O Tribal House brasileiro tem ganhado força e prestígio em clubes, festivais e pistas internacionais. O gênero, conhecido por suas batidas intensas, vocais marcantes e forte conexão com a cultura LGBTQIA+, tem em DJs como Adham, Mario Beckman e Anne Louise representantes que não apenas fazem o público ferver, mas também exportam a identidade sonora e cultural do Brasil.
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Fotos: Divulgação
O som que atravessa fronteiras
A principal diferença do Tribal House feito no Brasil quando comparado aos do exterior está na definitivamente na energia. Ele é quente, visceral, cheio de alma e com assinatura própria — algo que vai além dos beats. Anne Louise, DJ baiana que vive pelo mundo levando o som brasileiro aos mais diferentes locais do globo, fala até mesmo em ancestralidade para definir:
“O Tribal House brasileiro tem uma força ancestral, uma energia visceral que conecta as pessoas na pista – mesmo que elas não entendam a língua. É como se o som falasse diretamente com o corpo e com a alma.”
O som feito no Brasil carrega uma personalidade única, que mistura ritmos regionais, percussões marcantes e até elementos do pop nacional. A brasilidade não é só detalhe: é o centro da construção sonora desses DJs. O DJ Adham, residente do selo brasileiro GUAPO, explica como essa mistura impacta o público:
“Gosto de brincar com memórias sonoras, resgatar timbres ou frases que despertam lembranças, e ao mesmo tempo surpreender com algo novo. Essa mistura cria uma conexão forte com o público. É Tribal com alma brasileira, personalidade forte e muita emoção na pista.”
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Mario Beckman, que já participou de grandes eventos da cena no mundo, como o Circuit Festival que soma mais de 70 mil pessoas no público em mais de 20 festas, reforça o valor dos elementos nacionais na pista internacional:
“Boa parte do público já espera algum vocal em português ou elementos de samba ou funk carioca nas tracks. Procuro tocar as trends de vocais nacionais que sei que o país consome. Muitas vezes, trago esses elementos de brasilidade combinados com vocais internacionais, criando uma ponte entre culturas.”
Resistência e representatividade
Apesar do reconhecimento no exterior por parte do público e contratantes internacionais, os DJs ainda enfrentam preconceitos e barreiras. Eles ainda destacam que ainda há uma distância entre o que é produzido no Brasil e o apoio que recebem da indústria nacional. Mario Beckman fala sobre essa visibilidade limitada:
“Por mais que o Tribal seja consumido pela comunidade LGBTQIAPN+ e que nossas produções circulem em festivais fora do Brasil, ainda é uma cena que luta por mais espaço. As plataformas digitais como SoundCloud e YouTube ajudam muito, mas a visibilidade nas grandes mídias e nos festivais nacionais ainda é pequena. A gente segue buscando esse lugar.”
Mario Beckman e Anne Louise. Foto: Divulgação | Instagram @annelouise
Anne Louise também fez questão de salientar a negligência do mercado nacional para com os artistas brasileiros de Tribal House. Para ela, falta entendimento da importância do trabalho dos DJs no panorama global:
“Muitos de nós seguimos na raça, na paixão e na resistência. Existe um abismo entre o que produzimos e o suporte que recebemos. Levar o Brasil para o mundo não é só uma conquista pessoal, é uma vitrine poderosa da nossa cultura. Mas ainda falta essa consciência no mercado nacional. Falta entender que quando uma DJ brasileira toca Tribal House em outro país, ela está fazendo diplomacia cultural através da música, das batidas. E isso tem um valor imenso.”
Anne também ressaltou a luta ainda maior das mulheres na cena: “No mercado global, ainda falta mais abertura em muitos países, mais espaço real e menos tokenismo. A gente precisa trabalhar o dobro pra receber reconhecimento. Mas eu sigo firme, porque estar aqui é também abrir caminho pra outras que virão e elas virão com tudo,” disse.
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O Tribal BR nos grandes palcos do mundo e novos ouvintes para artistas nacionais
Se engana quem ainda acha que o Tribal brasileiro é underground demais para exportação. O som tem atravessado fronteiras e ganhado espaço em grandes eventos ao redor do mundo, cheios de consumidores em potencial da nossa música nacional.
Além disso, a força do Tribal também se conecta com o pop feito no Brasil e essa mistura vem sendo uma ponte para alcançar ouvintes em potencial para os nossos artistas.
“Sempre que toco fora, vejo olhares de curiosidade se transformarem em olhos fechados, braços pro alto e corações abertos”, conta Anne Louise. “A música brasileira tem esse poder: ela chega antes da explicação. É uma explosão de energia.”
Adham. Foto: Instagram @adham.dj
Adham tem a mesma percepção: “A música brasileira chega a algum canto novo do mundo a cada dia. É cada vez mais comum ver DJs de fora incluindo sons brasileiros nos sets. Anitta é um dos maiores exemplos disso: ela não impacta só o pop, mas influencia toda a indústria, abrindo caminhos e despertando interesse pela nossa identidade musical.”
Já Mario reforça o avanço, mas também salienta que ainda existem desafios:
“A aceitação é o maior desafio, mas temos conseguido cada vez mais espaço nos festivais internacionais, e os DJs brasileiros são maioria em muitos line-ups”.
O futuro do Tribal brasileiro
O futuro é promissor para o Tribal brasileiro. Os três DJs acreditam que o gênero ainda tem muito a crescer em todo o mundo e que, com mais apoio e reconhecimento, pode transformar ainda mais a música eletrônica global com a personalidade e toque brasileiro.
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“É preciso apostar na identidade, na inovação e em um som de qualidade. Misturar elementos brasileiros de forma autêntica, isso chama atenção e cria algo único. Quando o trabalho é consistente, bem produzido e diferente do que já existe lá fora, naturalmente os produtores internacionais começam a olhar pro Brasil com mais interesse,” comentou Adham.
Anne complementou:
“A gente precisa ocupar espaços fora do circuito alternativo, trazer essa linguagem pras grandes plataformas, pros festivais, pra mídia. E isso começa com representatividade — de artistas, de produtores, de narrativas. O Tribal é festa, é política, é identidade. Ele só precisa ser escutado com o respeito que merece.”
Made in GUAPO
Um dos mais importantes selos de Tribal House no Brasil é a GUAPO. Criada por Eudes Freire, Leandro Paes e Maurício Lagrecca, a GUAPO é mais do que uma festa, mas sim uma experiência que celebra a liberdade, a música e o orgulho de ser quem se é.
Nascida no Rio de Janeiro, a festa já conquistou o Brasil e o mundo, com edições internacionais e, principalmente, inovação. A GUAPO foi o primeiro evento LGBTQIAP+ do Brasil a entender os DJs como performers, oferecendo um formato diferente de apresentação e conteúdo.
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A cada edição, a GUAPO apresenta um tema exclusivo, que dá origem a toda uma atmosfera pensada nos mínimos detalhes para o seu público. No último réveillon, o selo realizou mais uma edição da pool party com um grandioso show protagonizado por Mario Beckman, que inspirou a novidade da marca: a Made in GUAPO. A nova festa carrega toda identidade e originalidade do nosso país, celebrando o espírito vibrante do Brasil.
No próximo dia 26 de julho a Made in GUAPO ganhará a sua primeira edição em Fortaleza, no Ceará. A festa será realizada no Terminal Marítimo da cidade e os ingressos já estão à venda. Há opção de ingresso pista e também open bar.
Fonte: portalpopline