Vicente, de 13 anos, é diagnosticado com Transtorno do espectro autista e portador de duas síndromes rara: Trombocitopenia com Ausência de Rádio (TAR) e Erro Inato do Metabolismo.
A mãe do adolescente, Carol Meirelles, fez um relato nas redes sociais sobre a série de episódios vividos pela família entre os dias 12 e 18 de julho, e cobrou providências por parte da Saúde de Cuiabá.
Segundo a mãe do paciente, embora o jovem tenha sido atendido pela equipe médica da unidade, era necessário realizar uma angiotomografia para confirmar o diagnóstico — o que não foi possível porque o tomógrafo do hospital estaria fora de funcionamento.
Ainda de acordo com a família, diante da indisponibilidade do exame, o paciente acabou sendo transferido para o Hospital Geral Universitário, sem que o procedimento fosse realizado no HMC.
A mãe relata que Vicente estava tendo crises frequentes de epilepsia há dias. No último sábado (12), ele começou a sentir fortes dores de cabeça, chegando a vomitar de dor. Ele foi levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Leblon, onde recebeu atendimento médico e foi medicado com Tramal. Mesmo com o quadro delicado, recebeu alta no mesmo dia.
Durante a semana seguinte, o menino continuou reclamando de dor de cabeça e teve novas crises, que foram controladas pela família em casa. No entanto, no dia 17 de julho, Vicente apresentou uma crise com gritos por conta da dor. A família então o levou ao Hospital Municipal de Cuiabá (HMC), onde ele foi internado.
Mesmo após receber diversas medicações, Vicente não parava de convulsionar. Diante da gravidade do quadro, os médicos indicaram a realização de uma angiotomografia, com suspeita de trombose arterial ou venosa.
No entanto, o exame não foi feito porque, ainda segundo relato de Carol, o hospital alegou que o tomógrafo estava quebrado e sem previsão de conserto.
A mãe, que é acadêmica de Saúde Coletiva na UFMT, presidente de associações em saúde e membro de conselho gestor de uma UBS municipal, cobrou providências da Prefeitura de Cuiabá. Segundo ela, o hospital, considerado uma das principais referências da capital, não dispõe de neuropediatra para atender casos como o de seu filho.
“Mesmo conhecendo as fragilidades do sistema, não posso deixar de registrar minha indignação. Cuiabá merece respeito. Não é só pelo Vicente. São vidas perdidas que poderiam ser salvas com a intervenção correta. São sequelas evitáveis”, desabafou.
Nessa sexta-feira (18), Vicente foi transferido para o Hospital Geral. Neste sábado (19), segundo informou Carol Meirelles, Vicente passou por exames.
O que diz a Prefeitura de Cuiabá
O Primeira Página entrou em contato com a Prefeitura de Cuiabá, que enviou uma nota de esclarecimento sobre o caso.
Na resposta, a gestão municipal afirmou que o tomógrafo do Hospital Municipal de Cuiabá ficou temporariamente fora de operação por dois dias para manutenção corretiva, o que, segundo a nota, “é comum em equipamentos de alta complexidade”.
A prefeitura afirmou que não houve interrupção nos atendimentos nem prejuízos aos pacientes, pois as tomografias teriam sido realizadas no Hospital São Benedito, com transporte garantido por ambulância, ida e volta.
Conforme a nota, a manutenção foi programada previamente, justamente para evitar impactos nos atendimentos, e não teria sido motivada por falta de pagamento.
Sobre o caso específico do adolescente com suspeita de trombose cerebral, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirmou que o paciente foi atendido integralmente no HMC. Informou ainda que o jovem possui diagnóstico prévio de epilepsia refratária e que recebeu avaliação e acompanhamento por todos os especialistas necessários.
Confira abaixo a nota na íntegra
A Empresa Cuiabana de Saúde Pública (ECSP), por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Cuiabá, informa que o tomógrafo do Hospital Municipal de Cuiabá (HMC) passou por manutenção corretiva programada, ficando temporariamente fora de operação por dois dias — um procedimento comum em equipamentos de alta complexidade.
Nenhum paciente deixou de ser atendido durante esse período. Todos os exames de imagem foram realizados no Hospital São Benedito, no Pronto-Socorro Municipal e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), com transporte garantido por ambulância. A paralisação não foi causada por falta de pagamento, e a manutenção foi planejada.
Em relação ao caso específico do paciente autista com suspeita de trombose cerebral, a Secretaria Municipal de Saúde informa que:
O paciente deu entrada na UPA Jardim Leblon no dia 12 de julho, onde recebeu atendimento, foi medicado e teve alta após melhora do quadro clínico;
No dia 17 de julho (quinta-feira), o adolescente voltou a apresentar sintomas e foi levado pela família ao HMC, sendo avaliado por equipe médica especializada;
No dia 18 de julho (sexta-feira), o paciente foi encaminhado ao Hospital São Benedito para a realização da tomografia, já que o tomógrafo do HMC estava em manutenção. Durante o atendimento, o paciente entrou em crise, e a equipe médica indicou a necessidade de realizar o exame com sedação para garantir segurança e precisão no procedimento. No entanto, a família optou por não autorizar o uso de sedação, considerando-o invasivo, e, por esse motivo, o exame acabou não sendo realizado. Diante da complexidade do caso e da condição clínica do paciente, foi solicitada com prioridade a regulação para internação. No mesmo dia, (18 de julho), o paciente foi transferido para o Hospital Geral Universitário (HGU).
A Secretaria Municipal de Saúde reforça que a regulação de leitos hospitalares de urgência e emergência é de responsabilidade do Governo do Estado, mas a Prefeitura de Cuiabá mantém diálogo permanente e parceria ativa com a Secretaria Estadual de Saúde, solicitando prioridade nos casos graves. Em virtude do trabalho conjunto, a transferência foi efetuada com agilidade, respeitando a urgência que o caso exigia.
Fonte: primeirapagina