📝RESUMO DA MATÉRIA
- Micróbios encontrados em itens do cotidiano, como chuveiros e escovas de dente, melhoram a saúde ao formar comunidades microbianas diversificadas que oferecem proteção.
- Chuveiros e escovas de dente são o lar de várias comunidades microbianas, incluindo bactérias e vírus, que ajudam a manter um ecossistema equilibrado.
- Os bacteriófagos, vírus que infectam bactérias, são fundamentais na formação dessas comunidades, regulando as populações bacterianas e promovendo a diversidade.
- Compreender as interações entre esses micróbios permite desenvolver estratégias de saúde mais eficazes, oferecendo novas formas de combater infecções bacterianas e melhorar práticas de saneamento.
- Pesquisas recentes descobriram novas interações entre fagos e seus hospedeiros bacterianos em biofilmes domésticos, revelando uma alta diversidade de fagos até então desconhecidos.
🩺Por Dr. Mercola
Microbiomas domésticos são comunidades de microrganismos que vivem em superfícies e ambientes dentro da sua casa. De acordo com uma pesquisa recente publicada na revista Frontiers in Microbiology, algumas superfícies e ambientes de sua casa abrigam comunidades diversificadas de bacteriófagos.
Chuveiros e escovas de dente são mais proeminentes nesse caso, pois funcionam como habitats contínuos para esses micróbios, formando comunidades que se aglomeram, chamadas de “biofilmes”, onde se desenvolvem. Os micróbios encontrados nessas superfícies possuem um papel crucial no equilíbrio entre bactérias benéficas e nocivas em sua casa, e podem ter consequências para a sua saúde e bem-estar.
As interações entre fagos e bactérias em itens domésticos podem inibir bactérias patogênicas e criar um ambiente mais saudável. Além disso, essas descobertas questionam a visão tradicional de micróbios como apenas invasores nocivos, destacando como podem salvar vidas.
Como os microbiomas internos afetam nossa saúde
Ambientes internos possuem um papel relevante na saúde humana, devido às complexas comunidades de microrganismos que abrigam. As pesquisas têm mostrado que sua casa, ambiente de trabalho e espaços públicos estão repletos de bactérias e vírus que influenciam seu bem-estar. No entanto, a maioria dos estudos se concentrou nas populações bacterianas, muitas vezes ignorando as contrapartes virais que coexistem com elas.
Bacteriófagos, ou fagos, são inimigos naturais das bactérias; são vírus minúsculos, com aparência de tripé, que infectam bactérias. Esses fagos caçam, atacam e consomem espécies bacterianas, sendo essenciais para a regulação das populações de bactérias patogênicas.
Os fagos aumentam a diversidade microbiana ao controlar quais bactérias sobrevivem e quais são eliminadas. A dinâmica entre fagos e suas bactérias hospedeiras mostra como as comunidades microbianas mantêm o equilíbrio e evitam a proliferação excessiva de bactérias nocivas. Além disso, o avanço no conhecimento sobre as interações entre fagos em biofilmes domésticos possibilita o desenvolvimento de abordagens inovadoras em saúde e saneamento.
Ao explorar essas comunidades virais, os cientistas buscam novas formas de estimular micróbios benéficos e inibir patógenos, melhorando a limpeza e a segurança dos ambientes do cotidiano. Esta pesquisa preenche uma lacuna importante, oferecendo informações que podem transformar o modo como gerenciamos ecossistemas microbianos internos para melhorar os resultados de saúde.
Revelando guardiões escondidos em seu banheiro
Para testar sua hipótese, os pesquisadores usaram o sequenciamento metagenômico, uma técnica poderosa que decifra material genético de amostras ambientais. Ao analisar 34 amostras de escovas de dente e 92 de chuveiros, eles buscaram identificar e caracterizar as populações virais presentes.
Os resultados foram impressionantes: surgiu uma vasta diversidade de novos fagos, muitos nunca documentados antes. Os pesquisadores identificaram um total de 616 unidades taxonômicas operacionais virais (vOTUs) de alta qualidade em biofilmes de amostras de chuveiros e escovas de dente. Essas vOTUs representam grupos distintos de bacteriófagos, cada um interagindo com hospedeiros bacterianos específicos.
O número expressivo de sequências virais únicas evidencia a complexidade e riqueza das comunidades virais em itens domésticos do dia a dia. Erica M. Hartmann, microbiologista de ambientes internos e autora principal do estudo, afirmou:
“O número de vírus que encontramos é absolutamente incrível. Encontramos muitos vírus sobre os quais sabemos muito pouco e outros tantos que nunca havíamos visto antes. A quantidade de biodiversidade inexplorada que está ao nosso redor é fascinante. E você nem precisa ir muito longe para encontrá-la; ela está bem debaixo do nosso nariz”.
Essas descobertas iniciais não só evidenciaram a complexidade dos microbiomas internos, como também abriram caminho para investigações mais aprofundadas sobre como esses fagos influenciam as populações bacterianas.
Chuveiros e escovas de dente possuem tipos distintos de fagos
O estudo em questão tem origem em uma pesquisa anterior, também liderada por Hartmann e seus colegas da University of Colorado, publicada no periódico Microbiome em 2021. Na chamada “Operation Pottymouth”, os pesquisadores identificaram como a descarga de vasos sanitários espalha bactérias para escovas de dente e chuveiros.
“Este projeto começou como uma curiosidade. Queríamos saber quais micróbios vivem em nossas casas. Pensando em ambientes internos, superfícies como mesas e paredes são bem difíceis para os micróbios viverem. Micróbios preferem ambientes com água. E onde tem água? Dentro dos nossos chuveiros e nas nossas escovas de dente”.
No estudo mais recente, Hartmann e sua equipe descobriram que as comunidades virais em chuveiros e escovas de dente são distintas entre si. Nenhuma vOTU foi encontrada em todas as amostras, e os fagos mais abundantes variaram entre os dois itens domésticos. Essa distinção reflete os ambientes especializados que cada item oferece.
Chuveiros, que têm contato direto menos frequente com humanos, abrigam fagos associados a bactérias ambientais, como as provenientes de fontes de água. Por outro lado, as escovas de dente são expostas ao microbioma oral humano e contêm fagos associados a bactérias orais, como Streptococcus e Veillonella. É provável que esses fagos ajudem a manter um microbioma equilibrado que evita o crescimento excessivo de espécies patogênicas.
Isso significa que, mesmo dentro da mesma casa, diferentes itens cultivam ecossistemas virais únicos. A ausência de vOTUs compartilhadas entre chuveiros e escovas de dente destaca a importância das condições ambientais específicas e das fontes microbianas na formação das comunidades virais.
Outra descoberta significativa do estudo é a correlação positiva entre a riqueza viral e a riqueza bacteriana em biofilmes domésticos. Isso indica que áreas com maior variedade de espécies bacterianas também tendem a apresentar maior diversidade de bacteriófagos.
O interessante é que embora a riqueza viral tenha relação com a riqueza bacteriana, a abundância de fagos entre essas espécies não segue o mesmo padrão. Em resumo, ter mais tipos de bactérias leva a mais tipos de fagos, mas isso não significa necessariamente que os fagos estejam distribuídos de maneira uniforme entre todos os hospedeiros bacterianos.
Essas descobertas destacam como cada ambiente microbiano em sua residência é único, determinado por fatores como o uso e a exposição a diferentes fontes bacterianas.
“Existe uma enorme diversidade microbiana. E cada bactéria pode ser infectada por dezenas, centenas ou até milhares de vírus”, disse Hartmann.
Novos fagos descobertos em microbiomas domésticos
Outra descoberta relevante dessa pesquisa é a identificação de vários fagos novos, que podem ter funções e interações únicas ainda não compreendidas. A presença desses novos fagos sugere que os microbiomas domésticos têm uma diversidade muito maior do que se pensava.
Uma terceira revelação interessante foi a presença de micobacteriófagos nas amostras de chuveiro. Esses vírus têm como alvo específico espécies de Mycobacterium, sendo algumas delas patogênicas para humanos, indicando um mecanismo natural de controle de bactérias nocivas nesses ambientes.
Isso pode indicar que os fagos funcionam como agentes biológicos que controlam e reduzem a presença de bactérias patogênicas, melhorando a higiene no ambiente doméstico e reduzindo o risco de infecções.
Os pesquisadores não encontraram evidências de resistência a antibióticos ou genes de virulência prejudiciais nos fagos identificados. Essa descoberta é reconfortante, pois significa que esses fagos domésticos não transmitem características nocivas às bactérias. Eles apenas controlam as populações bacterianas, sem introduzir novas ameaças.
Esses fagos também podem ser utilizados em aplicações futuras de biotecnologia, como a terapia por fagos, ajudando a eliminar bactérias prejudiciais específicas sem o risco de aumentar a resistência a antibióticos.
“Existe o interesse em desenvolver medicamentos mais sofisticados que não destruam todo o microbioma, como fazem os antibióticos de amplo espectro, mas que atinjam apenas os patógenos, mantendo o restante do microbioma intacto”, disse Hartmann.
Como essas descobertas impactam a sociedade atual?
A presença de bacteriófagos salva-vidas em itens domésticos como chuveiros e escovas de dente traz grandes repercussões para a saúde pública. Ao controlar de forma natural as populações bacterianas, esses fagos ajudam a diminuir a presença de bactérias nocivas, reduzindo o risco de infecções e doenças em sua casa.
Outro ponto positivo é o desenvolvimento de novas estratégias de saneamento que aproveitam ao máximo os fagos. Isso pode ajudar, por exemplo, a descobrir métodos que eliminem a necessidade de usar desinfetantes químicos que prejudicam micróbios benéficos.
Entender as relações complexas entre fagos e bactérias também contribui para criar ambientes que favorecem comunidades microbianas benéficas. Como exemplo, materiais e superfícies que auxiliam no crescimento de fagos benéficos podem ser incorporados em projetos residenciais, oferecendo mecanismos naturais de defesa contra patógenos sem o uso de produtos químicos.
O setor de biotecnologia também pode usufruir dessas descobertas, abrindo caminho para terapias e produtos baseados em fagos, como agentes de limpeza direcionados e tratamentos médicos. É importante ressaltar que soluções baseadas em fagos podem ser implementadas em unidades de saúde para minimizar o risco de infecções hospitalares e reduzir o uso de antibióticos.
Como aproveitar os microbiomas que salvam vidas em sua casa
A descoberta de micróbios salva-vidas em itens domésticos do dia a dia, como chuveiros e escovas de dente, representa uma mudança significativa na nossa percepção sobre ambientes internos. Essa pesquisa revela o papel complexo e vital que os bacteriófagos desempenham na manutenção de ecossistemas microbianos saudáveis dentro de nossas casas.
Ao adotar práticas que favorecem o microbioma em sua rotina de limpeza diária, você ajudará os micróbios benéficos a prosperarem. Mudanças pequenas, como o uso de produtos de limpeza naturais e não tóxicos, e a secagem completa de chuveiros e escovas de dente, ajudam a manter um melhor equilíbrio entre fagos e bactérias.
O uso de filtros de ar e água domésticos exerce grande influência sobre os microbiomas internos. A instalação de um filtro de água de alta qualidade limita a presença de bactérias ambientais nos chuveiros, permitindo que fagos benéficos controlem as populações bacterianas de forma mais eficaz. Da mesma forma, purificadores de ar com filtros microbianos reduzem as bactérias transportadas pelo ar, promovendo a estabilidade do microbioma interno.
“Os micróbios estão em todos os lugares o tempo todo … Não seríamos capazes de digerir nossos alimentos ou evitar infecções sem nossos micróbios”. Afirmou Hartmann.
“Embora possamos reagir com um pouco de repulsa logo no início, acho muito importante abordar o mundo microbiano com um olhar de admiração e curiosidade, pois eles fazem muito bem e podem ter um grande valor para a biotecnologia”.
Fonte: mercola