Saúde

Formiga Parasita: Como ela Manipula Operárias para Matar a Rainha

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Formigas têm sistemas sociais rígidos: as operárias são tão devotadas e submissas às suas rainhas que rebeliões internas parecem impensáveis. Mas uma nova pesquisa revelou uma faceta dramática destes animais, digna de tragédias gregas: em certas espécies do gênero Lasius, rainhas parasitas conseguem invadir colônias de outras espécies e convencer as operárias a assassinarem a própria mãe. Depois, a impostora assume o comando da sociedade.

A descoberta, que os pesquisadores descrevem como “chocante” e “quase trágica”, veio à tona graças a um hobby inusitado. 

O japonês Taku Shimada não é cientista de formação. É um entusiasta de formigas, que passou anos observando, criando e aprendendo sobre esses insetos. O admirador tem até um blog dedicado a elas. Pesquisadores de formigas o conhecem por causa das suas fotografias e seus esforços de viajar pelo mundo em busca de espécies raras.

Alguns anos atrás, em uma região montanhosa do Japão, Shimada encontrou uma rainha de Lasius orientalis, uma espécie parasita conhecida por assumir colônias alheias – embora os cientistas não saibam bem como ela faz isso.

Foi aí que ele teve a ideia de capturar e levar a invasora para casa e colocá-la em uma colônia de Lasius flavus que mantinha em sua mesa de jantar. Shimada introduziu a rainha Lasius orientalis e filmou o que aconteceu então, a fim de entender como ocorre a tomada de poder.

O vídeo mostra o momento em que as operárias da colônia, normalmente ferozmente protetoras de sua rainha e mãe, voltaram-se contra sua rainha legítima e a mataram. De alguma forma, a nova rainha, que tinha sido recém-introduzida, havia conseguido convencê-las a cometer regicídio.

“Fiquei muito surpreso e animado”, escreveu Shimada em um e-mail para o New York Times. “Nunca imaginei que as filhas pudessem atacar a própria mãe.”

Três anos depois das gravações de Shimada, Keizo Takasuka, ecólogo comportamental da Universidade de Kyushu, encontrou as imagens. Intrigado – e “sem palavras”, segundo ele – Takasuka passou a investigar o mesmo fenômeno também em outra espécie parasita, Lasius umbratus, conhecida por se infiltrar em colônias de L. japonicus. Em ambos os casos, as invasoras recorriam a um golpe de Estado refinado. A descoberta foi publicada no periódico Current Biology.

Primeiro, as parasitas camuflavam-se com o odor químico da colônia hospedeira, evitando ser detectadas como intrusas. Depois, ao localizar a rainha residente, lançavam sobre ela jatos de um fluido abdominal – provavelmente rico em ácido fórmico – capaz de neutralizar seu cheiro natural. Do ponto de vista químico, a transformação é imediata: para as operárias, sua mãe agora exala o odor de uma inimiga estrangeira.

Enquanto recuam para longe da confusão, as parasitas deixam que as próprias operárias executem o ataque fatal. Com a rainha morta, a intrusa reassume o centro do poder, põe seus ovos e conduz a colônia até que todas as trabalhadoras originais tenham morrido, substituindo assim a espécie.

Rainhas parasitas, quando optam por matar suas rivais com as próprias mandíbulas, correm o risco de atrair a fúria das operárias defensoras. Manipular as filhas da vítima é uma solução muito mais segura – e maquiavélica. 

O matricídio raramente aparece no reino animal, e, nas raras vezes em que ocorre, costuma oferecer alguma vantagem evolutiva direta aos descendentes. Aqui, porém, o único benefício é conferido à rainha parasita, que evita os riscos e a energia necessários para fundar um novo ninho.

As descobertas levantam novas perguntas sobre as sociedades de insetos e sugerem que, mesmo em sistemas que parecem tão estáveis quanto uma colônia de formigas, a aparência de ordem pode ocultar estratégias de usurpação elaboradas — e dignas das tragédias gregas.

Fonte: abril

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