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SAÚDE

Gavião respeita sinal e utiliza faixas de pedestres para caçar suas presas

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Na esquina de uma rua no subúrbio de West Orange, Nova Jersey, um drama se desenrolou nas primeiras horas da manhã. Enquanto os pedestres esperavam impacientes que o semáforo ficasse verde para atravessar na faixa, um jovem gavião observava o movimento. Não dos carros, nem das pessoas mas dos pequenos pássaros distraídos que bicavam migalhas deixadas na calçada.

Às vezes, um transeunte apertava o botão. Quando isso acontecia, o sinal vermelho durava muito mais tempo, e a fila de carros aumentava. Nesse momento, o poste passava a emitir um sinal sonoro, avisando para os cegos que era seguro atravessar.

Quando o som ecoava pela avenida, o gavião agia. Se esgueirava feito o mais ágil dos motoboys paulistanos por entre a fila de carros parados no semáforo e surpreendia suas presas entre os para-choques. Em segundos, os pardais da calçada se dispersaram, mas nem todos com sucesso. Alguns viraram café da manhã. 

Essa cena foi a base um estudo recém-publicado que analisa como gaviões da espécie Accipiter cooperii adaptam seu comportamento para caçar no ambiente urbano. O texto saiu na revista especializada Frontiers in Ethology.

“O sinal sonoro fazia o semáforo vermelho durar mais, o que garantia uma fila de carros longa o suficiente para esconder o ataque. Era curioso que, sem som, ele nem aparecia”, explica Vladimir Dinets, zoólogo da Universidade do Tennessee e autor do estudo, em comunicado à imprensa.

Foram necessárias 18 manhãs de inverno, ao longo de 12 horas de observação, para que Dinets reunisse dados suficientes. A cada manhã, estacionava seu carro discretamente próximo ao cruzamento e, munido de cadernos e binóculos, acompanhava os movimentos do jovem gavião. O comportamento era consistente. O gavião permanecia empoleirado, esperando o momento de agir. 

Quando o aviso sonoro para pedestres começava, indicando que o semáforo permaneceria vermelho por até 90 segundos, e a fila de carros se estendia, ele descia. Cruzava a rua entre os carros, rente à calçada, e emboscava os pardais e pombas que se alimentavam de migalhas deixadas por moradores. Foram seis ataques registrados durante o período, dois deles bem-sucedidos.

O comportamento nunca foi observado aos fins de semana, quando o tráfego é consideravelmente menor. 

Dinets acredita que essa engenhosidade não surgiu exclusivamente como uma adaptação urbana recente. Para ele, os gaviões já possuem, na natureza, habilidades cognitivas refinadas, como mapear mentalmente o território, entender padrões no movimento de presas e executar emboscadas complexas. Com a urbanização, essas habilidades simplesmente encontram um novo palco.

“Uma cidade é um habitat difícil e muito perigoso para qualquer ave, mas particularmente para uma grande ave de rapina especializada em presas vivas: é preciso evitar janelas, carros, fios elétricos e inúmeros outros perigos enquanto se pesca algo para comer todos os dias”, escreve o autor em comunicado.

“Acredito que minhas observações mostram que os gaviões conseguem sobreviver e prosperar lá, pelo menos em parte, por serem muito inteligentes”.

Fonte: abril

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