Não há dúvidas de que atividade física faz bem. Porém, talvez não seja a melhor ideia passar sete dias da semana se matando na academia – pelo menos, para sua mente. É isso que aponta uma nova pesquisa sobre como o exercício impacta o envelhecimento do cérebro. Segundo cientistas, nem sempre mais é melhor.
O estudo, publicado na Health Data Science e liderado pela professora associada Chenjie Xu, da School of Public Health da Hangzhou Normal University, traz evidências de que níveis moderados de atividade física ajudam a desacelerar o envelhecimento cerebral. O achado vem de uma análise de quase 17 mil voluntários do UK Biobank, um dos maiores bancos de dados biomédicos do mundo.
Utilizando uma combinação de imagens de ressonância magnética cerebral e dados de acelerômetros de pulso – que monitoraram os movimentos dos participantes durante sete dias consecutivos –, os pesquisadores aplicaram algoritmos de inteligência artificial para calcular o que eles chamam de “idade do cérebro”.
O resultado foi uma curva em formato de U. Tanto a falta quanto o excesso de atividade física estiveram associados a um envelhecimento cerebral mais acelerado. Em outras palavras: caminhar muito pouco é prejudicial, mas passar horas na academia também é.
“Nosso estudo não só confirma uma relação não linear entre exercício e envelhecimento cerebral, mas também traz um recado claro: mais exercício nem sempre significa melhor. A chave está na moderação,” afirmou Xu em comunicado.
Para medir o envelhecimento cerebral, a equipe desenvolveu um modelo baseado em mais de 1.400 marcadores anatômicos extraídos das imagens de ressonância. A diferença entre a idade cronológica e a idade cerebral, o chamado Brain Age Gap (BAG), tornou-se o indicador central.
Indivíduos com BAG elevado tinham cérebros estruturalmente mais velhos do que o esperado para sua idade. Este fator é associado a pior desempenho cognitivo e maior risco de doenças como demência e depressão.
Os dados mostraram que práticas regulares de atividades física, de preferência moderadas ou vigorosas, estavam associadas a BAG significativamente menor. Para quem pratica atividades moderadas, o BAG foi menor aos 500 minutos por semana (pouco mais de uma hora por dia). No caso de atividades vigorosas, 100 minutos por semana (14 minutos por dia) esteve associado ao menor BAG. No caso da atividade vigorosa, a redução foi estatisticamente alta.
Por outro lado, os extremos – sedentarismo ou treinos extenuantes – estavam correlacionados a maiores volumes de lesões na substância branca, além de redução no volume de regiões-chave do cérebro, como o córtex cingulado, os núcleos caudados e o putâmen. Eles são responsáveis por regular e executar os movimentos, além de cruciais para funções como tomada de decisão, memória e controle motor.
Três horas e meia de atividade moderada por dia ja são suficientes para acelerar o envelhecimento do cérebro, em comparação a quem faz uma hora por dia. O mesmo vale para quem faz 200 minutos de atividade intensa por semana, comparado a quem faz 100.
A pesquisa também supera uma limitação recorrente em estudos sobre atividade física e saúde cerebral: a dependência de dados auto relatados. Ao usar acelerômetros, os cientistas conseguiram medir objetivamente os padrões de movimento, evitando os vieses de memória ou interpretação dos participantes.
“Acredito que estamos entrando em uma nova era da ciência do envelhecimento, onde podemos integrar dados comportamentais, biológicos e neurais para entender não apenas quanto vivemos, mas como nosso cérebro envelhece,” disse Xu.
O estudo é parte de um projeto mais amplo que visa construir um modelo multiescalar do envelhecimento. A equipe já planeja incorporar variáveis como padrões de sono, tempo sedentário, dados genômicos e proteômicos, além de imagens cerebrais ao longo do tempo.
Os próximos passos envolvem estudos longitudinais para observar como mudanças no estilo de vida (por exemplo, ajustes no nível de atividade física) podem efetivamente remodelar o envelhecimento do cérebro. Paralelamente, análises genéticas e moleculares devem ajudar a desvendar os mecanismos biológicos que tornam o cérebro mais resiliente ou mais vulnerável ao tempo.
Fonte: abril