Espécies exóticas invasoras são aquelas que se instalam em alguma região que não é seu local tradicional, normalmente por migração forçada devido à ação humana, e começam a representar uma ameaça para os animais nativos da área.
As invasoras se dão tão bem nos novos habitats, já que não têm predadores naturais, que começam a se proliferar de forma descontrolada e bagunçam o equilíbrio dos ecossistemas.
Elas fazem isso, inclusive, carregando outras espécies invasoras com elas: bactérias resistentes que pegam carona nesses animais e podem espalhar doenças em locais onde elas ainda não eram encontradas.
A importância de espécies exóticas na transmissão de doenças é pouco avaliada, porque essas invasoras já causam vários outros problemas para a fauna além desse.
As microscópicas bactérias passam despercebidas enquanto as espécies invasoras ameaçam populações animais nativas inteiras. Mas esse trabalho de desequilíbrio dos ecossistemas é feito em grupo com os microrganismos resistentes.
Agora, uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) resolveu focar na ameaça de espécies invasoras como veículo para bactérias multirresistentes, especialmente aquelas classificadas como prioritárias pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os cientistas da USP fizeram uma revisão de literatura global para evidenciar o papel de espécies invasoras na transmissão cruzada de doenças. A pesquisa foi publicada no periódico One Health.
Proliferação silenciosa
A pesquisa começou com o doutorando Gabriel Siqueira, primeiro autor do artigo, que estudou a resistência da bactéria E. coli nos quatis no mestrado, e mostrou como os mamíferos fofos podem representar uma ameaça de contaminação ambiental.
As melhores evidências que os cientistas encontraram de espécies invasoras carregando patógenos microbianos foram identificadas entre os animais sinantrópicos, que se adaptam para viver junto dos Homo sapiens em áreas urbanas.
Pombos e ratos são bons exemplos de animais que não foram domesticados, mas se acostumaram à vida na cidade grande e agora saem transportando bactérias que podem causar doenças.
Esses animais são considerados portadores silenciosos porque não apresentam sintomas quando estão infectados com as bactérias, o que dificulta a detecção do problema.
Se essas bactérias têm genes de resistência que não são comuns na nova região ocupada pelas espécies invasoras, elas podem se disseminar com mais facilidade entre os animais – e até chegar nos humanos.
As espécies invasoras também podem entrar em contato com bactérias resistentes próprias do ambiente urbano e amplificar o alcance delas, já que se reproduzem com tanta facilidade e não precisam lidar com predadores naturais.
Na revisão de estudos que os pesquisadores fizeram, eles encontraram exemplos de comportamentos como esses no estorninho europeu, uma ave do velho continente que é invasora nos Estados Unidos e trouxe consigo várias bactérias exóticas para as Américas.
O foco dos pesquisadores foi em mamíferos, aves e alguns invertebrados, como os caracóis, que viram reservatórios ambulantes de bactérias.
A ideia do estudo é mostrar que esse é um problema importante, mas ainda pouco estudado em muitas das espécies sinantrópicas. Pesquisas futuras podem se dedicar a mapear essas relações, para lidar com as bactérias antes que virem pragas e conhecer melhor os microrganismos que se espalham pelo Brasil.
Fonte: abril