Trabalhadores no Sul do país estão perdendo empregos por causa das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre a madeira brasileira. Só no Paraná, ao menos três grandes empresas aplicaram medidas como fechamento de unidades, demissão de funcionários e determinação para férias coletivas, enquanto o governo Lula (PT) permanece omisso diante da crise que devasta um setor que emprega 180 mil brasileiros.
O mercado norte-americano é o principal destino das exportações do segmento, e a tarifa, imposta no início de agosto, reduz de forma significativa a competitividade do setor. Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,6 bilhão em madeira para os Estados Unidos, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci). Cerca de 50% da produção nacional segue para o mercado norte-americano.
Dos 180 mil trabalhadores empregados diretamente no setor, 100 mil estão concentrados na Região Sul. Santa Catarina lidera com 45 mil, seguida pelo Paraná com 38 mil e o Rio Grande do Sul com 16 mil. Aproximadamente 90% de toda a produção nacional está localizada nesses três estados, consolidando a região como polo da indústria de madeira processada mecanicamente.
Empresas aplicam redução de salário e jornada
A empresa Millpar comunicou, em 19 de agosto, o fechamento da unidade de Quedas do Iguaçu (PR) e concedeu férias coletivas a colaboradores de Guarapuava (PR). A persistência do cenário adverso tornou necessária a demissão de funcionários, informou a Millpar.
Sem detalhar o número de colaboradores desligados, a empresa disse que ofereceu benefícios adicionais, como auxílio-alimentação temporário, apoio psicológico e suporte profissional para recolocação no mercado. No dia 4 de setembro, foi a vez da BrasPine anunciar a demissão de cerca de 400 colaboradores na unidade de Jaguariaíva (PR), mantendo operação em dois turnos.
A empresa colocou outros 1,1 mil profissionais em regime de layoff — sistema que permite redução de salários e jornadas ou suspensão temporária de contratos, com preservação do vínculo empregatício, segundo o Tribunal Superior do Trabalho (TST).

A empresa informou que, durante o processo de layoff, os colaboradores preservarão vínculo empregatício, enquanto realizam uma capacitação profissional, além de terem os benefícios mantidos. A indústria Randa, com sede em Bituruna (PR), também sente os efeitos das barreiras comerciais. Segundo o gerente de produção industrial Orlei Braz, a medida provoca queda de 50% a 55% no faturamento.
“Mais da metade da nossa produção ia para os EUA. Com o tarifaço, os clientes cancelaram os pedidos, o faturamento caiu e tivemos que cancelar contratações, adotar rodízio de férias e, infelizmente, desligar funcionários”, afirmou. Com 40 anos de atuação e 800 colaboradores, a Randa alerta que, sem solução rápida, empregos e produção correm risco. A empresa não detalhou quantos colaboradores desligou nem quantos colocou em férias coletivas.
Setor da madeira sofre com cancelamento de contratos e queda de vendas após tarifa dos EUA
Os primeiros efeitos da tarifa aplicada pelo presidente Donald Trump estão vinculados aos cancelamentos de contratos. O superintendente da Abimci, Paulo Pupo, é enfático: “não existe mercado com uma tarifa de 50%”. Desde o anúncio das medidas, em 9 de julho, o mercado começou a se retrair e os importadores norte-americanos adotam postura conservadora diante das incertezas do mercado.
Em agosto, as exportações de madeira para os EUA caíram entre 35% e 50%, dependendo do segmento. Pupo reforça que não é viável simplesmente redirecionar a produção para outros países. “A participação brasileira no mercado americano foi construída ao longo de décadas, com investimentos em tecnologia, certificações e atendimento às exigências da construção civil americana”, disse.
Ele alertou que não há “plano b” que substitua esse mercado no curto ou médio prazo. O setor já exporta para os principais destinos globais, mas o volume e a especificidade da demanda norte-americana não podem ser realocados de forma simplista.
Indústria da madeira pede medidas urgentes para manter postos de trabalho
A Abimci cobra do governo negociação direta com os EUA. “Apresentamos todos os números ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e ao Itamaraty, reforçando a urgência de abrir um canal diplomático e comercial sem componentes políticos. Infelizmente, até agora não há avanços concretos, e o tempo corre contra o setor”, enfatiza o órgão.

O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e coordenador do Conselho Setorial da Indústria da Madeira, Roni Junior Marini, reforçou que “as medidas anunciadas até agora são incipientes. O que precisa ser feito é uma negociação direta com os EUA para preservar empregos e negócios”.
Em 2024, foram mais de US$ 600 milhões de dólares exportados para os EUA em produtos de madeira do Paraná. O presidente da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre Florestas), Fábio Brun, apontou que as alternativas de mercado são limitadas. “O mercado americano é o único para algumas empresas. No curtíssimo prazo, não existe alternativa.”
Santa Catarina sofre queda de exportações e projeta prejuízos com tarifa dos EUA
Santa Catarina é outro estado bastante afetado pela tarifa dos EUA. No primeiro mês da vigência da tarifa de 50%, as exportações do estado caíram 19,5% em relação a agosto de 2024, com queda de até 34,9% no setor de madeira e móveis. Apesar disso, as exportações totais do estado cresceram 1,54% no período, somando US$ 971,4 milhões.
A Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) enviou ofício aos portos de Itajaí e Portonave sugerindo redução temporária de tarifas portuárias, na tentativa de aliviar os efeitos das tarifas dos EUA sobre setores estratégicos e manter custos competitivos. Em 2024, os setores de madeira e móveis em Santa Catarina exportaram cerca de US$ 1,6 bilhão.
Um estudo da Fiesc projeta cenários de queda nas exportações, podendo afetar mais de 100 mil empregos no longo prazo. Com redução de 30% no período de um a dois anos, o PIB do estado pode recuar R$ 1,2 bilhão, com perda de 20 mil empregos e R$ 171,9 milhões em ICMS.
Fonte: gazetadopovo