Um gigantesco jato de vento solar, com até 2 milhões de quilômetros de comprimento e formato de “ciclone”, foi registrado em vídeo pela sonda Solar Orbiter, da Agência Espacial Europeia (ESA).
A estrutura, nunca antes observada com tanto detalhe, surgiu após uma poderosa explosão na superfície do Sol e pode ajudar a desvendar como nossa estrela libera energia magnética em escala colossal.
A filmagem foi feita em 12 de outubro de 2022, ao longo de oito horas, mas divulgada apenas em março deste ano, acompanhada de um estudo no The Astrophysical Journal.
Para registrar o fenômeno, a sonda bloqueou o brilho intenso do disco solar, revelando apenas sua atmosfera externa (a chamada coroa solar) e permitindo enxergar detalhes que normalmente só aparecem durante um eclipse.
O evento começou com uma ejeção de massa coronal (EMC), uma explosão que arremessa para o espaço bilhões de toneladas de gás superaquecido (chamado plasma) junto com campos magnéticos. É como se uma “bolha” gigante de matéria solar fosse expelida em altíssima velocidade.
Logo depois dessa ejeção, em vez de se dispersar de forma uniforme, o fluxo de partículas saiu girando em espiral. Os cientistas apelidaram essa formação de “corda de fluxo torcida” ou “pseudoesteira”. Ela se ergueu acima do polo norte solar e permaneceu visível por mais de três horas.
Como se cria um “ciclone” no espaço?
O segredo está nos campos magnéticos do Sol. Eles funcionam como elásticos invisíveis que prendem e direcionam o plasma. Em algumas regiões, esses campos estão “fechados” – formam um circuito que volta para a superfície –, e em outras estão “abertos”, apontando para o espaço.
Quando linhas abertas e fechadas se rompem e se religam de forma repentina, ocorre um fenômeno chamado reconexão magnética. É como se você torcesse e soltasse um elástico: a energia acumulada se libera instantaneamente, empurrando matéria e gerando calor.
Essa reconexão pode criar jatos de plasma que escapam por buracos coronais, áreas mais escuras e frias na coroa, que agem como portões por onde o vento flui mais facilmente.
No caso registrado pela Solar Orbiter, a reconexão foi tão intensa que formou um tubo de plasma retorcido, que girava enquanto avançava para o espaço.
As medições mostram que, à medida que essa estrutura subia, seus campos magnéticos se alinhavam cada vez mais na direção radial do Sol, o que influencia como a energia e as partículas se espalham pelo sistema solar.
Além dos campos magnéticos, há outro elemento importante: as ondas de Alfvén. Esse tipo de oscilação viaja por uma corda invisível, formada por linhas de campo magnético repletas de partículas carregadas, empurrando e acelerando o plasma e ajudando a moldar o vento solar.
Fenômenos assim já eram conhecidos, mas a filmagem de um “ciclone” tão grande e duradouro é inédita e pode revelar de que forma essas ondas atuam em eventos extremos.
O registro foi feito pouco antes do início do máximo solar – o ponto de maior atividade no ciclo de 11 anos do Sol, que começou oficialmente em 2024. Nessa fase, explosões e ejeções de massa coronal são mais frequentes e intensas.
Nos próximos anos, espera-se que ocorram tempestades mais fortes, algumas capazes de interferir em satélites, comunicações, redes elétricas e até de gerar auroras visíveis em latitudes incomuns.
Fonte: abril