Cinema

Isabelle Huppert: A Mulher Mais Rica do Mundo ganha vida no cinema em dramédia inspirada em fatos reais (Entrevista)

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Nas artes vemos a prática de transformar grandes talentos em metonímia e até adjetivos. Tendo a referência, é possível visualizar um “jardim muito Monet” ou um , certo? Com e incontáveis homenagens, consagra-se em vida como uma instituição cinematográfica digna da figura de linguagem.

Tal título lhe confere a liberdade para determinar suas próprias regras na atuação. Tanto que em ela aproveita bem o card de “livremente baseado em fatos reais” para construir uma personagem totalmente sua. Com seu novo filme na bagagem, a dama do cinema francês chegou ao Rio de Janeiro na última semana para apresentá-lo no Festival de Cinema Francês do Brasil 2025, onde o AdoroCinema teve a oportunidade de conversar com ela em entrevista exclusiva.

A Mulher Mais Rica do Mundo de Isabelle Huppert lucra com a liberdade narrativa

Dirigido por , La Femme la Plus Riche du Monde conta a história de Marianne Farrère (Isabelle Huppert), magnata dos cosméticos considerada a mulher mais rica e influente do mundo. Ao conhecer Pierre-Alain Fantin (), um escritor e fotógrafo, ela desenvolve uma grande amizade irreverente com o dândi autodeclarado. Entre saídas para compras, presentes milionários e festas, a família de Marianne desconfia que Fantin esteja abusando da fortuna da empresária e move um processo criminal contra ele.

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O enredo é inspirado no polêmico caso Bettencourt-Banier, que povoou os jornais franceses nos anos 2010 quando o fotógrafo François-Marie Banier virou réu por abuso de vulnerabilidade. Do outro lado do tribunal (e das manchetes) estava a família de Liliane Bettencourt, herdeira do grupo L’Oreal que foi alvo de golpes disfarçados de amizade de Banier, que estaria aproveitando o quadro de demência da bilionária para extorquí-la.

Ainda que o fio condutor do enredo seja o mesmo da vida real, Huppert e Klifa deixaram os fatos para documentários como . Então, ao invés de seguirem o caminho tradicional das cinebiografias e do true crime, o longa investe em uma dramédia novelesca:

“Há um truque no ‘livremente inspirado em fatos reais’. Essa foi a ideia genial de Thierry Klifa: não contar a história pelo fim, que todo mundo já sabia na época do escândalo, mas sim pelo começo. E o público não sabia disso, porque, na verdade, ele conheceu essa mulher muito tempo antes do escândalo estourar. E isso permitiu muita liberdade e, talvez, em última análise, um retrato mais justo do que a história é verdadeiramente”, afirma Huppert.

A atriz reforça que não cabe a ela dar qualquer veredicto ou interpretação sobre o caso real, uma vez que ela se ateve ao roteiro para desenvolver a personagem. Inclusive, enfatiza que “gostou muito que a personagem se chamasse Marianne Farrèrre e não Liliane Bettencourt” pois desenvolver o processo a partir do nome de uma pessoal real delimita uma “barreira mental”.

Isabelle Huppert e Laurent Laffite exploram as áreas cinzentas de uma amizade escandalosa

Mesmo tratando-se de , Marianne e Pierre-Alain formam uma dupla que poderia vista em uma novela das nove. Tal reconhecimento advém da mise-en-scène com um tom bastante teatral, sobretudo quando o personagem de Laurent Laffite não se curva diante do decoro do clã Farrère para proferir as maiores e mais sinceras atrocidades.

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Ao longo do filme, vemos que a protagonista deleita-se tanto com o jeito expansivo e desbocado do novo amigo à ponto de talvez passar por cima ( ou ‘Passer outre’, em francês, como Isabelle pontua), do comportamento exploratório e abusivo dele. Isso cria um espaço igualmente turvo e aberto para interpretações:

“O fato dessa relação ser cinzenta e indefinida ajuda bastante. Permite usar todas as possibilidades que o cinema oferece para permanecer ambígua e em um âmbito mais sutil. E eu e o Laurent nos divertimos muito. Havia situações tão intensas e constantes com o Fantin que cria-se uma sensação tão profunda de desconforto que é muito fácil de interpretar”, pondera.

O dinheiro é uma linguagem entre os super-ricos da realidade e da ficção

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Sobre a amizade “intensa e ambígua” que rege a trama, Huppert entende que analisar Marianne somente como a vítima de um relacionamento parasitário reduz a dinâmica da personagem com sua fortuna e consigo mesma a algo simplista:

“Acho que o dinheiro funciona como uma espécie de linguagem no filme. Para todos, o significado não é o mesmo. Ela considera — e com razão, pois é realmente o caso — que está dando dinheiro a ele. A família dela, por sua vez, acha que Fantin está tirando dinheiro deles. Obviamente, isso cria duas percepções completamente opostas. Se ela está dando dinheiro, então ela é alguém forte e gosta disso porque reforça sua própria imagem como mecenas. Ela também está realizando uma parte de si mesma dessa forma”.

Por outro lado, Isabelle avalia que a ótica contrária também é possívelm uma vez que Farrèrre está sendo manipulada em certa instância. Como ela não quer ser vista como fraca, estamos constantemente presos entre fraqueza e força, o tempo todo”, disseca.

Diante dos dilemas e dúvidas provocados pela amizade que rege o longa, Isabelle Huppert espera que o público reflita sobre como “o cinema nos permite explorar toda uma dimensão da história à qual a simples leitura dos acontecimentos nos jornais não nos dá acesso” a partir da ficção.

O 16º Festival de Cinema Francês do Brasil acontece até o dia 10 de dezembro em mais de 50 cinemas pelo país. A Mulher Mais Rica do Mundo, estrelado por Isabelle Huppert, é um dos 20 longas-metragens exibidos no evento.

Fonte: adorocinema

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