Capturas de tela mostram a troca de mensagens entre o motorista que entregou o pacote com R$ 10 mil em espécie no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) e a pessoa que estava se passando pelo presidente da corte, o desembargador José Zuquim Nogueira. A conversa revela a negociação entre as partes para realizar a entrega, que acabou nas mãos de uma oficial de segurança da sede do Poder Juadiciário.
O caso veio à tona na noite dessa quarta-feira (13), quando Zuquim gravou um vídeo expondo estar “estarrecido” com a situação, pois não sabia a origem do pacote de dinheiro. Isso porque, ao interceptar o pacote, a oficial de segurança notou que a encomenda parecia ter sido enviada a um remetente desconhecido, pelo próprio desembargador.
As capturas de tela mostram o que parece ser o início do contato entre o motorista que realizou a entrega e a pessoa que estaria se passando pelo desembargador. Por volta das 18h, a figura que se passa por Zuquim e orienta: “quando chegar no destino é só comunicar que retirada do pedido do magistrado (sic)”.
O motorista concorda e pergunta se o pagamento será realizado no PIX, mas a pessoa responde dizendo que será em dinheiro. Poucos minutos depois, ele informa que chegou ao local e pergunta para o perfil falso com quem deve falar, ao que ele responde: “Eduardo” – que a Polícia Civil descobriu se tratar de Eduardo Soares de Moraes, sargento do Batalhão de Rondas Ostensivas (Rotam).
O entregador pega o pacote de dinheiro com Eduardo e parte para a sede do Poder Judiciário. Lá, ele envia outra mensagem ao suposto desembargador e pergunta com quem deve deixar o pacote e recebe como resposta: “Tribunal de Justiça”. Ele questiona novamente quem é o destinatário e, como resposta, a pessoa diz que seu aparelho celular está descarregando e encaminha outro número para que o motorista faça contato.
Então, o entregador informa que já chegou ao local e questiona porque a pessoa que deve receber o pacote não pode ir até ele. Por fim, como ninguém apareceu para retirar a encomenda, ele entregou a um policial militar na guarita, que repassou para a oficial de segurança. Quando a major questiona quem seria o remetente, teve como resposta “Zuquim”.
A pessoa que conversava com o entregador utilizava não só seu nome completo, mas também sua foto no perfil do aplicativo.
Sargento da Rotam
Em depoimento, o sargento Eduardo afirmou que, na verdade, estava fazendo um favor para a ex-esposa do PM Jackson Pereira, preso por suposto envolvimento no assassinato do advogado Renato Nery, ocorrido em julho de 2024. Segundo ele, ficou próximo do policial, que também já fez parte da Rotam, quando ele ficou preso no Batalhão.
Então, nesta semana a ex-esposa de Jackson teria contatado Eduardo, pedindo que ele lhe pegasse em uma pousada em Cuiabá e a levasse até o Fórum de Cuiabá, depois até a rodoviária. O militar em atividade atendeu o pedido e, quando chegou ao local, parou no estacionamento. A mulher então, dizendo que falava com o advogado, passou alguns instantes em uma troca de mensagens.
Neste ínterim, o motorista que realizou a entrega da encomenda no TJ chegou ao local. A troca de mensagens com o entregador mostra inclusive a pessoa que se passava por Zuquim perguntando em qual carro ele estava e informando que outro veículo já estava no local, aparentemente à sua espera.
“Eduardo está no estacionamento”, diz a pessoa que se passa pelo desembargador.
“Ok”, responde o motorista.
“Renault Logan prata?”
“Sim.”
“Corolla prata. Farol ligado.”
“Ok”, responde o entregador.
PM envolvido em Caso Renato Nery
O cabo PM Jackson Pereira Barbosa é apontado pela Polícia Civil como principal intermediador da execução do advogado Renato Gomes Nery, cujos mandantes são o casal Julinere Goulart Bentos e Cesar Jorge Sechi. Existia um acordo entre ele e o casal, que previa uma promessa de recompensa no valor de R$ 200 mil.
Isto porque, Jackson, que era vizinho do casal em um condomínio no município de Primavera do Leste, ficou responsável por contratar os criminosos que executariam o crime.
A execução
Nery foi baleado na manhã do dia 05 de julho de 2024, em frente ao seu escritório, localizado na Av. Fenando Corrêa da Costa, em Cuiabá. Pelo menos um, de sete disparos, atingiu sua cabeça. Ele chegou a ser socorrido e passar por cirurgia, mas morreu no dia seguinte ao atentado. As investigações da Polícia Civil apontaram que Cesar e Julinere disputavam judicialmente uma área de terras com o advogado e acordaram com Jackson, que era vizinho da dupla em um condomínio de Primavera do Leste, a contratação das pessoas que executariam o crime.
Jackson, contratou o PM Heron Teixeira Pena Vieira, que acabou terceirizando a execução para seu caseiro, Alex Roberto de Queiroz Silva. O cabo também contatou Ícaro Nathan, que cedeu a arma usada para matar o jurista. Em contrapartida, o soldado da Rotam, integrava um suposto grupo de extermínio, por meio do qual tentou “despistar” a polícia, fazendo que com as investigações caminhassem em direção contrária aos reais mandantes.
Faziam parte do grupo de Ícaro: o 3º Sargento Leandro Cardoso, o soldado Wekcerlley Benevides de Oliveira, o cabo Wailson Alessandro Medeiros Ramos e o sargento Jorge Rodrigo Martins. Estes quatro simularam um confronto onde foi inserida propositalmente a arma utilizada para matar o advogado.
Fonte: unicanews