O aumento acelerado no consumo de energia pelo Paraguai está levando a hidrelétrica binacional de Itaipu a considerar a construção de duas novas turbinas geradoras. A medida ampliaria em até 10% o número atual de unidades, hoje fixado em 20. A informação foi confirmada pelo diretor-geral brasileiro da usina, Enio Verri.
Itaipu responde por cerca de 9% de toda a energia elétrica consumida no Brasil. Localizada na fronteira entre Foz do Iguaçu (PR) e Ciudad del Este (PY), a usina é operada em regime de cogestão entre os dois países. Segundo Verri, a tendência é de que o Paraguai, que detém direito a metade da energia gerada, passe a consumir integralmente sua cota, deixando de repassar o excedente ao Brasil.
Esse aumento na demanda paraguaia é atribuído ao avanço de data centers, inteligência artificial e mineração de criptomoedas – atividades altamente intensivas em energia. Segundo Hugo Zárate, diretor-técnico paraguaio da usina, o país registrou crescimento de mais de 14% no consumo em 2024.
Embora o projeto de expansão seja considerado “inevitável” por Verri, ele reforça que ainda são necessários estudos técnicos, ambientais e sociais, além de um acordo político entre os dois países. “Não se trata apenas de instalar turbinas; é uma decisão estratégica de longo prazo”, destacou.
A estrutura da barragem de Itaipu já conta com espaço físico para as duas novas turbinas, que poderiam ser instaladas após os vertedouros. Atualmente, a usina opera com potência instalada de 14 mil megawatts (MW), sendo 700 MW por unidade.
Apesar disso, Verri explicou que o aumento de turbinas não garante a mesma proporção de crescimento na geração, pois há variáveis tecnológicas envolvidas. Além disso, o investimento necessário ainda não é considerado viável economicamente.
“Hoje não há retorno garantido”, afirmou. Ele sugere que o financiamento pode vir por meio de instituições como o Banco Mundial ou BNDES, com a dívida sendo paga por uma taxa embutida na tarifa de energia.
Itaipu é uma usina binacional criada em 1973 e gerida em partes iguais por Brasil e Paraguai. O tratado bilateral define que a energia não utilizada por um país deve ser vendida ao outro a preço de custo. Desde 1985, o Brasil absorvia a maior parte do excedente paraguaio, mas esse cenário está mudando rapidamente. Em 2024, o Brasil consumia 69% da energia gerada, ante os 95% registrados décadas atrás.
Projeções da Administradora Nacional de Eletricidade do Paraguai indicam que, até 2035, o país deverá consumir integralmente seus 50% de direito. A partir de 2027, cada nação poderá comercializar livremente seu excedente, inclusive no mercado livre de energia.
Apesar da possível redução no fornecimento ao Brasil, Verri minimiza impactos significativos, destacando o avanço brasileiro em fontes renováveis como solar e eólica. “O Nordeste já apresenta excesso de oferta intermitente”, disse.
Fonte: cenariomt