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MST e ONGs promovem conferência alternativa em Belém devido aos altos preços de hotéis

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Organizações da sociedade civil, movimentos sociais, sindicatos e grupos indígenas estão organizando eventos paralelos e autônomos à Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que ocorrerá em Belém do Pará, entre 10 e 21 de novembro de 2025, por causa dos altos preços de hotéis que estão sendo praticados na cidade.

A crise dos altos preços das acomodações vem dificultando a participação de delegações oficiais dos países. Em agosto, 90% das delegações ainda não haviam conseguido garantir acomodações, segundo o secretariado da Convenção sobre Mudança Climática da ONU.

O problema também está afetando movimentos que apoiam o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) resolveu fazer um evento paralelo em São Paulo e movimentos indígenas vão recorrer a um grande acampamento em Belém para não precisar pagar diárias de hotéis.

O MST tem na agenda um ciclo de debates, a ser realizado no dia 25 de outubro, na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, no interior de São Paulo. O líder do movimento, João Pedro Stédile, também anunciou a realização de uma assembleia antes da COP 30 para cerca de mil pessoas na Avenida Paulista no domingo (16/11) da conferência.

No caso da Cúpula dos Povos, dos movimentos indígenas, que acontecerá em Belém entre 12 e 16 de novembro, os participantes vão ficar um acampamento que vai abrigar 3 mil pessoas. O espaço chamado de Aldeia COP, está sendo montado na Escola de Aplicação da UFPA (EAUFPA) em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas.

A gestão petista apostou na realização da COP30 na região amazônica e agora enfrenta uma conta que não fecha: a capital paraense tem uma rede hoteleira de cerca de 20 mil leitos, sendo que a expectativa de público para o evento internacional é de 50 mil pessoas. 

“É preciso mostrar pro mundo o que é a Amazônia e o que é o Pará. Não vai ser a COP do luxo, é a COP da verdade”, disse o presidente durante evento no dia 2 de outubro na Orla de Breves, no Pará. Ele também afirmou que durante os dias de conferência, não irá se hospedar em hotéis. “Vou dormir num barco”, disse o mandatário sem especificar que tipo de barco servirá como acomodação. 

Navios de luxo serão uma das alternativas de hospedagem durante a COP em Belém. O governo federal contratou navios de luxo para servir como hotéis flutuantes para adicionar pelo menos 6 mil leitos à rede hoteleira da capital paraense. Como mostrou uma reportagem da Gazeta do Povo, o governo deve gastar R$ 260 milhões com esses navios. 

Diante do problema da hospedagem e da barreira institucional da falta de espaço para manifestação e participação ativa de organizações não-governamentais (ONGs) e movimentos sociais, COPs paralelas podem movimentar o cenário da COP 30.  

Para analistas ouvidos pela reportagem, esse e outros fatores afastam o Brasil do protagonismo internacional na agenda ambiental pretendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu terceiro mandato. Os custos de hospedagem e barreiras institucionais frustram o esforço do governo de tentar ampliar o debate e garantir maior representação popular no espaço principal da conferência.

Assim como os diplomatas estrangeiros, ONGs e militantes de movimentos sociais têm reclamado do forte aumento no preço das diárias de hotéis, pousadas e outros serviços em Belém durante o evento.

O advogado ambiental, consultor estratégico e membro do Centro de Estudos Estratégicos da Iniciativa DEX, Antônio Fernando Pinheiro Pedro, destaca o paradoxo enfrentado pela Conferência.

“A COP da inclusão corre o risco de ser a menos inclusiva de todas. A escassez de acomodações e os preços exorbitantes estão empurrando delegações vulneráveis para fora do centro das negociações”, aponta Pinheiro Pedro ao observar que a conferência carrega a promessa de dar voz aos países mais afetados pelas mudanças climáticas. 

Diante da “inutilidade de Belém”, MST defende mobilização em todas as capitais 

Dentre as articulações de COPs paralelas, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) avalia realizar assembleias populares simultâneas em capitais de todos os estados nos dias da COP30. A declaração foi feita pelo líder nacional do movimento, João Pedro Stédile, durante um encontro com jornalistas no fim de setembro. O único evento confirmado até agora é o de São Paulo.

Os organizadores também discutem a distribuição de mudas de árvores aos participantes, em consonância com a campanha que já resultou no plantio de 40 milhões de árvores pelo MST. 

Segundo Stédile, além de debater pautas ambientais, a proposta de assembleias nos estados oferece uma resposta à “inutilidade de Belém”, onde, na visão de integrantes do MST, empresas e governos ficarão “isolados” do povo e alheios à pressão popular. 

Diante das declarações de Stédile, o advogado ambiental e consultor estratégico Antônio Fernando Pinheiro Pedro aponta que pela primeira vez “concorda integralmente” com o líder do MST.

“O circo do Pará foi montado para ter no picadeiro Marina Silva e seu discurso globalista e entreguista. Enquanto proibimos a exploração do petróleo na costa do Amapá, a França retira o nosso petróleo pela Guiana. A França, que reclama de nós o cumprimento do Acordo de Paris, e cujo presidente passeia com Lula de mãos dadas na nossa floresta”, disse Pinheiro Pedro ao relembra a visita do presidente da França Emmanuel Macron à Amazônia em março de 2024. 

“A COP 30 deveria ser o palco onde os invisíveis ganham protagonismo. Mas se os mais afetados não puderem estar lá, o evento corre o risco de se tornar mais uma vitrine para discursos vazios, longe da realidade de quem vive o colapso climático na pele”, completou Pinheiro Pedro.

Para o engenheiro agrônomo e ex-deputado federal Valdir Colatto, o governo Lula também está excluindo o agro dos debates. “Esse governo é ditatorial. Não ouve ninguém. A COP 30 poderá inviabilizar a agricultura brasileira, dificultando ainda mais a atividade do agro com exigências ambientais que o Brasil não poderá cumprir. Esse evento é apenas palco para a ministra Marina Silva”, disse Colatto.

Na visão do ex-deputado, o governo Lula não deve levar a Belém a realidade e as ações do agro que preservam o meio ambiente com leis rígidas como o Código Florestal, com o plantio direto e com a integração agropecuária e florestas, por exemplo.

Cúpula dos Povos deve reunir denúncias e ser espaço crítico à COP oficial

A “Cúpula dos Povos pela Justiça Climática”, integrada por indígenas que acamparão em Belém, é uma das COPs paralelas que deve protagonizar um papel crítico diante da COP30. Ela será realizada entre 12 e 16 de novembro em Belém. Organizadores do evento apontam que 20 mil pessoas devem participar das atividades programadas. A Cúpula é formada por mais de mil organizações ambientalistas, indígenas e movimentos sociais. 

De acordo com os organizadores, o evento paralelo é articulado para pressionar por justiça climática de fato, com propostas de reforma agrária, proteção territorial e combate ao racismo ambiental, evidenciando o abismo entre o discurso oficial e a urgência das demandas populares. 

Lideranças dos movimentos que devem compor a Cúpula têm feito críticas ao distanciamento das instâncias diplomáticas em relação às realidades da Amazônia.

Em artigo publicado no site do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Cleidiane Vieira, da coordenação nacional do movimento, explicou que a Cúpula é um espaço popular e crítico à COP oficial.

“A avaliação do MAB é que é preciso aproveitar o momento em que o mundo estará com os olhos voltados para o Brasil e para a Amazônia, para denunciar esse modelo de transição energética que não interessa às populações e territórios. Queremos aprofundar e expor as contradições que este modelo está trazendo para a crise climática, e como ela está mudando a vida dos atingidos por barragens, com cheias e secas extremas de norte a sul do país”, afirmou Cleidiane. 

A Gazeta do Povo questionou a organização do evento sobre como será acomodado o público esperado, estimado em 20 mil pessoas, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria. 

Fonte: gazetadopovo

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