilha da Palestina, aprovada pela .
Já em 1948, Israel, que venceu a guerra contra países árabes contrários à partilha, declarou a fundação de seu Estado, também aprovado pela ONU.
As declarações de Erdogan, porém, têm muito mais um caráter de retórica, para manter sua popularidade entre os turcos, de maioria muçulmana, do que de concreto, segundo análise do The jerusalem Post.
Isto porque a Turquia é membro da Otan e, de acordo com as diretrizes do órgão, não teria como intervir militarmente no conflito entre as FDI e o Hezbollah. No entanto, Erdogan ainda sonha com a volta do Império Otomano, assim como Vladimir Putin deseja o retorno do Império Russo.
Fonte: revistaoeste