Zeca Baleiro e Chico César são amigos desde os anos 1990. Chegaram a dividir apartamento em São Paulo (SP), cada qual no seu duelo com Ca cidade gigantesca para se estabelecer como artistas. Em comum, além da veia musical, a origem nordestina: Chico, o primeiro a chegar no Sudeste, vindo de Catolé da Rocha, na Paraíba, e Zeca, de Ariri, no Maranhão. Apesar de próximos, haviam compartilhado poucas composições, até a pandemia detonada pelo coronavírus, quando a quarentena os fez mais parceiros.
Dos dias sem poder fazer shows, brotaram duas dezenas de canções. Onze delas estão reunidas em “Ao Arrepio da Lei”, título do álbum lançado em março de 2024 e da turnê em andamento, que chega a Campo Grande no domingo 9 de junho.
Das faixas do álbum lançado em março, duas foram divulgadas ainda em 2021, “Respira” e “Lovers”, essa última espécie de ironia, em letra e melodia, aos odiadores da internet, os haters.
Veja o clipe:
Em 2022, mais duas produções vêm à tona: “Beije-Me Antes” e “Verão”.
Sem muita pressa, “Ao Arrepio da Lei” foi concluído em 2023. O lançamento esperou março de 2024, com a largada da turnê na capital do Paraná, Curitiba.
Em Campo Grande, Zeca Baleiro e Chico César vão subir ao palco no projeto “MS ao Vivo”, instalado no Parque das Nações Indígenas. Quem for, vai ouvir canções da produção em conjunto da dupla de cantores e compositores, e também hits individuais.
Do disco novo, há uma música para destacar, “Mocó”. É que ela cita a fronteiriça Ponta Porã, em versos sobre os vaivéns da vida, geográficos ou não.
“Quem de Pirapora é
E Arari ou Catolé
Ou de Uberaba vem
Trouxe o coração no trem
Quem na vida
Vem vagar
Casa é qualquer vagão
Forasteiro no lugar
Mais do mundo cidadão
Itabira onde será
Santo Amaro, Santo Antão
É a Síria ou Ceará
E Saara ou Sertão
É incerto onde mora
Demora a marcar o chão
Demarcar onde há mar
Só dentro do coração
Quem deixou o Piancó
Seu lugar no cafundó
Para alugar sem fiador
Uma vaga no Mocó
Quem movido pela fé
Se atirou nesse mundão
Para ir aonde der
Derramar amor, paixão
Nas marquises sem abrigar
Ou brigar na estação
Para poder viajar
No degrau do lotação
Quem os olhos a brilhar
Na mais funda escuridão
Sonha ter o seu lugar
Para além da solidão
Quem os olhos a brilhar
Na mais funda escuridão
Sonha ter o seu lugar
Para além da solidão
Moça vem de Mossoró
Para zanzar só na Sé
A uns metros do metro
Foi menino, hoje é mulher
Teve catapora lá
Em Ponta Porã casou
Com um poeta de além mar
Que o oceano atravessou
E agora ao Deus dará
Que horas são em Santarém
Senta no chão pra chorar
Quem me dera ser alguém
Dói a flor do Grão Pará
Carapicuíba fio
As vezes dá um vazio
Mas viver é não parar”
Ouça “Mocó”
Não é a primeira vez que Ponta Porã é lembrada na voz de Zeca Baleiro. Em 2010, no título “Trilhas para Cinema e Dança”, ele gravou “Cunhataíporã”, do sul-mato-grossense Geraldo Espíndola.
No set list do show de domingo, o clássico regional não está previsto, a menos que haja uma surpresa para o público. Mas você pode ouvir de novo, se já conhece, ou conhecer, neste link.
O reencontro dos dois artistas nordestino com a capital de Mato Grosso do Sul ocorre após bastante tempo. Zeca Baleiro, apurou a reportagem, tocou por essas bandas em 2007. Chico César se apresentou antes ainda, nos anos 2000.
Estarão acompanhados no palco de Alexandre Fontanetti (guitarra), Aline Falcão (teclados), Jota Erre (bateria), Layla (percussão) e Swami Jr. (baixo e direção musical).
A abertura da apresentação será de Jerry Espíndola, com o espetáculo “40 tons”.
Serviço:
Onde será o show: Parque das Nações Indígenas
Que horas: A partir das 17h
Quanto custa: de graça.
Fonte: primeirapagina