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Fósseis de insetos em âmbar: Descoberta inédita no Equador revela riqueza paleontológica da América do Sul

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Em Jurassic Park (1993), o Sr. DNA, um personagem de desenho animado criado para explicar aos turistas do parque como a empresa InGen trouxe os dinossauros de volta à vida, explica como insetos acabam fossilizados em âmbar. 

“Às vezes, o mosquito pousava em um galho de árvore e ficava preso na seiva! Depois de muito tempo, a seiva da árvore endurecia e se fossilizava… como um osso de dinossauro”, diz o personagem. A cena mostra, como exemplo, um pequeno inseto no cristal alaranjado que lembra um pirulito.

Mais de 30 anos depois do lançamento do filme, um equívoco precisa ser corrigido: o âmbar não é feito de seiva de árvore, e sim de resina. A seiva é o fluido que circula pelo sistema vascular de uma planta, enquanto a resina é uma substância semissólida secretada em bolsas e canais através das células epiteliais da planta – e é ela que pode virar âmbar e preservar seres por milhões de anos.

Esse tipo de fóssil é bastante conhecido por paleontólogos ao redor do mundo, e alguns países e regiões, como Mianmar, são referência no assunto porque possuem muitos depósitos. Mas, até então, a América do Sul não tinha nenhum pirulito de inseto.

Isso mudou: um fragmento de resina fossilizada encontrado em uma pedreira no leste do Equador está ajudando cientistas a abrir uma janela para um mundo quase esquecido – uma floresta úmida que existia há 112 milhões de anos, quando a América do Sul ainda fazia parte do supercontinente Gondwana.

O estudo, publicado na revista Communications Earth & Environment, descreve o primeiro depósito de âmbar da América do Sul com insetos preservados em seu interior. 

As amostras analisadas vêm da Formação Hollín, na Bacia Oriente do Equador, um vasto depósito sedimentar. Os cientistas identificaram dois tipos de âmbar: um que se formou no subsolo, próximo às raízes das árvores, e outro produzido quando a resina escorria para o ar e endurecia.

Entre 60 fragmentos de âmbar, a equipe encontrou 21 bioinclusões – o nome que se dá para quando pequenos organismos ficam aprisionados na resina pegajosa. Moscas, besouros, vespas primitivas e até um delicado pedaço de teia de aranha fazem parte da descoberta. Nos sedimentos vizinhos, foram encontrados também esporos, pólen e restos vegetais que reforçam a imagem de uma floresta densa e úmida, dominada por árvores produtoras de resina.

Xavier Delclòs, professor da Faculdade de Ciências da Terra da Universidade de Barcelona, ​​​​​​​Espanha e autor do estudo, disse à Super que ficou surpreso com a descoberta. “Depósitos de âmbar com bioinclusões são muito raros; há muito mais depósitos de âmbar sem bioinclusões do que com. Encontrar esse conjunto pela primeira vez em todo o registro mesozoico da América do Sul foi muito gratificante.”

Além disso, o professor Xavier acrescenta que “em nível de espécie, podemos dizer que a maioria [das espécies encontradas], senão todas, são novas para a ciência.”

Para os paleontólogos, essas descobertas vão além. Elas oferecem pistas diretas sobre como os insetos e plantas interagiam em um período crucial da história da Terra – quando novas formas de vida estavam surgindo e os continentes se redesenhavam.

“É um pequeno elo no conhecimento; estamos observando uma pequena parte de Gondwana, mas o estudo nos permitiu entender os organismos que viveriam em uma floresta úmida em uma época em que as plantas com flores estavam apenas começando a aparecer”, diz Delclòs.

É também uma vitória científica para a América do Sul. “O Equador tem pouquíssimos paleontólogos; esperamos que isso incentive jovens talentos a se dedicarem ao estudo de organismos do passado. A divulgação científica é muito importante para atrair novos talentos; comunicar descobertas científicas à sociedade também é um dever dos cientistas”, afirma o professor. 

A maior alegria dos pesquisadores, no entanto, vem do fato de que o âmbar é um tipo de “celebridade” no meio paleontológico.  “O âmbar atrai muita atenção, e isso nos permite alcançar um grande número de pessoas atraídas por algo que já conhecem, mesmo que seja apenas dos filmes Jurassic Park.”

Quando perguntado se, após a descoberta, ele se sentia vivendo em Jurassic ParkXavier Delclòs ri e diz que não gostaria de viver naquela época. “Bem, visualizá-lo, sim, mas estar no meio de uma floresta do Cretáceo é outra história.”

Fonte: abril

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