Nesta semana, o quarto filme da franquia Jurassic World chega aos cinemas. É uma boa oportunidade para os fãs de dinossauros de ouvir os rugidos poderosos dos animais pré-históricos num sistema de som de respeito.
Esses sons assustadores supostamente produzidos pelos dinos fazem parte do imaginário popular, mas são mais criações dos engenheiros de som de Hollywood do que descobertas da comunidade científica.
O aparelho fonador dos dinossauros, conjunto de órgãos responsável pela emissão de sons que compõem a comunicação oral, era composto por tecidos moles que dificilmente viram fósseis.
Tudo que se sabia sobre o barulho que os dinossauros faziam era baseado em especulações de paleontólogos a partir de alguns canais que os animais tinham para perceber sons, ou de algumas características no crânio que poderiam servir como câmaras de ressonância.
Agora, a ciência está começando a ter uma ideia melhor de como era a voz dos dinos. Em 2023, pesquisadores encontraram um fóssil no deserto de Gobi, na Mongólia.
Era uma laringe em bom estado de preservação do Pinacosaurus grangeri, um herbívoro encouraçado de cerca de três toneladas, dois metros de altura e cinco metros de largura que viveu entre 85 milhões e 75 milhões de anos atrás.
Num estudo publicado na Nature Communications Biology a partir da descoberta do fóssil, cientistas do Japão e dos Estados Unidos sugeriram que esse anquilossauro provavelmente emitia um som parecido com o canto das aves.
Dinos cantores
A laringe do Pinacosaurus grangeri é o primeiro órgão vocal encontrado de um dinossauro não aviário (ou seja, que não evoluiu para virar uma das aves modernas).
Antes disso, todos os estudos sobre os sons dos dinos eram baseados nas estruturas de audição encontradas em fósseis, propícias para frequências baixas. A suposição por trás dessas pesquisas é que os animais podem perceber os mesmos tipos de sons que eles podem produzir.
Em 1995, paleontólogos do Museu de História Natural do Novo México conseguiram um fóssil do crânio de um Parasaurolophus tubicen. Depois de dois anos de pesquisa, eles fizeram uma simulação computadorizada de como seria a voz dele.
O resultado foi parecido com uma buzina de barco. É provável que a maioria dos dinossauros emitisse sons graves com comprimento de onda longo, diferentes dos gritos e rugidos do Jurassic World.
Por causa desse e outros estudos, a comunidade científica considerava improvável que alguns dinossauros emitissem sons agudos, como o canto de suas parentes evolutivas, as aves.
Agora, a laringe de Pinacosaurus pode mudar essa história. O órgão é muito parecido com as laringes de aves modernas, e podia produzir sons parecidos com os de um papagaio.
“Podemos dizer que o Pinacosaurus basicamente soava de forma parecida com as aves”, explicou o paleontólogo japonês Junki Yoshida, o principal autor do artigo sobre a laringe fossilizada, para o jornal espanhol El País.
Essa conclusão bate com outros estudos baseados no ouvido interno de dinossauros da mesma família, que sugeriam que eles podiam ouvir mais frequências sonoras do que outros dinos.
Talvez o canto agudo tenha se desenvolvido evolutivamente como ferramenta de proteção, para se comunicar de forma que escapasse dos ouvidos dos grandes predadores. Por enquanto, isso é só suposição, e mais estudos são necessários para entender melhor o que a descoberta da laringe significa.
Não dá para pegar essa descoberta e generalizar para todos os dinossauros, que provavelmente não tinham a mesma capacidade sonora dos Pinacosaurus. Porém, a partir desse fóssil único, os cientistas vão poder reavaliar vários restos mortais inconclusivos para buscar evidências de estruturas parecidas com a desses anquilossauros cantores.
Fonte: abril