Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ressaltou o papel fundamental da instituição no incentivo à pesquisa e à inovação nos países do Sul Global durante a cúpula do Brics, realizada nos dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro. Ele enfatizou a relevância dos bancos de desenvolvimento para reconstruir ações multilaterais e fortalecer o novo marco regulatório das relações financeiras internacionais.
Segundo Mercadante, é essencial repensar a relação entre Estado e mercado para enfrentar a crise global atual. “Não temos modelos a copiar. Somos uma nação com muita história, mas precisamos construir um caminho próprio para superar a erosão das instituições multilaterais e do direito internacional”, declarou. Ele também sublinhou a necessidade de o Sul Global ter papel ativo na criação de um novo pacto entre as nações, defendendo o respeito mútuo e evitando visões unipolares e autoritárias.
Em relação à China, Mercadante afirmou que o Brasil valoriza a parceria estratégica dentro do Brics. “Se tem gente no planeta que se incomoda com o êxito da experiência do crescimento da China, não é o Brasil”, reforçou.
O embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, também participou do seminário e criticou medidas unilaterais e protecionistas, destacando o compromisso do Brics com a paz, o desenvolvimento e o multilateralismo.
Durante o evento, Mercadante divulgou que o edital do BNDES, em parceria com a Finep, para atrair ou expandir centros de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PD&I) no país, recebeu 618 propostas, totalizando R$ 57,4 bilhões em investimentos pleiteados. O orçamento inicial é de R$ 3 bilhões, mas o banco informou que pretende apoiar todos os projetos de qualidade.
Entre as propostas, 368 visam exclusivamente à implantação de novos centros de pesquisa, com R$ 37,8 bilhões em investimentos previstos. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste concentram 201 propostas, somando R$ 16,1 bilhões. Os projetos incluem a contratação de mais de 4.500 mestres, 2.700 doutores e 28 mil profissionais qualificados.
Mercadante defendeu o papel do Estado para viabilizar a inovação, afirmando que o risco inerente ao processo demanda participação pública. “Nós queremos parceria com o setor privado e o mercado de capitais, mas o mercado não resolve tudo. Inovação é risco. Sem o Estado para assumir parte desse risco, você inibe o processo de inovação”, pontuou.
Os centros de PD&I englobam desde pesquisa básica até testes, validação e cooperação com universidades. Mercadante destacou que a aproximação entre academia e produção é estratégica para melhorar a pauta de exportações e o desenvolvimento econômico. O BNDES reforçou que, internacionalmente, incentivos governamentais são essenciais para atrair centros de pesquisa de empresas multinacionais, citando exemplos de China, Índia, Japão e Reino Unido.
O Brics reúne países que representam 39% da economia mundial e 23% do comércio global. Em 2024, o bloco foi destino de 36% das exportações brasileiras e origem de 34% das importações do país.
Fonte: cenariomt