Don Ernesto havia completado 70 anos e, após sofrer um pequeno derrame que enfraqueceu suas pernas e braços, sua filha Carmen decidiu contratar alguém para ajudá-lo em casa.
María, uma jovem de 25 anos vinda de uma pequena cidade, humilde, discreta e respeitosa, foi escolhida para o trabalho.
Durante seis meses, ela cuidou de Don Ernesto com dedicação: ajudava-o a levantar-se todas as manhãs, preparava sua aveia e os remédios, o acompanhava ao jardim à tarde e massageava suas pernas à noite enquanto contava histórias de sua aldeia.
Graças a esses cuidados, Don Ernesto recuperou gradualmente a disposição e o sorriso, e todos os vizinhos elogiaram Carmen por ter encontrado a pessoa certa.
Em uma manhã de junho, ao voltar do mercado, Carmen encontrou María no corredor, pálida e trêmula, segurando um teste de gravidez. Ao ver duas linhas vermelhas, Carmen ficou furiosa.
— María! Você tem apenas 25 anos, está aqui há seis meses… e já está grávida? Quem é o pai?
María permaneceu em silêncio, e Carmen temeu que fosse seu próprio pai. Horrorizada, questionou:
— Não me diga que foi o meu pai… é impossível, ele já tem 70 anos!
Com lágrimas nos olhos, María negou e pediu que Carmen não pensasse nisso.
Carmen pressionou a jovem:
— Fale agora ou volte para sua cidade!
Então, de joelhos e emocionada, María revelou:
— O pai é o seu marido.
Carmen ficou em choque. María explicou que, durante uma viagem de Carmen, o marido, bêbado, a forçou.
Entre a raiva, a vergonha e a dor, Carmen sentiu também compaixão pela jovem:
— Por que não me contou antes?
— Tinha medo de ser despedida e de entristecer Don Ernesto. Pensei em ir embora e criar o bebê sozinha.
Assustado com os gritos, Don Ernesto saiu do quarto apoiado na bengala. Ao ouvir a situação, emocionou-se profundamente e disse a María:
— Mesmo sem pai, fique aqui. Eu cuidarei do bebê como se fosse meu.
Carmen, embora consciente de que seu casamento havia terminado, não conseguiu expulsar a jovem. O bebê não tinha culpa e precisava de amor.
Carmen entrou com pedido de divórcio contra Ricardo. María permaneceu na casa, cuidando de Don Ernesto até o nascimento da criança. O idoso aconselhou sua filha:
— Não importa a culpa, o bebê não deve pagar por isso. Que cresça cercado de amor.
Todas as noites, María continuava a massagear as pernas de Don Ernesto, agora grávida.
O velho colocava a mão sobre sua barriga e sussurrava palavras de carinho ao bebê que estava por nascer.
O verão terminou, e um outono sereno chegou, mostrando que a bondade de um homem de 70 anos conseguiu proteger e transformar a vida de uma jovem trabalhadora e de seu filho.
Mesmo diante da dor, da traição e da injustiça, a compaixão pode surgir.
Don Ernesto nos lembra que os inocentes, como uma criança prestes a nascer, não devem carregar culpas alheias.
O amor e a bondade têm o poder de transformar situações trágicas em esperança.
Fonte: curapelanatureza