Há algum tempo atrás, falamos de dor crônica, agora o assunto é uma das formas mais sofridas desse tipo de dor, a fibromialgia, que não é apenas uma condição crônica, é algo complexo, que vai além da dor física, afeta a saúde mental de todos aqueles que enfrentam esse sofrimento. É um tipo de dor musculoesquelética difusa, ou seja, presente em várias partes do corpo.
Quando se diz que a fibromialgia é algo complexo, é justamente porque o sofrimento é físico e mental e ela não vem só, se faz acompanhada de fadiga persistente, que já inicia ao acordar, mesmo com sono aparentemente de boa qualidade e em quantidade suficiente de horas dormidas, apesar de que o despertar cansado nos remete à provável consequência de um sono não reparador, talvez pelo incômodo doloroso durante a noite. Há também prejuízo da atenção, concentração e memória, além de diminuição da libido e casos de disfunção erétil. Geralmente estão presentes dores de cabeça, alterações do ritmo intestinal e formigamento nas mãos e pés.
Percebe-se a existência de vários pontos extremamente dolorosos à pressão em diversas partes do corpo, conhecidos como “pontos gatilho”. Apesar de tudo isso, não há deformidades ou inflamações corporais aparentes, fato que leva muitas vezes ao descrédito, quando pessoas leigas e até profissionais de saúde duvidam da dor referida ou acham que ela está sendo amplificada pela pessoa que sofre com esse problema.
É forte a conexão entre a fibromialgia – e outras dores crônicas – com a saúde mental. Sabe-se que tanto a fibromialgia quanto os transtornos mentais como depressão e ansiedade estão relacionados com desequilíbrios nos mesmos neurotransmissores – principalmente serotonina, noradrenalina e dopamina, substâncias químicas que regulam tanto o humor, como também a percepção da dor. Ocorre em nível cerebral o que podemos chamar de “sensibilização central”, quando o cérebro elabora de forma alterada os estímulos dolorosos e a percepção da dor.
A depressão e a ansiedade são os transtornos psiquiátricos mais associados à fibromialgia. Outros transtornos mentais, porém, também comumente estão presentes. Dentre eles é possível citar o transtorno de estresse pós-traumático, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de personalidade borderline e transtorno de pânico.
Precisamos compreender que não é nada fácil conviver com uma dor diária, que não chega a desaparecer totalmente ao longo do dia, apenas com horas de alívio em relação à dor maior. Trata-se de um quadro doloroso, que limita atividades físicas e sociais, levando a pessoa ao isolamento, o que termina agravando ou favorecendo o surgimento de quadros depressivos. Cria-se um círculo vicioso, uma vez que a fibromialgia agrava sintomas depressivos e a depressão, por sua vez, diminui a tolerância à dor. Torna-se frequente o afastamento do trabalho e a busca de atendimentos médicos, o que faz da fibromialgia um considerável problema de saúde pública.
Pela complexidade da enfermidade, a abordagem terapêutica deve ser multidisciplinar, incluindo a medicina, a psicologia, a fisioterapia e outras práticas, cujo objetivo seja o controle da dor. A parte médica conta, principalmente, com três especialidades com atuação no tratamento dos pacientes fibromiálgicos – a reumatologia, a psiquiatria e a acupuntura.
Pelo incômodo da dor e dos sintomas psíquicos associados a ela, há necessidade do uso de medicamentos em praticamente todos os casos de fibromialgia. O acompanhamento psicológico visa ensinar estratégias de enfrentamento adaptativo ao quadro doloroso. A fisioterapia, complementada pelos exercícios físicos, pode melhorar a saúde muscular. Técnicas de relaxamento também podem trazer benefícios. Nos dias atuais, ainda contamos com grupos de apoio focados em dor.
Precisamos compreender que a fibromialgia existe, é um quadro grave, parcialmente incapacitante, mas que tem tratamento. Além disso, é importante que a pessoa acometida por essa doença tente manter atividades que julgue prazerosas, o máximo possível, apesar da dor. Isso contribui com o tratamento, alivia as dores e melhora o prognóstico dessa enfermidade.
Fonte: primeirapagina