Filodemo de Gádara foi um filósofo epicurista: pregava pelo fim do medo e do sofrimento corporal e valorizava o prazer e a felicidade do indivíduo. Estudou em Atenas antes de seguir para Roma. No caminho napolitano, Filodemo fez morada em Herculano, uma cidadezinha pequena perto de Pompeia.
Foi por lá que ele morreu, em 35 a.C. Anos depois, o Monte Vesúvio, vulcão vizinho da cidade, soterrou a vila romana em cinzas e pedra pome. Junto à destruição da vila, vários trabalhos do epicurista foram perdidos. Agora, arqueólogos usaram tecnologias de raio-X para ler um pergaminho desconhecido do autor. O pergaminho é um dos centenas encontrados na biblioteca de uma luxuosa vila romana que se acredita ter pertencido ao sogro de Júlio César.
Traços de letras a tinta visíveis nas imagens de raio-X revelaram que o texto fazia parte de uma obra em vários volumes: “Sobre os Vícios”, escrita no século 1 a.C. O pergaminho é um dos três de Herculano guardados nas Bibliotecas Bodleianas em Oxford.

“É o primeiro pergaminho em que a tinta pôde ser vista apenas na digitalização”, disse Michael McOsker, papirologista da University College London, para o jornal The Guardian. “Ninguém sabia do que se tratava. Nem sabíamos se havia mesmo algo escrito nele.”
Escavações no século 18 recuperaram muitos pergaminhos antigos, hoje guardados na Biblioteca Nacional de Nápoles, mas a maioria está tão carbonizada que se desintegra ao ser desenrolada, e a escrita em tinta é ilegível. Porém, um avanço recente veio do Vesuvius Challenge – competição global iniciada em 2023 que premia soluções tecnológicas para decifrar os textos.
Em 2024, estudantes ganharam o prêmio principal de US$ 700 mil ao desenvolver um software de IA capaz de ler 2.000 letras gregas de um pergaminho. Um dos textos guardados no Reino Unido, o pergaminho chamado PHerc. 172, revelou a palavra grega para “nojo. Agora, com o trabalho de equipes do desafio e da Universidade de Würzburg, identificou-se o título Sobre os Vícios e o autor, Filodemo. O pergaminho pode ser o primeiro volume de uma série que trata de temas como arrogância, ganância e bajulação.
Para o The Guardian, McOsker diz que “todo o progresso tecnológico que foi feito ocorreu nos últimos três a cinco anos e, considerando a escala de tempo dos classicistas, isso é inacreditável. Tudo o que estamos obtendo da biblioteca de Herculano é novo para nós”.
O processo utiliza uma técnica avançada chamada imagem por contraste de fase com raios-X, que vai além da radiografia convencional. Enquanto os raios-X tradicionais apenas medem a quantidade de radiação que atravessa um objeto (revelando densidades diferentes), o contraste de fase detecta as pequenas distorções (ou mudanças na “fase” das ondas de luz dos raios-X) causadas por variações mínimas na estrutura interna do objeto – mesmo em materiais aparentemente uniformes, como os pergaminhos carbonizados.
No caso dos pergaminhos de Herculano, pesquisadores posicionaram cuidadosamente os rolos diante de um feixe de raios-X de altíssimo brilho. As imagens observadas não são um resultado dos compostos químicos da tinta que revelam os textos, mas sim a leve elevação das letras sobre a superfície do papiro.
Como a tinta era à base de carbono – praticamente igual ao papiro carbonizado – ela não se infiltrou nas fibras, mas permaneceu sobre elas. Isso criou um relevo quase imperceptível (cerca de um décimo de milímetro). Esse desnível, detectado com precisão pelo contraste de fase, permite que os contornos das letras se tornem visíveis, mesmo após terem sido queimados e soterrados por dois mil anos.
window.NREUM||(NREUM={});NREUM.info={“beacon”:”bam.nr-data.net”,”licenseKey”:”a715cdc143″,”applicationID”:”420428730″,”transactionName”:”YF1WYRNXWxJZABFRVlkXdVYVX1oPFxAMVl5bXQ==”,”queueTime”:0,”applicationTime”:729,”atts”:”TBpBF1tNSE0aAkcCQkpF”,”errorBeacon”:”bam.nr-data.net”,”agent”:””}
Fonte: abril