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Juscelino Kubitschek: A verdade sobre sua morte que chocou o Brasil

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O ex-presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, morreu em um acidente de carro no dia 22 de agosto de 1976, na Rodovia Presidente Dutra. Na época, a explicação da perícia foi que aquela tinha sido uma fatalidade infeliz, mas normal, no trânsito. Desde o começo, porém, a narrativa oficial foi questionada por familiares e opositores do regime militar.

Agora, de acordo com a Folha de S.Paulo, o governo Lula e a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) decidiram reabrir o caso da morte de JK e realizar uma nova investigação, para entender se o caso foi mesmo um acidente de trânsito ou um assassinato orquestrado pelos militares, possivelmente com apoio internacional.

Kubitschek foi presidente do Brasil entre 1956 e 1960, quando ele colocou em prática seu famoso plano desenvolvimentista de “50 anos em 5”. JK foi o responsável por construir Brasília e realizar diversas obras de infraestrutura pelo país. Ele ia tentar a eleição de novo em 1965, mas não houve eleição em 1965 – os militares deram um golpe em 1964 e começaram uma ditadura, sem eleições diretas para a presidência, que durou 21 anos.

O ex-presidente teve seus direitos políticos suspensos pelo regime militar, e viajou pelos Estados Unidos e pela Europa em exílio voluntário. Ele voltou ao país em 1967, e começou a trabalhar com o direitista Carlos Lacerda e o presidente na época do golpe, João Goulart, para organizar a Frente Ampla contra os militares. O movimento  de oposição foi extinto pelo regime um ano depois, e JK passou um tempo na prisão.

No ano da morte de JK, o regime estava começando a deixar para trás seus anos de chumbo, e Kubitschek já estava de volta à vida pública. Em 1975, ele estava se preocupando com outras eleições – para a Academia Brasileira de Letras, na qual ele não conseguiu entrar.

Por que, então, Juscelino Kubitschek teria sido assassinado? Quais foram as conclusões de investigações realizadas após a ditadura?

O que rolou

No dia do acidente, Juscelino Kubitschek estava em um Opala preto com seu motorista, Geraldo Ribeiro, viajando de São Paulo para o Rio de Janeiro. A história oficial conta que o veículo se chocou contra um ônibus da Viação Cometa, cruzou a pista e bateu em uma carreta Scania. Os dois passageiros morreram na hora.

Ribeiro era o motorista particular de JK há 30 anos, e o Opala preto até tinha apelido: Platão. O acidente aconteceu perto da cidade de Resende, no estado do Rio de Janeiro. O ex-presidente tinha 73 anos quando morreu. Mas, dependendo do jornal que você lia, ele morreu duas semanas antes.

No dia 7 de agosto de 1976, alguns veículos de imprensa noticiaram que JK tinha morrido num acidente de carro no trajeto de sua fazenda, no interior do Goiás, a Brasília. Mas era fake news: o ex-presidente estava tranquilo na fazenda, que não tinha telefone.

Assim que ele ficou sabendo que tinha supostamente morrido, Kubitschek organizou uma coletiva com jornalistas para mostrar que estava bem, mas desistiu de fazer a viagem. “Estão querendo me matar, mas ainda não conseguiram”, ele chegou a dizer para Serafim Jardim, seu secretário particular.

Ilustração do Juscelino Kubitschesk no meio de repórteres.
(Caio Cacau/Mundo Estranho)

E talvez quisessem, mesmo. Em 1975, começou a Operação Condor, uma campanha das ditaduras de direita da América do Sul para perseguir – e assassinar – lideranças políticas de oposição. A operação foi formalmente implementada por Augusto Pinochet, o ditador do Chile, e apoiada pelos Estados Unidos.

No jornal The Washington Post, o jornalista Jack Anderson revelou uma carta enviada por Manuel Contreras, chefe da polícia secreta do Chile, a João Figueiredo, que na época era chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI) e depois foi o último presidente do regime militar. Nela, Contreras mencionava JK como uma ameaça aos governos da região.

A carta também falava de Orlando Letelier, ex-ministro de Salvador Allende, o presidente do Chile antes do golpe de Pinochet. Letelier foi assassinado um mês depois de JK, e Contreras foi considerado culpado.

Os colegas de Frente Ampla de Kubitschek, João Goulart e Carlos Lacerda, também morreram dentro do próximo ano, o que levantou a teoria de que a morte dos líderes brasileiros estava relacionada – algo que nunca foi comprovado.

O que descobriram as investigações

As investigações sobre a morte de JK após a ditadura divergem em suas conclusões. A explicação do acidente de carro foi validada pela Comissão Nacional da Verdade, que investigou os crimes da ditadura em 2014, e por uma comissão externa da Câmara dos Deputados, em 2001.

Já as Comissões Estaduais da Verdade de São Paulo e Minas Gerais, além da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo – que também foram instauradas para investigar violações de direitos humanos sob o regime militar –, acreditam que JK foi vítima de um atentado político.

Essas comissões juntaram indícios de que o carro se desgovernou por alguma ação externa, como sabotagem mecânica ou mesmo um tiro no motorista (os laudos feitos após o corpo ser exumado falam de um fragmento de metal no crânio de Ribeiro, mas um legista disse que era só um prego do caixão).

Ilustração do Juscelino Kubitschesk no carro com seu motorista Geraldo Ribeiro baleado.
(Caio Cacau/Mundo Estranho)

Um pouco antes de morrer, JK parou no hotel-fazenda Villa Forte, em Resende – a cidade onde fica a Academia Militar das Agulhas Negras. O dono do estabelecimento, brigadeiro Newton Junqueira Villa-Forte, deixou o hotel logo depois da chegada do ex-presidente. A Comissão Estadual da Verdade de São Paulo afirma que o brigadeiro tinha ligações com o SNI e foi professor de João Figueiredo.

Uma das hipóteses da comissão é que foi nesse momento que o carro foi sabotado, talvez com um explosivo (a perícia não encontrou nenhum resíduo de explosivos na carcaça do veículo). O motorista do caminhão que bateu de frente com o carro prestou depoimento à comissão, e disse que o motorista de JK estava inconsciente, com a cabeça caída entre o volante e a porta do carro.

Outra explicação está mais próxima de um meio-termo: um inquérito civil conduzido pelo Ministério Público Federal (MPF), de 2013 a 2019, descartou a ideia de que o ônibus bateu no Opala antes dele se chocar com a carreta. Mas eles não afirmam com todas as letras que foi um atentado, e dizem que não há elementos materiais suficientes para comprovar ou descartar essa hipótese.

Foi esse inquérito do MPF, que questiona os laudos da época e veio a público em 2021, que inspirou a ideia de reavivar a investigação com a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, interrompida em 2022 pelo governo Bolsonaro e retomada em 2024.

Por enquanto, é impossível comprovar a hipótese de que JK sofreu um atentado – e talvez continue impossível, já que não dá para realizar novos laudos e checar os resquícios do carro, que foi totalmente desmantelado pelos investigadores da ditadura. 

 

 

Fonte: abril

Sobre o autor

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Fábio Neves

Jornalista DRT 0003133/MT - O universo de cada um, se resume no tamanho do seu saber. Vamos ser a mudança que, queremos ver no Mundo