Em entrevista ao desta terça-feira, 11, o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Guilherme Derrite, destacou os avanços na redução da criminalidade. Também criticou a política de segurança do governo federal.
Ao comentar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, redigida pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, Derrite se mostrou cético. “Nenhum governador vai aceitar essa invasão de competências que fere o pacto federativo.”
Ele também criticou a falta de uma organização nacional para impedir o fluxo de drogas no país. “Por que não estabelecer uma política de fronteiras pra evitar que a droga chegue e saia de portos e aeroportos internacionais?”, argumentou o secretário. “Combater o crime organizado, ao que me parece, não é uma especialidade desse governo.”
Derrite também contestou a legislação penal e decisões judiciais que, em sua visão, favorecem a impunidade. Nesse sentido, relatou casos concretos de criminosos reincidentes beneficiados por audiências de custódia.
“Um casal de 75 anos foi mantido refém num cativeiro em Itaquaquecetuba por uma quadrilha de quatro criminosos”, conta Derrite, que detalhou os pormenores da operação. “Saíram pela porta da frente quatro sequestradores de uma audiência de custódia.”
Outro caso citado foi a soltura de um traficante preso com quase 900 quilos de cocaína e que foi liberado na audiência de custódia. “Gerou uma comoção, o Ministério Público recorreu, Tribunal de Justiça, que é a segunda instância, reverteu.”
O secretário celebrou a queda no número de homicídios no Estado de São Paulo, que atingiu a menor taxa desde 2001.
Ele destacou que, para enfrentar essa limitação, foi necessário um esforço estratégico e a ampliação do efetivo. “O governador [Tarcísio de Freitas] foi muito parceiro e inteligente, pois ele aceitou uma das primeiras medidas da gestão: o reforço de ampliação do efetivo das forças policiais”, ressaltou. Segundo ele, já foram contratados mais de 9,3 mil policiais civis e militares.
Além dos homicídios, o secretário destacou quedas expressivas em outros crimes. “A gente apresentou uma redução de 20,4% de roubos, que é o crime que mais aflige a população, 25% de redução de roubos de veículos”, afirmou. “E impressionantes 27% de roubo de carga no Estado de São Paulo em 2024 comparado a 2022, início da nossa gestão.”
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O secretário de Segurança Pública atribuiu esses resultados a uma política de enfrentamento ao crime organizado estruturada em três pilares:
- busca e captura das lideranças do crime;
- inviabilização da cadeia logística do tráfico de drogas; e
- bloqueio da lavagem de dinheiro.
Um dos pontos destacados na entrevista foi a política de apreensão e reutilização de bens oriundos do crime. Derrite afirmou que o implementou um decreto que permite a conversão imediata de valores apreendidos em benefício da segurança pública.
“Quando for detectado que os benefícios sejam de uma conta corrente, ou seja um bem adquirido, móvel ou imóvel”, disse. “Ele pode ser bloqueado, leiloado, ou se tiver bloqueado na conta corrente, pode ser transferido diretamente para o fundo da Secretaria de Segurança Pública.”
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A iniciativa já resultou na apreensão de milhões de reais de grupos criminosos. “O primeiro caso foram R$ 10 milhões num acordo de não persecução penal na região de São José dos Campos.”
“Já estamos em processo de construção da nova delegacia seccional da Polícia Civil, aquisição de viaturas da e Guarda Civil Municipal e aquisição de drones.”
Derrite ainda mencionou um caso específico que envolveu familiares de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC. Segundo ele, foram “R$ 479 mil em dinheiro bloqueado” e “uma casa apreendida avaliada em mais de R$ 3 milhões”.
Outro tema abordado foi a privatização do Porto de Santos, que, segundo o secretário, é fundamental para combater o tráfico internacional de drogas. Ele explicou que a infraestrutura do Estado de São Paulo facilita o transporte de drogas para o porto, o que tornou São Paulo um dos principais corredores logísticos do tráfico.
A expectativa é que a privatização melhore os controles de segurança. “Quando houver a privatização, existe uma empresa gerindo ali que tem, por razões óbvias, o objetivo de lucro e o afastamento do crime organizado.”
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Ele detalhou a lógica financeira do tráfico de drogas e explicou como o lucro cresce na exportação para outros continentes. “Um quilo de pasta base de cocaína, quando é comprado na Bolívia, chega a custar, em média, US$ mil”, afirmou. “No Brasil, o valor não passa de US$ 5 mil, mas na Europa e Ásia “chega a US$ 80 mil.”
Apesar das dificuldades orçamentárias, o secretário afirmou que São Paulo investe em tecnologia para reforçar a segurança pública, ao citar o programa Muralha Paulista. “Vamos transformar o Estado de São Paulo num verdadeiro programa de reconhecimento facial e leitura de placas de veículos.”
Fonte: revistaoeste