O presidente acostumou-se a pressionar publicamente órgãos estatais e empresas de diferentes setores durante seu terceiro mandato, constatou o jornal Folha de S.Paulo. O Banco Central, a Petrobras e a Vale, por exemplo, tornaram-se alvo frequente de críticas do chefe do Executivo.
Recentemente, Lula manifestou apoio à exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas. Chegou até a criticar o Ibama, órgão responsável por autorizar a atividade. “Se depois a gente vai explorar, é outra discussão”, afirmou. “O que não dá é para a gente ficar nesse lenga-lenga. O é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo.”
Essa declaração é mais um capítulo de uma série de manifestações em favor da exploração. A busca perfurar um novo poço na Margem Equatorial, etapa preliminar para avaliar a viabilidade econômica do projeto. O setor energético do governo e a Petrobras acreditam que a área pode compensar a futura redução da produção do pré-sal. No entanto, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, insiste que somente a análise técnica do Ibama pode determinar a sustentabilidade da iniciativa.
Lula causou insatisfação dentro do órgão ambiental. Servidores avaliam que o processo regulatório passou a sofrer interferência política direta, deixando de seguir um trâmite formal e técnico.
O intervencionismo do governo já foi percebido em outros momentos, como no caso da e da Petrobras, ambas criticadas por Lula antes da troca de seus presidentes. No Banco Central, o alvo era Roberto Campos Neto, que enfrentou ataques durante os dois primeiros anos de governo.
A mudança na gestão das empresas tem suavizado o tom crítico do presidente, como ocorreu com a Vale. Em agosto de 2024, Lula atacou a estrutura acionária da mineradora: “É que nem cachorro de muito dono: morre de fome ou morre de sede, porque todo mundo pensa que colocou água, todo mundo pensa que deu comida e ninguém colocou”.
A Vale, que não possui um controlador definido, ainda sofre influência de antigos acionistas, como Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), Bradesco e Mitsui. Lula vinha questionando a empresa desde o começo de sua gestão e tentou interferir na escolha do novo presidente, ao sugerir o nome do ex-ministro Guido Mantega. Gustavo Pimenta, eleito para a presidência da mineradora em 2023, destacou que pretende estreitar laços com o governo.
Na última sexta-feira, 14, Lula elogiou a gestão de Pimenta. Ele citou sua nomeação como uma “oportunidade extraordinária” para fortalecer os laços entre a Vale e o governo brasileiro.
“Alguma coisa aconteceu entre a Vale e o governo”, afirmou Lula, em evento na mina de Carajás, no Pará, onde a mineradora anunciou R$ 70 bilhões em investimentos. “Houve um fio desencapado que criou um clima desagradável. Com minha volta ao governo e com sua entrada na Vale, tenho certeza de que a gente vai encapar esse fio.”
O presidente já havia declarado, no fim de janeiro, que a Vale antes não dialogava com o governo sobre seus projetos prioritários, mas que agora “se dispõe a ter um novo comportamento”.
Um padrão semelhante de intervenção se repetiu na Petrobras. Antes da posse de Magda Chambriard na presidência da estatal, Lula criticou a política de distribuição de dividendos e cobrou maior preocupação com o público brasileiro.
“A Petrobras não é apenas uma empresa de pensar nos acionistas que investem nela, porque a Petrobras tem de pensar no investimento e pensar em 200 milhões de brasileiros que são donos dessa empresa ou sócios dessa empresa”, afirmou Magda Chambriard, em março de 2024.
Lula também revelou ter tido uma “conversa séria” com a direção da empresa. Essa foi uma das crises que culminaram na saída de Jean Paul Prates, nomeado pelo próprio presidente no início do governo.
Já em janeiro deste ano, com Magda Chambriard à frente da estatal, Lula optou por se distanciar da gestão da Petrobras, especialmente em relação ao aumento do preço do diesel.
Fonte: revistaoeste