O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar as novas exigências ambientais da União Europeia no acordo de livre comércio com o Mercosul, durante seu primeiro discurso na cúpula dos chefes de Estado do bloco. O petista disse nesta terça-feira, 4, que não tem interesse em “acordos que nos condenem a exportadores de matérias-primas” e afirmou estar pronto para explorar outras opções de parceiros.
“O Instrumento Adicional apresentado pela União Europeia em março deste ano é inaceitável. Parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções”, declarou Lula. “Não temos interesse em acordos que nos condenem ao eterno papel de exportadores de matérias-primas, minérios e petróleo”, acrescentou.
O presidente brasileiro também confirmou que o Mercosul deve redigir uma resposta para as novas exigências do bloco europeu, que incluem sanções caso os países membros – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – não cumpram com as metas climáticas estabelecidas pelo Acordo de Paris, em 2015.
“É inadmissível abrir mão do poder de compra do estado – um dos poucos instrumentos de política industrial que nos resta”, afirmou no discurso durante a abertura da cúpula, onde o Brasil será nomeado líder pro tempore do bloco sul-americano.
Embora tenha reiterado que está “comprometido com a conclusão do acordo com a União Europeia”, o petista disse que as negociações devem ser “equilibradas” e assegurar a integração produtiva e a reindustrialização dos membros do Mercosul.
Além disso, sugeriu que o bloco está aberto a considerar outros parceiros menos exigentes. Nominalmente, ele citou os vizinhos sul-americanos Chile, Colômbia, Equador e Peru, bem como a China, a Indonésia e o Vietnã. O petista também prometeu avançar nos pactos já em negociação com Canadá, Coreia do Sul e Singapura.
Horas antes, na transmissão do seu programa “Conversa com o Presidente”, Lula havia novamente firmado sua posição em relação à carta da União Europeia.
“Nós queremos discutir o acordo, mas não queremos imposição para cima de nós”, afirmou.
Negociado oficialmente desde 1999, o acordo entre Mercosul e União Europeia foi concluído em 2019, no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), mas ainda não foi ratificado pelos dois blocos. O principal impasse para isso agora é um anexo ao texto, chamado de “side letter”, proposto pelos europeus no início deste ano, que tornaria obrigatórios alguns compromissos ambientais antes voluntários.
Fonte: Veja