A falta de medicamentos indispensáveis para o tratamento da leucemia tem comprometido o atendimento a pacientes no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul. A interrupção no fornecimento dos fármacos Azacitidina e Decitabina preocupa quem depende do uso contínuo para controlar a progressão do quadro de saúde, como é o caso do paciente Gustavo Sérgio Techera Leites, de 63 anos.
Gustavo foi diagnosticado com síndrome mielodisplásica em junho do ano passado. A doença, que afeta a medula óssea, leva à produção de células sanguíneas defeituosas e pode evoluir para leucemia mieloide aguda.
A síndrome aumenta o risco de anemia e provoca uma diminuição anormal de plaquetas no sangue — como ocorre com o Gustavo, que necessita de transfusões recorrentes, além da quimioterapia com Azacitidina a cada 28 dias.
Ao chegar para o procedimento, no último dia 15 de agosto, veio a surpresa: o hospital informou ao paciente que o medicamento estava em falta, sem previsão de reposição.
Em ocasiões anteriores de indisponibilidade da Azacitidina, foi administrada a Decitabina — que também está em falta no momento.
Na ocasião, outros pacientes, inclusive vindos do interior, também tiveram que voltar para casa sem passar pela quimioterapia, após serem informados de última hora sobre a indisponibilidade da medicação, segundo relato de Gustavo.
Diante da situação, o paciente e a sua responsável, Evanilde Gomes de Brito, registraram queixa na ouvidoria do hospital e também na 32ª Promotoria de Justiça da Saúde Pública de Campo Grande.
O MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) orientou o paciente a procurar o NAS (Núcleo de Atenção à Saúde) da Defensoria Pública, mas também tomou providências.
O caso foi encaminhado à 76ª Promotoria de Justiça de Saúde de Campo Grande e juntado a um inquérito civil que já apura as causas do desabastecimento de medicamentos quimioterápicos no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.
O MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) também oficiou a FUNSAU (Fundação Serviços de Saúde de Mato Grosso do Sul), “solicitando a adoção das providências necessárias à regularização da oferta dos medicamentos Azacitidina e Decitabina, bem como de outros medicamentos eventualmente em falta.”
Mesmo após a cobrança, a falta do medicamento persistiu, confirmou o próprio Gustavo à 76ª Promotoria, nesta quinta-feira (3).
“Diante da persistência da omissão, foram determinadas novas providências, com reiterada solicitação à administração do HRMS para a imediata regularização do fornecimento dos medicamentos. Além disso, foram encaminhadas cópias dos autos à Promotoria de Justiça de Defesa da Pessoa Idosa, para avaliação e eventual adoção de medidas adicionais, diante da condição de vulnerabilidade do Sr. Gustavo enquanto pessoa idosa.”
MPMS.
O que diz o HRMS
Em nota, o HRMS justificou que a falta dos medicamentos se deu pela “alta demanda”, mas afirmou que os estoques devem ser repostos nos próximos dias.
A reportagem questionou o hospital sobre quantos pacientes estão sendo afetados pela escassez da Azacitidina e Decitabina, mas não obteve confirmação. Confira a nota do HRMS na íntegra.
“O hospital informa que os medicamentos Azacitidina e Decitabina devem retornar aos estoques nos próximos dias. O desabastecimento ocorreu em razão do aumento expressivo da demanda. A instituição ressalta que está empenhada em resolver a questão com a máxima brevidade possível.”
HRMS.
Fonte: primeirapagina