O quebramento de haste e podridão de grãos da soja seguem intrigando produtores e especialistas em Mato Grosso. Nas últimas três safras os problemas afetaram entre três e quatro milhos de hectares de soja no estado, com maior incidência na região da BR-163. O prejuízo estimado, segundo pesquisadores, gira em torno de R$ 1,5 bilhão.
Apesar do avanço das pesquisas, o assunto ainda desperta atenção tanto de especialistas quanto de produtores rurais, uma vez que a anomalia, como vem sendo chamada, pode tirar muita produtividade da soja no campo.
Diretor de pesquisas da Fitolab, Eder Novaes Moreira, comenta que em um primeiro momento observou-se a questão das variedades de soja e se constatou que há um comportamento distinto entre elas, e que diante disso o produtor acaba assumindo esse risco em plantar a mais suscetível ou não.
Situada em Sorriso, região médio-norte de Mato Grosso, a Fitolab é especialista em conhecimento prático para gerar soluções agronômicas em proteção de plantas, atuando no posicionamento de estratégias de manejos na cultura soja, milho, algodão e feijão.
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O assunto foi um dos temas abordados durante a segunda edição do TecnoFito Soja 2024 em Sorriso nesta terça (9) e quarta-feira (10). Na ocasião foram abordados detalhes técnicos e percepções cruciais da safra 2023 da cultura da soja ao longo da BR-163. Com destaque para 142 cultivares de soja, exploraremos a contribuição da palha em situações de stress térmico e hídrico.
Conforme Eder, algumas práticas culturais auxiliam para minimizar a podridão e assim evitar perdas maiores. Ele frisa que a questão é um problema genético e que se pode levar entre cinco e oito anos para o mercado levar ao produtor materiais que consigam mitigar tal anomalia.
“Um exemplo é o uso de palhada. Uma palhada bem formada de milho ou braquiária, ou do Sistema Santa Fé, tem ajudado bastante. Outro detalhe é a questão de espaçamento, população de planta tem reduzido, o molhamento folear de forma indireta reduz as doenças de modo geral”.
Outro ponto, conforme o diretor de pesquisas da Fitolab, é o equilíbrio da fertilidade da planta também pode dar problema na questão das podridões.
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Clima auxilia na podridão da soja
Dentro das estações experimentais da TecnoFito 2024, que estarão disponíveis para visitação pelas próximas duas semanas, a anomalia da soja se faz presente. De acordo com Eder, as estações foram semeadas na segunda quinzena de outubro, visando acompanhar o período de plantio e desenvolvimento da cultura da soja no estado.
“O que observamos é que ano seco têm muita gente que diz que não vai ter e aqui na estação mesmo, no meio da BR-163, já estamos observando problema de anomalia em alguns materiais. É um problema que veio para ficar e vamos ter que aprender a conviver com ela. Uma das funções do TecnoFito foi trazer soluções, programas, sistema, variedades para reduzir problemas de anomalias”.
Em meio as estratégias de mitigação, e que vem apresentando avanço, está o programa de fungicida. Historicamente na região da BR-163 o número de aplicações realizadas pelos agricultores é de três aplicações. Hoje, são realizadas cinco aplicações.
“Está blindando a soja. Então, todas essas estratégias são coisas que a gente vem trabalhando. Mas, o fator é o clima. O clima é soberano. Se nós tivermos muita chuva em novembro e dezembro vamos ter problema de anomalia. Esse ano choveu 70% a menos que em 2021, ano que eu o problema na anomalia. Então, a perda que a gente vê esse ano foi a questão climática. Essa soja provavelmente vamos ter problema de apodrecimento de vagem. Cada ano é um ano e cada safra é uma safra. Temos que nos adaptar, entender ela e mitigar ela dentro da safra. Temos que levar a sério a anomalia”.
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Estresse térmico e hídrico preocupam safra 23/24
A safra 2023/24 têm sido de preocupação não somente em decorrência a anomalia da soja, mas também em decorrência do estresse térmico e déficit hídrico. Em Sorriso, um dos 27 municípios mato-grossenses com decreto de situação de emergência devido à falta de chuvas durante o plantio, as estimativas apontam perdas de até 50% na produção das primeiras áreas cultivadas.
Presidente do Sindicato Rural do município, Sadi Beledelli comenta que a soja, que era para ter sua colheita iniciada em 10 de janeiro, já era retirada das lavouras em 15 de dezembro.
“Realmente é uma safra muito desafiadora. Clima muito adverso, principalmente novembro e dezembro. Isso afetou alguns materiais, em especial os mais precoces. Temos relatos de vários produtores que iniciaram a colheita com antecipação de ciclos de 15, 20, 25 dias, prejudicando o enchimento de grãos. Com isso, não tendo grão, não tendo produtividade, há relatos do pessoal colhendo 10, 15 sacas por hectare de média nessas primeiras, ou seja, perdas de 30% até 50%”.
A preocupação em torno do clima, causada pelo fenômeno El Niño, tornou-se um dos destaques no TecnoFito 2024, realizado pela Fitolab. Entre as recomendações dos especialistas está a atenção redobrada com a ponte verde e o manejo básico.
“Tivemos a possibilidade de abrir a semeadura um pouco antes. Com esse atraso a gente vai ter que essa safra se estendendo, então temos a permanência das pragas na mesma cultura. Também tem essa preocupação com a cultura que vem depois. Um exemplo bastante claro de hoje, a gente tem de um lado a soja no período reprodutivo, com alta incidência de mosca branca, percevejo acontecendo um pouco também e as lagartas spodopteras, e do outro lado o algodão recém semeado já emergindo e essas pragas migrando”, alerta a entomologista da Fitolab, Gabriela Vieira Silva.
Segundo a especialista, isso vai favorecendo cada vez mais uma adaptação das diversas espécies pragas e doenças dentro do cenário agrícola.
“E se você tem temperaturas mais altas, você tem metabolismo do inseto e isso aumenta a velocidade da reprodução e de todas as atividades biológicas. Com isso a gente diminui o ciclo dele, embora tenhamos algumas situações onde altas temperaturas, associadas a baixa umidade relativa do ar, podem causar a desidratação dos ovos e ali podemos ter uma mortalidade. Mas, de forma geral, essas condições favorecem a ocorrência de insetos. Eu diria que a principal recomendação é retomar esses pontos básicos e trazer o manejo integrado de pragas de fato para dentro da porteira”.
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Fonte: canalrural