Notícias

Febre Oropouche: da Regional para Epidemia no Brasil, Preocupação das Autoridades de Saúde

2025 word3
Grupo do Whatsapp Cuiabá

Até pouco tempo, a febre oropouche era uma infecção quase desconhecida fora da Amazônia. Mas em 2025, o vírus rompeu barreiras geográficas e causou um surto nacional: já são mais de 11.800 casos confirmados em 18 estados e no Distrito Federal. O Espírito Santo, distante quase 3 mil quilômetros da região amazônica, lidera o ranking, com mais de 6.300 registros só neste ano.

Com sintomas semelhantes aos da dengue e da chikungunya febre, dor de cabeça, muscular e nas articulações, a oropouche é transmitida por um mosquito minúsculo, o Culicoides paraensis, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora. Presente em todo o território brasileiro, o inseto encontra nas regiões úmidas, com vegetação e matéria orgânica em decomposição, o ambiente ideal para se multiplicar.

A rápida expansão da doença chama atenção de autoridades sanitárias e cientistas, que tentam entender o que permitiu ao vírus ultrapassar seus antigos limites. Uma das principais hipóteses envolve a combinação de desmatamento, alterações climáticas e movimentações populacionais ligadas ao trabalho agrícola.

“Identificamos que a nova linhagem do vírus surgiu no Amazonas e se espalhou a partir de áreas com desmatamento recente, como no sul do Amazonas e norte de Rondônia”, explica Felipe Naveca, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz). “O vírus chegou a outras regiões do país transportado por pessoas já infectadas, que ainda não apresentavam sintomas.”

Outro fator preocupante é a ausência de imunidade da população brasileira, o que facilita a disseminação do vírus em locais onde nunca havia circulado. Além disso, a infecção pode afetar gestantes, com risco de microcefalia, malformações e até morte fetal, semelhante ao Zika vírus. Por isso, o Ministério da Saúde recomenda uso de repelentes, roupas compridas e preservativos durante o período de sintomas.

Espírito Santo na linha de frente

Com pouco mais de 4 milhões de habitantes, o Espírito Santo vive uma realidade atípica: lidera o número de casos de oropouche no país. Segundo o subsecretário estadual de Vigilância em Saúde, Orlei Cardoso, a característica periurbana dos 78 municípios capixabas e a presença de grandes áreas de cultivo criam o cenário ideal para o maruim.

“Os primeiros registros ocorreram durante a colheita do café, época em que trabalhadores de fora do estado circulam pelas lavouras. Muitos passam uma semana em uma cidade e seguem para outra, favorecendo a disseminação”, detalha Cardoso.

O estado tem apostado em capacitações para os profissionais da saúde e agentes comunitários, com foco na diferenciação clínica entre oropouche, dengue e outras arboviroses. Como a doença ainda é nova fora da Amazônia, muitos profissionais não estavam preparados para reconhecê-la.

Clima e desmatamento na equação

Além da movimentação humana e do perfil do mosquito, pesquisadores apontam o clima como peça-chave no avanço da doença. Um estudo internacional envolvendo seis países da América do Sul, incluindo o Brasil, revelou que fatores climáticos como variações de temperatura e volume de chuvas explicam até 60% da disseminação da oropouche.

“Eventos extremos, como secas ou cheias, impactam o ecossistema, afetando tanto os vetores quanto os animais que servem de hospedeiros”, explica Naveca. “No caso da Amazônia, observamos picos de circulação do vírus justamente nas épocas mais chuvosas.”

Do campo para a cidade

O Nordeste também registra crescimento da doença, especialmente no Ceará, que contabilizou 674 casos em 2025. Por lá, o surto começou em áreas rurais de plantio de banana, cacau e mandioca, mas avançou para áreas urbanas.

“No primeiro ano, os casos se concentraram em povoados pequenos da Serra do Baturité. Neste ano, a infecção chegou à cidade de Baturité, que tem cerca de 20 mil habitantes”, relata Antonio Lima Neto, secretário executivo de Vigilância em Saúde do Ceará.

O estado também investe em vigilância laboratorial e atenção especial às gestantes. Em 2024, o Brasil registrou pelo menos cinco mortes fetais e um caso de malformação ligados à infecção por oropouche.

Prevenção e desafios

O controle do mosquito-pólvora é um dos principais desafios das autoridades. Ao contrário do Aedes aegypti, que se reproduz em água parada e pode ser combatido com ações domésticas, o maruim exige estratégias mais complexas.

“O controle do vetor domiciliar tem como base eliminar criadouros. No caso do maruim, que vive nas lavouras e áreas de mata, seria necessário criar uma barreira química entre as plantações e as zonas habitadas, o que é muito mais difícil”, explica Lima Neto.

Para enfrentar a expansão da oropouche, o Ministério da Saúde tem reforçado a vigilância e realizado reuniões periódicas com estados. Estudos em parceria com a Fiocruz e a Embrapa buscam identificar inseticidas eficazes contra o mosquito. Já há resultados preliminares promissores, mas ainda sem aplicação em larga escala.

Enquanto isso, especialistas reforçam medidas simples de prevenção: uso de roupas compridas, telas finas nas janelas, sapatos fechados e eliminação de matéria orgânica em decomposição perto de casa. E, claro, atenção redobrada aos sintomas.

A febre oropouche já mostrou que não é mais uma doença da floresta. E agora, o desafio é nacional.

*Com informações Agência Brasil

Fonte: primeirapagina

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.