Você já ouviu falar na autotransfusão de sangue? É uma técnica que usa o sangue do paciente para tratamento pós-cirúrgico. Um estudo conduzido por um médico em Campo Grande aponta que esse método auxilia na recuperação do paciente após cirurgias.
O equipamento, capaz de reinserir o sangue do paciente no próprio corpo, atua como um recuperador de células que lava, filtra e devolve as células sanguíneas em condições saudáveis. O cirurgião cardiovascular Marco Antonio Araujo de Mello comenta que a máquina já está em uso em diversos procedimentos cirúrgicos.
Em linhas gerais, o médico explica que, após o equipamento ser conectado, o sangue do paciente é aspirado para a cuba de centrifugação que vai separar os elementos figurados do sangue: as hemácias, das plaquetas, do plasma, dos leucócitos. Depois ocorre a lavagem das hemácias. Por fim, após passar pelo processo de lavagem e filtragem, o sangue sobe para uma bolsa e é reintroduzido no paciente.
A tecnologia, já utilizada em cirurgias, foi estudada pelo cirurgião cardiovascular em três hospitais da capital, comprovando sua eficácia na recuperação pós-operatória dos pacientes. A ideia de usar o equipamento surgiu quando o médico notou os riscos de sangramento mesmo após a realização de cirurgias.
“Eu utilizei o equipamento no intraoperatório, mas vi que eles iam sangrar no pós-operatório. Então, essa ideia foi conectar o equipamento, que eu desconhecia que podia ser feito dessa forma, no paciente. Eu entrei em contato com o representante nacional, que fornece o equipamento”, explicou o médico. “Ele falou da seguinte forma: Dr. Marco Antonio, é possível. Inclusive, tem um modo automático pós-operatório, mas nunca vi fazer”, completou.
Um dos principais benefícios do método é a redução das reações adversas ao sangue recebido e o alívio dos estoques dos bancos de sangue.
“Pacientes que utilizaram a máquina tiveram tempo de recuperação muito mais rápido, com menor sangramento, menor tempo de internação e melhor desfecho clínico. E aqueles que receberam transfusão de sangue tiveram algumas complicações, como reações transfusionais, infecção e até mortalidade no primeiro ano. A gente depende da boa vontade do doador para chegar lá e doar o sangue. Então, vai diminuir muito a pressão sobre as agências transfusionais.”
Marco Antonio, cirurgião cardiovascular.
Após uma cirurgia cardíaca, por exemplo, é comum a perda de uma quantidade considerável de sangue. A máquina impede que isso aconteça e fornece dados importantes sobre as condições do paciente, como o volume de sangue saudável enviado de volta ao organismo e se a pessoa continua com sangramento. Essas informações ajudam a equipe médica a tratar o caso com rapidez, conforme o estado clínico, e a avaliar a necessidade de mais transfusão.
No pós-operatório, o paciente é levado para a unidade de terapia intensiva, onde começa o tratamento com a máquina. Ela pode ficar conectada ao paciente por até 24 horas. Se houver necessidade de mais transfusão, é necessário trocar o kit do aparelho. O recurso pode ser utilizado em procedimentos em que há perda de mais de meio litro de sangue do paciente.
No estado, dois hospitais particulares utilizam o equipamento para cirurgias cardíacas e transplantes de medula óssea, mas apenas uma unidade hospitalar o utiliza no pós-operatório. No Hospital Regional, o recurso é usado apenas em cirurgias cardíacas. A Santa Casa não possui o aparelho.
A autotransfusão de sangue também pode beneficiar grupos religiosos que não aceitam receber o sangue de doadores, proporcionando uma alternativa segura e eficiente para esses pacientes.
Fonte: primeirapagina