Lançado em junho de 2024 pelo governo de Santa Catarina, o programa que integra poder público e iniciativa privada para a geração de energia renovável começa a sair do papel. Em pouco mais de um ano, o “Energia Boa” recebeu 150 propostas, e 48 usinas foram aprovadas — em fase de construção ou de projeto. Com investimento estatal de R$ 572 milhões para a construção de subestações e redes de transmissão, e capacidade de atrair R$ 3 bilhões das empresas para a instalação das unidades geradoras, a expectativa é adicionar mais 1,4 gigawatts à rede elétrica.
A maioria dos projetos cadastrados vem das regiões do Planalto Serrano (65) e do chamado Grande Oeste (56). O que as duas áreas têm em comum é o potencial hídrico, que possibilita o funcionamento de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs) para a produção de energia limpa. Os demais projetos vêm do Planalto Norte (13), Grande Florianópolis (5), Sul (4) e Vale do Itajaí (3).
A Cral, cooperativa de energia, é uma das empresas que está investindo em quatro novas hidrelétricas em Santa Catarina. “Para nós, o ‘Energia Boa’ é importante porque teremos a segurança de que nossas usinas ficarão conectadas com a subestação para distribuição do que produzirmos”, disse João Alderi do Prado, presidente da entidade.
Um dos projetos da Cral é a PCH Santo Cristo, construída entre os rios Pelotas e Pelotinhas, no limite municipal de Lages e Capão Alto, no Planalto Serrano, junto à divisa com o Rio Grande do Sul. O planejamento inicial era levar a energia para o estado gaúcho, mas o “Energia Boa” atraiu o projeto para Santa Catarina.
Um dos pontos do programa que atrai a confiança do investidor é a integração de órgãos como o Instituto do Meio Ambiente (IMA), as Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), a Junta Comercial do Estado de Santa Catarina (Jucesc), o Badesc, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e as secretarias de estado. Essa integração permite agilidade na análise de liberações e autorizações públicas.
“Uma das frentes do programa ‘Energia Boa’ é dar agilidade a processos administrativos para permitir a liberação mais rápida desses empreendimentos. Assim, licenças, outorgas e declarações, entre outros documentos necessários para iniciar e avançar as obras, estão sendo emitidos com mais rapidez”, explica o secretário de de Indústria, Comércio e Serviços, Silvio Dreveck.
Entre os 150 projetos cadastrados em 14 meses de programa, 137 são de geração hídrica, nove solar, três eólica e uma mista (hídrica/solar). Com a construção das usinas, o governo do estado espera gerar cerca de 20 mil empregos em três anos, além de fomentar a criação de novos negócios.
Quase metade de projetos aprovados em leilão da Aneel são de Santa Catarina
Nesta sexta-feira (22), Santa Catarina foi o estado brasileiro com o maior número de usinas hidrelétricas habilitadas no 39º leilão de energia nova promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Foram 27 unidades de Santa Catarina habilitadas, sendo 24 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e três Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs).
Assim, o estado representou quase metade (42%) do total de 65 hidrelétricas aprovadas em território nacional. Com o setor energético aquecido pelo programa “Energia Boa”, o estado catarinense foi também o que mais inscreveu projetos: foram 52 inscrições, o que representou, portanto, mais de um quinto (22%) do total de 241 projetos inscritos no país inteiro.
Entre os 27 projetos catarinenses habilitados, 22 estão cadastrados no “Energia Boa”. Todos os projetos leiloados na Aneel e pela CCEE vão poder vender a produção de energia futura para as distribuidoras, que farão a eletricidade chegar na casa das famílias, bem como empresas.
Conforme a Aneel, o leilão somou R$ 26 bilhões para compra de 67,4 mil GWh de energia a partir de 2030. Parte dos projetos catarinenses ainda estão em obras, mas os contratos de venda garantem viabilidade no mercado energético.
Projetos aprovados no leilão de energia A-5 da Aneel (por UF): 65 no Brasil todo
- 1º – Santa Catarina: 27 PCHs e CGHs habilitadas para vender energia
- 2º – Paraná: 11
- 3º – Rio Grande do Sul: 7
- 4º – Mato Grosso: 6
- 5º – Goiás: 4
- 6º – Rio de Janeiro: 2
- 7º – Mato Grosso do Sul: 2
- 8º – Bahia, Rondônia, Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo: 1 projeto cada
As 27 usinas habilitadas em Santa Catarina
- PCH Águas de Ouro (Ouro e Capinzal) *
- PCH Arrozeira Meyer (Rio dos Cedros) *
- PCH Aparecida (Abelardo Luz) *
- PCH Barreiros
- PCH Espraiado (Timbó Grande e Irineópolis) *
- PCH Caveiras (Lages) *
- CGH Karam
- CGH Morro Agudo (Capão Alto) *
- CGH Pinheiral (Capão Alto) *
- PCH Criciúma (Abelardo Luz) *
- PCH Fortaleza (Flor do Sertão) *
- PCH Gamba (Painel e São Joaquim) *
- PCH Ibicaré
- PCH Itararé (São José do Cerrito) *
- PCH Lombo do Cavalo (São José do Cedro e Anchieta) *
- PCH Nova Erechim (Coronel Freitas) *
- PCH Guarani (Xanxerê) *
- PCH Malacara (Painel e São Joaquim) *
- PCH Nova Trento
- PCH Passo Manso
- PCH Pira (Ipira e Piratuba) *
- PCH Piratuba (Ipira e Piratuba) *
- PCH Rabo do Macaco (São Bento do Sul) *
- PCH Santo Cristo (Lages e Capão Alto) *
- PCH Ursuleta (Xavantina e Faxinal dos Guedes) *
- PCH Urupema (São Joaquim) *
- PCH São Joaquim (São Joaquim e Painel) *
*Projetos aprovados pelo Energia Boa.
Energia a ser gerada pelo programa deve impulsionar negócios e aumentar arrecadação em Santa Catarina
O consumo de energia elétrica em Santa Catarina cresceu 4,5% entre junho de 2024 e maio de 2025, conforme dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). O percentual ficou bem acima da média brasileira para o período, que foi de 2,1%.
Os consumidores do chamado mercado livre, formado por médias e grandes empresas, são os principais responsáveis por essa alta. A indústria catarinense, por exemplo, cresceu 7,7% em 2024, o que requer uma maior capacidade de geração e distribuição de energia.
Santa Catarina produz todos os equipamentos necessários para construir PCH e CGH, o que acaba trazendo uma grande movimentação para o setor industrial catarinense
Jorginho Mello (PL), governador de Santa Catarina
“Vamos garantir mais oferta de energia para que as empresas possam se expandir e gerar milhares de empregos”, prometeu o governador Jorginho Mello (PL). “E tem mais, Santa Catarina produz todos os equipamentos necessários para construir uma PCH ou CGH, o que acaba trazendo uma grande movimentação também para o setor industrial catarinense”, acrescentou ele.
Com essa perspectiva, o programa ganha um teor socioeconômico para o Planalto Serrano, região com os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, com média de 0,72 (o IDH de Santa Catarina é de 0,79). Com energia mais acessível, a Secretaria do Estado da Fazenda projeta o surgimento de novos empreendimentos, incentivando o turismo, a piscicultura, a aquicultura e o agronegócio.
Em termos de arrecadação, a expectativa é de que o programa gere R$ 290 milhões em impostos municipais, estaduais e federais em 36 meses, a partir da realização das obras.
Governo catarinense vai investir R$ 572 milhões em rede de transmissão e subestações elétricas
O programa “Energia Boa” prevê que a Celesc construa seis novas subestações e 225 km de linhas de transmissão para interligar as novas usinas à rede elétrica de Santa Catarina. As subestações ficarão localizadas em Lages, Painel, Campo Belo, Urubici, Matos Costa e Rio do Campo.
O investimento do governo de Santa Catarina é de R$ 572 milhões. De acordo com a assessoria do programa, as licitações estão em fase de aprovação pelo Conselho de Administração da Celesc, o que deve ocorrer entre agosto e setembro.

“Ao executar a missão dada pelo governador Jorginho Mello, a Celesc cumpre seu papel de ampliar e modernizar a infraestrutura do estado, fortalecendo a matriz de energia limpa, estimulando o desenvolvimento regional e garantindo mais segurança e confiabilidade no fornecimento de energia para a população e para os empreendedores de Santa Catarina”, destacou Tarcísio Rosa, presidente da Celesc.
O programa é desenvolvido em parceria entre a Celesc, a Secretaria de Estado da Fazenda e a Secretaria da Indústria, Comércio e Serviços. Também conta com o apoio da Associação dos Produtores de Energia de Santa Catarina (Apesc), uma entidade sem fins lucrativos que reúne mais de 100 empresas produtoras de energia e atua junto aos órgãos governamentais para a promoção de energias renováveis.
Fonte: gazetadopovo