Saúde

Modulação Hormonal: Descubra se Realmente Funciona!

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Muitos são os méritos dos nossos hormônios. Peso, altura, desenvolvimento sexual, metabolismo, sono… Tudo isso e muito mais é regulado por essas substâncias – moléculas mensageiras que saem principalmente das glândulas do sistema endócrino (como tireoide, hipófise e pâncreas) e viajam pela corrente sanguínea.

Ao passarem pelos órgãos, os hormônios se conectam a células especializadas, como chaves em fechaduras. Se rolar o encaixe, a célula obedece à sinalização da molécula. É um sistema muito complexo e delicado, responsável pelo funcionamento do nosso corpo inteiro. 

Há quem afirme, no entanto, que manipular a quantidade de hormônios no organismo pode ser uma verdadeira panaceia. É a tal “modulação hormonal”, e ela vem junto de uma série de promessas: perda de peso, aumento da libido, melhora no humor e na disposição, diminuição do envelhecimento, entre muitas outras coisas. 

Tudo isso, porém, sem nenhuma evidência científica, o que não impediu que esse uso indevido dos hormônios virasse uma febre nos últimos anos, tornando-se um mercado lucrativo.

Esteroides anabolizantes (a famosa “bomba” dos marombeiros), “métodos antiaging” (“antienvelhecimento”) e “chips de beleza” foram difundidos nas redes sociais por influencers e até mesmo por médicos formados, ao mesmo tempo que encontraram resistência de órgãos regulatórios e associações da área da saúde. 

Em abril de 2023, o Conselho Federal de Medicina, que fiscaliza as práticas médicas do País, vetou a prescrição de terapias hormonais com fins estéticos ou de desempenho esportivo. Já a Anvisa, em novembro de 2024, chegou também a proibir implantes hormonais usados para fins estéticos e de performance, caso dos “chips”. 

Isso porque esses protocolos hormonais representam sérios riscos à saúde – desde problemas como acne, crescimento de pelos e queda de cabelo até sintomas mais graves como aumento na mortalidade, dependência, alterações no humor e riscos cardiovasculares. 

Existe “modulação hormonal”? 

De acordo com o presidente do departamento de Endocrinologia do Exercício e Esporte da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Clayton Macedo, o termo “modulação hormonal” não é reconhecido pela medicina. “O que a gente tem da ciência é a ‘reposição hormonal’ em pacientes que têm deficiência de hormônio”, ele afirma. 

É o que acontece, por exemplo, quando uma mulher entra na menopausa, fase da última menstruação, em que o corpo reduz drasticamente a produção dos hormônios estrogênio e progesterona. Nesse caso, ele diz, “a gente faz uma terapia hormonal da menopausa. Aí pode repor o estrogênio, sempre respeitando as contraindicações e as indicações”.

Para esses tratamentos, no entanto, é necessária muita cautela. O sistema endócrino, do qual os hormônios participam, é delicado e varia bastante de pessoa para pessoa. De acordo com a endocrinologista Maria Edna de Mello, do Hospital das Clínicas de São Paulo, cada corpo tem seu próprio “ponto ótimo” de equilíbrio dos hormônios. 

“Algumas pessoas precisam de menos, outras de mais e por isso que alguns alguns indivíduos têm valores que são mais baixos e outros que são mais altos. Isso é algo individual. Então, não é só o valor do laboratório que a gente trata. A gente tem que tratar a clínica também”, afirma a especialista. 

Ela relata que muitos pacientes, principalmente usuários de anabolizantes, procuram seu consultório em busca de uma dose segura, o que, como ela coloca, “não existe”, porque “cada paciente responde de um jeito”. 

 

Quais são os riscos? 

Macedo explica que mexer demais com esse equilíbrio pode afetar a própria produção de hormônios feita pelo corpo. “O nosso organismo é muito bem regulado, quando falta um hormônio, ele tenta estimular [a produção]. Agora se você oferece por fora, ele bloqueia a produção interna”, ele diz. Isso causa uma deficiência hormonal que pode causar uma dependência aos hormônios aplicáveis. 

Além disso, as terapias hormonais vêm atreladas a uma série de riscos. De acordo com um estudo publicado em 2024 na revista científica JAMA Network, o uso de esteroides anabolizantes (principais hormônios utilizados nesses protocolos) aumenta a mortalidade por todas as causas em cerca de três vezes. 

Já segundo dados do site Vigicom Hormônios, criado SBEM para monitorar os efeitos adversos desses tratamentos, no final de 2024, eles já haviam causado duas mortes e 257 complicações médicas, dentre elas casos de hipertensão, AVCs e infartos. 

Segundo de Mello, nos consultórios, já é rotina ver pacientes usuários de anabolizantes que “já vem com um AVC, uma sequela de AVC, ou infarto, ou então caso de agressão familiar, caso de violência”. De fato, hormônios derivados da testosterona podem ter efeitos psicológicos, principalmente em pessoas que já apresentam alguma predisposição, como depressão, crises psicóticas, aumento do risco de suicídio e maior irritabilidade e agressividade, além da síndrome de abstinência que pode surgir quando o protocolo é interrompido. 

A tal “modulação hormonal”, no fim das contas, acaba não sendo um método saudável de mudar o corpo. “É uma área que ela até já teve um apogeu maior. Agora o pessoal migrou para implante hormonal, para soroterapia”, analisa Macedo. E, ao que parece, a indústria dos hormônios continua firme e forte, afinal, a demanda continua por aí. “Hoje existe um culto ao corpo perfeito, existe essa promessa e as pessoas muitas vezes procuram atalhos. Hoje, o hormônio é a bola da vez”, ele diz.

 

Fonte: abril

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