Você já ouviu falar em aldravias? São poemas curtos, mas repleto de significados. Este é o tema do podcast literário Tá Lendo o Quê, da Morena FM, desta sexta-feira (7), que apresenta a obra Trancas e Aldravias, da escritora sul-mato-grossense Iolete Moreira. É um convite para quem quer contemplar a poesia presente em poucas palavras.
Confira o episódio completo da Morena FM:
“Uso aldravia c’medida conforme recomendação poética”
O trecho acima, com apenas 6 palavras soltas, é uma das aldravias escritas pela autora Iolete Moreira, pioneira do gênero no estado. Segundo ela, essa jovem categoria foi criada há pouco mais de 20 anos.
“Trancas e Aldravias” é assim mesmo: simples, curto e objetivo, para formar uma poesia em que a interpretação fica a sabor do leitor.
“Aldravias é uma poesia minimalista, a única que não é de origem europeia, é brasileira. Foi instituída em Mariana, Minas Gerais, por um grupo de intelectuais, que perceberam a necessidade de criar um tipo de poesia com poucas palavras, pois o povo brasileiro não gosta muito de ler, preferindo notícias curtas como as da internet.”
Iolete Moreira
Dividida por temas como direitos das mulheres, família, guerra e paz, e mudanças climáticas, a obra reúne mais de 100 poesias.
As queimadas no bioma Pantanal foram inspiração para uma das aldravias de Iolete.
“Pantanal sofre ar/dor chamas e fumaças”.
O limite de seis palavras, segundo a escritora, se dá de forma aleatória, mas preocupada com a produção que condense o máximo de significado com o mínimo de palavras.
“Esse livro é para todas as idades: crianças, adultos e idosos, porque é uma forma prática de levar o gosto pela leitura através das aldravias. A força das palavras e como é bom conhecer palavras. Você tem que ter seis palavras inteligentes para montar uma frase. O leitor vai ler e construir a dele.”
O movimento cultural defende a expressão de liberdade, o rompimento de barreiras formais de produção e a ousadia de criar conceitos novos. Confira abaixo outra poesia:
“Vida, saudável, procura, primavera no calor.”
O prefácio da obra foi confiado à também escritora Raquel Naveira. Ela é uma incentivadora e entusiasta do estilo.
“Iolete é pioneira, tão contemporânea no ritmo da linguagem da internet, na síntese com profundidade. É um projeto literário singular. Foi uma alegria escrever o prefácio. Termino com essa aldravia: ‘Novo gênero chega dá licença poesia?’”
A força de um livro está definitivamente em seu texto, mas quando há ilustrações, ele se torna mais encantador. Entre desenhos e pinturas multicoloridos, o artista plástico Guto Naveira deu vida às páginas, combinando o clássico pop art com o tradicional cartoon dos desenhos animados e do grafite.
“Participar do projeto foi uma honra, muito legal. Foi uma imersão na obra, exigiu bastante concentração para poder passar o lado lúdico, bem simples da poesia como um todo. São poemas muito contemporâneos que vale a pena conferir. Qualquer página do livro que se abre é um presente e a ilustração tentou seguir esse caminho.”, disse.
Fonte: primeirapagina