📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Estudos apontam os benefícios do gengibre no tratamento de vários tipos de câncer devido a seus efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e imunorreguladores.
  • Compostos ativos no gengibre, como gingerol, shogaol, zingerona e paradol, apresentam propriedades antitumorais ao inibir o crescimento de células cancerígenas e promover a apoptose em vários tipos de câncer.
  • Estudos indicam a eficácia do gengibre contra o câncer de mama e de colo do útero, com extratos mostrando ação citotóxica em células cancerígenas sem prejudicar as células saudáveis.
  • O gengibre ajuda a amenizar os efeitos colaterais da quimioterapia, diminuindo náuseas e vômitos em pacientes com câncer e potencializando a eficácia dos quimioterápicos.
  • Além de proteger contra o câncer, o gengibre promove um envelhecimento saudável e defende o organismo de doenças neurológicas, problemas cardiovasculares e obesidade, além de oferecer benefícios anti-inflamatórios e analgésicos.

🩺Por Dr. Mercola

As plantas medicinais vêm sendo cada vez mais reconhecidas por sua capacidade de proteger e até mesmo ajudar a tratar doenças, e uma das mais populares é o gengibre (Zingiber officinale). Há muito tempo, o gengibre é utilizado para diminuir inflamações e aliviar dores, e agora é reconhecido também por seus efeitos protetores contra o câncer.

Com mais de 2 milhões de casos de câncer previstos nos EUA este ano, é importante buscar terapias alternativas que sejam eficazes contra essa doença. Nos últimos anos, diversos estudos apresentaram evidências dos benefícios do gengibre no combate ao câncer.

Efeitos farmacodinâmicos do gengibre contra o câncer colorretal

Em 2020, mais de 1,9 milhão de novos casos e 935 mil mortes foram associados ao câncer colorretal no mundo, tornando-o o câncer de maior taxa de incidência e o segundo em taxa de mortalidade. Vários estudos recentes descobriram que o gengibre tem ações terapêuticas contra esse tipo de câncer, em grande parte devido a seus efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes e imunorreguladores. De acordo com um estudo:

“Evidências incontestáveis mostram que, dentre todos os produtos naturais, o gengibre (Zingiber officinale), muito utilizado em bebidas e alimentos como um tempero em todo o mundo, é uma fonte única de compostos bioativos capazes de exercer tanto efeito quimiopreventivo como quimioterápico contra diferentes tipos de câncer, o que tem despertado o interesse de cientistas da área médica.

Uma revisão de 2024 publicada no Journal of Ethnopharmacology ressaltou a capacidade do gengibre de ajudar a inibir e tratar o câncer colorretal ao conter a proliferação de células cancerígenas, induzir o bloqueio do ciclo celular, estimular a apoptose (morte celular programada) e suprimir a invasão e migração das células malignas. A revisão, que avaliou estudos clínicos, pesquisas com animais e experimentos in vitro, também observou que o gengibre aumenta os efeitos anticancerígenos de medicamentos quimioterápicos.

Em 2022, foi publicado na revista Anti-Cancer Agents in Medicinal Chemistry um estudo com animais que investigou os efeitos do gengibre sobre o câncer colorretal. Os pesquisadores induziram câncer colorretal em ratos utilizando dimetilhidrazina, uma substância cancerígena. Em seguida, dividiram os ratos em dois grupos: um recebeu o medicamento contra o câncer cisplatina e o outro foi tratado com extrato etanólico de gengibre.

O mais incrível foi que, após 21 semanas de tratamento, eles descobriram que o extrato de gengibre não só teve melhor desempenho que a cisplatina, como também não causou danos aos rins ou ao fígado, o que demonstra sua segurança.

“Este estudo comprovou que a atividade antitumoral do EG contra o CCR induzido por DMH supera a da cisplatina. O EG também foi mais seguro do que a cisplatina e não provocou toxicidade hepática ou renal. O EG induziu a apoptose e apresenta atividade carcinostática”, concluíram os autores do estudo.

Estudos investigam os compostos de proteção contra o câncer do gengibre

A composição única e multifacetada do gengibre é responsável por seus benefícios contra o câncer. Esta raiz possui mais de 60 compostos ativos com forte atividade biológica e propriedades farmacológicas, como ação antioxidante, antibacteriana e anti-inflamatória, que contribuem para inibir a formação de tumores.

Um estudo de 2023 publicado no World Journal of Gastrointestinal Oncology examinou os compostos do gengibre que conferem seus efeitos antitumorais contra cânceres do aparelho digestivo, como câncer gástrico, hepático, laríngeo, colorretal e pancreático. Entre os compostos benéficos estão:

• Gingerol: um tipo específico de gingerol, o 6-gingerol, demonstrou retardar o crescimento de células de câncer de cólon ao neutralizar os efeitos de uma substância denominada forbol 12-miristato 13-acetato (PMA).

O PMA ativa proteínas que fazem as células do câncer sobreviverem e crescerem. Quando os cientistas adicionaram 6-gingerol às células de câncer de cólon induzidas por PMA, isso interferiu nas vias celulares ativadas pelo PMA. O 6-gingerol também ativa caspases, que são enzimas proteases essenciais para a apoptose.

• Shogaol: o 6-shogaol também ativa caspases, ajudando a eliminar células tumorais. Além disso, descobriu-se que ele elimina as células Mahlavu, um tipo de célula de câncer de fígado muito resistente a tratamentos, ao provocar estresse oxidativo.

• Zingerona: de acordo com os pesquisadores, este composto possui efeitos farmacológicos importantes. Quantidades maiores de zingerona são encontradas no gengibre seco ou cozido, em comparação ao gengibre cru.

A zingerona gera um ambiente desagradável e estressante para as células do câncer de cólon. Quando os cientistas trataram células de câncer de cólon HCT116 com esse composto, houve maior produção de espécies reativas de oxigênio (ERO), que prejudicaram as mitocôndrias e enfraqueceram as defesas naturais das células, levando-as à morte.

• Paradol: encontrado no gengibre seco, o paradol possui efeitos antitumorais e antiproliferativos. Ele combate o câncer de pâncreas ao reduzir a quantidade de receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR), que estimula o crescimento das células malignas. O paradol também reduz a sinalização PI3K/AKT, vias de comunicação celular em células cancerígenas que as induzem a crescer e resistir à morte.

Além disso, importantes compostos terpênicos, como β-bisaboleno, curcumeno, α-farneseno e β-sesquiculeno, também estão presentes no gengibre. De acordo com os autores do estudo, extrair esses compostos ativos poderá levar ao desenvolvimento de tratamentos modernos mais eficazes para tumores gastrointestinais.

“Os ingredientes ativos do gengibre têm a capacidade de regular diversas vias de sinalização, como PI3K/Akt/mTOR, Wnt/β-catenina, EGFR e NF-κB. Essa regulação ocorre por meio de compostos como 6-gingerol, 6-shogaol, zingerona e outros, que atuam direta ou indiretamente nos alvos de sinalização, resultando em um efeito antitumoral”, concluíram.

Ação citotóxica do extrato de gengibre sobre células de câncer de mama e de colo do útero

Os compostos ativos mencionados também se mostram benéficos contra outros tipos de câncer, incluindo os de mama e de colo do útero, que afetam muitas mulheres. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 2,3 milhões de mulheres tiveram diagnóstico de câncer de mama em 2022.16 No mesmo ano, 660 mil mulheres foram diagnosticadas com câncer de colo do útero.

Uma revisão de 2021 publicada no International Journal of Molecular Science analisou como o gengibre pode proteger contra esses dois tipos de câncer e outros. Eles destacaram um experimento de 2015 em que células de câncer de mama tratadas com 6-shogaol sofreram morte celular ao atingir as células-tronco do câncer.

De acordo com os pesquisadores, “A eficácia do 6-shogaol em monocamadas e em esferoides semelhantes a células-tronco de câncer traz esperança quanto ao seu benefício terapêutico no tratamento do câncer de mama”.

Em outro estudo, um extrato metanólico de gengibre foi testado em células de câncer de colo de útero e de mama. Os pesquisadores notaram mudanças nessas células, como encolhimento, o que indica apoptose. Também descobriram que o extrato de gengibre apresenta um efeito dependente da dose. Quanto mais extrato aplicavam, mais células cancerígenas morriam.

Em um estudo de 2020, os pesquisadores investigaram os efeitos do gengibre em dois tipos de células de câncer de mama e de pâncreas. Eles descobriram que o extrato de gengibre eliminou as células cancerosas sem prejudicar as células saudáveis. E apesar de as células de câncer de mama serem eliminadas com mais facilidade e exigirem menos extrato para obter resultado, os efeitos foram observados em ambos os tipos de câncer.

“Como a seletividade para células cancerosas, a alta tolerância em humanos e a baixa toxicidade para células normais são características ideais em possíveis agentes quimiopreventivos e terapêuticos contra o câncer, após mais estudos em animais e ensaios em humanos com o extrato de gengibre (usando em especial compostos ativos purificados), ele pode ser considerado um novo agente quimiopreventivo e terapêutico”.

O gengibre ajuda a combater os efeitos colaterais da quimioterapia

Os tratamentos convencionais disponíveis para o câncer costumam ser agressivos e tóxicos, além de caros. A quimioterapia, um dos tratamentos mais comuns entre pacientes com câncer, funciona destruindo as células tumorais e impedindo que se espalhem.

No entanto, os medicamentos quimioterápicos são muito potentes e causam efeitos colaterais desagradáveis e debilitantes. Segundo um estudo, 88% dos pacientes que passaram por quimioterapia apresentaram um ou mais efeitos colaterais. A fadiga foi o sintoma mais comum (80%), seguida de náuseas e vômitos (48%) e então dor (48%).

Como os pacientes com câncer precisam manter uma boa nutrição e energia durante as sessões agressivas de quimioterapia, aliviar esses efeitos colaterais é indispensável, e o gengibre pode ajudar nesse caso. Estudos descobriram que o gengibre oferece proteção contra os efeitos colaterais da quimioterapia.

Um estudo de 2022, realizado por pesquisadores da Daejeon University, na Coreia, examinou quatro ensaios clínicos randomizados com um total de 337 pacientes. Alguns receberam gengibre após a quimioterapia, enquanto outros não.

Os autores concluíram que pacientes com câncer de mama que receberam gengibre apresentaram atraso e menor intensidade em náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia (NVIQ) agudos, em comparação às que não ingeriram. Também não ocorreram efeitos adversos graves associados ao uso de gengibre.

Embora esse estudo tenha mostrado benefícios do gengibre quando administrado após a quimioterapia, uma revisão anterior ressalta que tomar gengibre antes ou durante o tratamento quimioterápico também trouxe grandes resultados.

Conforme suas descobertas, administrar extrato de gengibre como suplemento diário três dias antes da quimioterapia “elevou bastante a atividade antioxidante e reduziu os níveis de marcadores oxidativos em pacientes que recebem quimioterapia com potencial emetogênico de moderado a alto, em comparação a um placebo”. Além disso, os compostos 6-gingerol e 6-shogaol ajudaram a superar a resistência a múltiplos fármacos em células cancerígenas, tornando a quimioterapia mais eficaz.

“Os derivados do gengibre têm alto potencial quimiopreventivo, como o bloqueio do ciclo celular, o aumento da morte celular (apoptose, autofagia e autose) e o desequilíbrio da homeostase redox. Além do mais, elas inibem a angiogênese, a formação de CSCs e o processo de EMT.

Portanto, esse composto natural influencia de forma direta e indireta a sobrevivência das células tumorais e inibe processos de invasão e metástase, sem efeitos tóxicos relevantes nas células normais”, concluíram os pesquisadores.

O gengibre promove um envelhecimento saudável e a longevidade

Embora essas pesquisas reforcem os benefícios do gengibre contra vários tipos de câncer, seus usos terapêuticos já são reconhecidos há muito tempo, sobretudo em civilizações asiáticas. Na medicina tradicional chinesa, indiana e ayurvédica, o gengibre é utilizado para afrouxar e expelir o muco, graças à sua ação expectorante. Sua capacidade de aliviar dores, tratar problemas digestivos e amenizar náuseas também é bastante reconhecida.

Uma revisão publicada na revista Oxidative Medicine and Cellular Longevity afirma que o gengibre contribui para um envelhecimento saudável e protege contra doenças relacionadas à idade, como Alzheimer, Parkinson e demência, além de problemas cardiovasculares, respiratórios e gastrointestinais.

“O envelhecimento é um processo complexo, determinado por fatores genéticos, celulares e ambientais que são múltiplos e interdependentes. O gengibre, um dos produtos naturais mais utilizados tanto na gastronomia quanto na medicina, apresenta propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, anti-infecciosas e quimiopreventivas documentadas”, observaram os pesquisadores.

Em um estudo anterior com animais, aqueles que receberam extrato de gengibre tiveram uma redução no acúmulo de proteínas β-amiloides, que contribuem para a doença de Alzheimer. Já outro estudo constatou que o 6-shogaol protegeu as células cerebrais por meio de seus efeitos antineuroinflamatórios.

Um outro estudo em animais ressaltou a importância de ter o intestino em bom estado para doenças neurodegenerativas. Em camundongos com danos intestinais relacionados à doença de Parkinson, o gengibre conseguiu reduzir a inflamação, proteger as células nervosas e manter a integridade da barreira intestinal. Além disso, a capacidade do gengibre de ajudar a diminuir o risco de obesidade também é reconhecida. Os pesquisadores afirmaram:

“Estudos recentes sugerem que a microbiota intestinal pode ser um alvo importante no tratamento da obesidade. Em um estudo recente, relatou-se que a suplementação de gengibre diminuiu o peso corporal, a gordura no fígado e resistência à insulina ao restaurar a microbiota intestinal em ratos alimentados com uma dieta rica em gorduras”.33

Pra que mais serve o gengibre?

Você vai gostar de saber que, além de proteger contra o câncer e favorecer um envelhecimento saudável, o gengibre também é responsável por vários benefícios, como:

Reduz a inflamação e dor associadas a problemas como dismenorreia e osteoartrite

Promove a vasodilatação, auxiliando no controle da pressão arterial

Estimula a quebra de gorduras para auxiliar no controle de peso

Alivia enjoo, náuseas e dores de cabeça

Favorece a saúde cardiovascular

Reduz os níveis de açúcar no sangue para prevenir diabetes

O gengibre é um tesouro culinário. Quando cozido e adicionado aos seus pratos favoritos, proporciona um sabor picante suave e uma fragrância agradável. Não há motivos para não incluir mais gengibre em suas refeições diárias. Se precisar de sugestões, aqui estão algumas ideias:

  • Coloque alguns pedaços de gengibre fresco em uma xícara e adicione água quente para preparar um chá de gengibre aromático 
  • Acrescente gengibre fresco, ralado ou bem picado, ou mesmo em pó, ao seu curry ou refogado
  • Inclua uma pequena quantidade de gengibre fresco em sua vitamina matinal