Sentados Ă mesa de reuniĂŁo, lĂderes empresariais tomam decisĂ”es institucionais, financeiras, sobre mercados, produtos. Uma cena corriqueira na vida de muitas pessoas, mais um dia comum. Mas, cada vez mais, estamos tentando mostrar que, sentados Ă essa mesa, historicamente, em sua grande maioria estĂŁo homens. Em 2023, pela primeira vez na histĂłria, mulheres CEOs lideram cerca de 10% das empresas da Fortune 500, lista das maiores companhias dos EUA por receita. Vibramos com esse nĂșmero. Chegamos a 10%.
Por anos, as mulheres vĂȘm pleiteando um lugar nessa mesa, estudando e se preparando para isso. Segundo a pesquisa âEstatĂsticas de GĂȘnero: indicadores sociais das mulheres no Brasilâ do IBGE, no grupo com 25 anos ou mais de idade, 19,4% das estudantes mulheres tinham ensino superior completo, contra 15,1% dos homens. Na faixa etĂĄria de 45 a 54 anos, 19,4% das mulheres tinham nĂvel superior contra apenas 13,8% dos homens com a mesma titulação.
âUma mulher tem que ocupar o lugar de liderança por mĂ©ritoâ, Ă© o que ouvimos com frequĂȘncia ao abordar esse assunto. Pois nĂŁo, um relatĂłrio The Ready-Now Leaders da Ong Conference Board mostra que as organizaçÔes com pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança tĂȘm 12 vezes mais chance de estar entre as 20% melhores em desempenho financeiro.
Esse dado quebra o paradigma de que existe um jeito certo de liderar (o jeito dos homens). NĂŁo Ă© porque a forma que mulheres lideram Ă© diferente, que ela seja pior ou errada. Uma pesquisa liderada por Cindy Adams, presidente e CLO (Chief Learning Officer) da Leadership Circle, mostra uma anĂĄlise cientificamente validada que mede âcompetĂȘncias criativasâ e âtendĂȘncias reativasâ na liderança. Os comportamentos dos lĂderes criativos decorrem de seus valores e propĂłsitos, e nĂŁo de um conjunto de suposiçÔes sobre como os lĂderes devem se comportar.
Mesmo assim, mesmo que com mais formação, resultados evidentes e vontade, o nĂșmero de mulheres em cargos de liderança cresce lentamente.
âDeus me livre de mulher CEOâ. Eis que vem Ă tona o que, infelizmente, muitos pensam. NĂŁo Ă© sobre meritocracia. Nossa sociedade patriarcal continua replicando o pensamento de que lugar de mulher Ă© cuidando da casa e da famĂlia. Pensamento que remonta ao Iluminismo, que moldou nossa sociedade com o conceito de que tudo o que Ă© masculino Ă© racional; tudo que Ă© racional diz respeito Ă produção; tudo que diz respeito Ă produção Ă© feito fora de casa, nos lugares apropriados para o trabalho.
Em paralelo, tudo que Ă© feminino Ă© emotivo; tudo que Ă© emotivo diz respeito Ă reprodução; tudo que diz respeito Ă reprodução Ă© feito em casa, que Ă© o lugar da famĂlia.
Ă um pensamento secular arraigado na alma da sociedade. Mas muitos, homens e mulheres, tĂȘm transformado isso. NĂłs lutamos pela sociedade dos âEâ.
NĂłs, mulheres, queremos e podemos criar nossos filhos e nossas famĂlias com amor e competĂȘncia E ocupar lugar de destaque no mercado de trabalho e nos tornarmos profissionais realizadas. Assim como os homens podem ocupar grandes posiçÔes profissionais E serem pais, maridos, filhos presentes e participativos na construção familiar. NĂŁo se trata de ser isso âOUâ aquilo. Podemos ser muitas coisas, mulheres e homens.
Estamos provando, como sociedade, que podemos quebrar essa barreira cultural e sermos melhores. NĂŁo Ă© por isso que todas as mulheres devem ou querem ser CEOs, nem lĂderes. As que escolhem cuidar de suas casas e filhos sĂŁo igualmente importantes, desde que sejam felizes e realizadas com isso.
Mas, Ă s que querem avançar em suas carreiras, nĂŁo cabe mais esse pensamento que remonta ao sĂ©culo XVIII. Agora, alĂ©m do poder da nossa energia feminina, temos tambĂ©m o poder da escolha: ser isso E aquilo. Desejo que todas as mulheres possam escolher chefes, companheiros e ambientes que as respeitem, as incentivem e as apoiem. E desejo que todos tenham vontade e sabedoria para entender essa nova sociedade, a sociedade dos âEâ.
Fonte: gazzconecta