O pé grande pode não ser real, mas o Pé Pequeno já deixou suas pegadas pela Terra. Esse é o apelido do espécime StW 573, um dos fósseis de hominídeos mais completos já encontrados no mundo. Seus ossos dos pés, que lhe renderam a alcunha, foram descobertos nos anos 1990 na África do Sul, mas o fóssil completo só foi revelado ao público em 2017. Agora, um novo estudo sugere que o Pé Pequeno (ou Little Foot) pode pertencer a uma espécie de hominídeo ainda desconhecida pela ciência.
Os ossos do calcanhar do Pé Pequeno foram escavados por volta do ano 1980 no sistema de cavernas de Sterkfontein, a 40 km de Joanesburgo. Eles ficaram guardados em um museu até serem redescobertos pelo paleontólogo Ronald Clarke em 1994, que resolveu buscar mais ossos no sítio. Os ossos estavam cravados em rochas firmes como concreto, o que demandou um delicado trabalho de extração de mais de 20 anos na região. Valeu a pena: a equipe de pesquisa recuperou 90% do esqueleto do hominídeo.

Clarke, que liderou a equipe de descoberta do fóssil nos anos 1990, atribuiu o Pé Pequeno à espécie Australopithecus prometheus. Outros pesquisadores sugeriram que o fóssil poderia ser da espécie Australopithecus africanus, que já havia sido encontrada no mesmo sistema de cavernas em que o Pé Pequeno foi escavado. Já o novo estudo publicado no periódico American Journal of Biological Anthropology sugere uma terceira opção.
A equipe liderada por um pesquisador da Universidade La Trobe, na Austrália, comparou o Pé Pequeno com um fóssil de Australopithecus prometheus (chamado MLD 1), e com outros fósseis consensualmente atribuídos à espécie A. africanus. Embora o Pé Pequeno pertença ao gênero Australopithecus (grupo que existiu na África a partir de 4,3 milhões de anos atrás), ele não se assemelha a nenhuma das espécies descritas.
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As diferenças encontradas se concentram no crânio. Os autores notaram que o Pé Pequeno possui um plano nucal (uma região na base do crânio) mais alongado que o MDL 1. Essa região, em específico, não muda rapidamente ao longo da evolução humana. Por esse motivo, eles argumentam que diferenças na base do crânio têm mais chances de indicar espécies distintas.
Os pesquisadores vão além: no artigo, eles escrevem que o MDL 1 se parece mais com os membros da espécie Australopithecus africanus do que com o Pé Pequeno. “A. prometheus deve ser visto como um sinônimo júnior [ou seja, a mesma espécie só que com um outro nome] do A. africanus com base nas semelhanças morfológicas entre o MDL1 e a amostra maior de A. africanus”, escrevem os autores. Grosso modo, eles dizem que o A. prometheus e o A. africanus são a mesma espécie, e o Pé Pequeno pertence a uma espécie distinta.
Vale pontuar que essa não é uma reclassificação formal. Ao jornal The Guardian, os autores dizem que seria mais apropriado que a possível nova espécie fosse nomeada pela equipe de pesquisadores que passaram mais de duas décadas escavando e analisando o Pé Pequeno. “Esperamos que eles vejam nossa sugestão sobre esse tema como um conselho bem intencionado”, disse Jesse Martin, que liderou o novo estudo.
Fonte: abril






