Muitas baleias falam cantando. O padrão de sons que elas repetem para se comunicar se assemelha às regras rítmicas que os humanos usam para escrever música. Apesar do floreio artístico, a comunicação das baleias pode ser tão eficiente quanto a comunicação humana – ou até mais.
Mas o que seria uma comunicação eficiente? Pensa só: é melhor gritar “pega ladrão!” do que falar “pessoal, aquela pessoa que está correndo de forma irresponsável no meio da multidão acabou de arrancar meu celular da minha mão e está fugindo! Por favor, me ajudem a pegá-lo e recuperar meu telefone!” Até terminar seu discurso, o ladrão já correu dois quarteirões – e você ficou sem voz.
“Eficiência em comunicação é expressar o máximo de informação com o mínimo de esforço”, explica Mason Youngblood em entrevista à Super. O pesquisador analisou 65.511 sequências de canto de baleias e comparou-as com 51 línguas humanas. O foco do estudo, publicado no periódico Science Advances, foi eficiência temporal: expressar o máximo de informação no mínimo de tempo. Para fazer isso, ele usou a lei Menzerath e a lei Zipf, dois conceitos importantes da linguística.
De acordo com a lei Menzerath, um construto linguístico grande vai ser mais eficiente se contar com várias subdivisões pequenas. Uma palavra enorme vai ser dividida em várias sílabas pequenas, por exemplo.
Já a lei de Zipf afirma que a comunicação é mais eficiente quando os elementos individuais usados com mais frequência (como as palavras) são mais curtos. A palavra mais repetida deste texto, por exemplo, provavelmente é ser algum pronome, artigo ou um verbo curtinho.
O estudo de Youngblood usou essas leis de linguística geral, criadas para entender a linguagem humana, para analisar o canto de 16 espécies de cetáceos diferentes, mamíferos marinhos como golfinhos, odontocetos (que tem dentes, como as orcas) e misticetos (animais que têm filamentos queratinizados ao invés de dentes para proteger a boca e capturar as presas).
Falando baleiês
Youngblood é pesquisador da Universidade Stony Brook, uma instituição pública de ensino no estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Para realizar esse estudo independente, ele utilizou vários bancos de dados pré-existentes com as vocalizações dos cetáceos, com o tempo de início e fim de cada canto. Com base nos sons mais comuns e na sua duração, ele analisou a prevalência das leis linguísticas nas baleias.
Das 16 espécies de cetáceos analisadas, 11 se saíram tão bem quanto os humanos na lei de Menzerath, ou até melhor. Só as jubartes e baleias-azuis seguiam a lei de Zipf.
Youngblood ficou surpreso com a descoberta sobre a lei de Menzerath, e levantou uma possível explicação: “os cetáceos vocalizam debaixo da água enquanto estão segurando a respiração, o que requer que eles reciclem o ar e façam outras adaptações especiais. Isso pode aumentar a pressão para ser mais eficiente com o tempo”.
Ninguém sabe muito bem por que as baleias conversam tanto entre si. “Jubartes e baleias-da-groenlândia usam a canção para cortejar parceiros românticos, enquanto golfinhos e orcas provavelmente se comunicam para coordenar a caçada”, explica Youngblood. Tudo varia de acordo com espécie, e mesmo as que a gente mais conhece continuam guardando seus mistérios comunicacionais.
As leis linguísticas dos seres humanos também são aplicáveis a outros animais. Pássaros, e macacos e sapos também já tiveram sua comunicação analisada de perto. Para Youngblood, “quanto mais nós procuramos esses padrões, mais os encontramos”.
Um dia depois da publicação de Youngblood, um artigo sem associação foi publicado na Science sobre o mesmo tema. Os pesquisadores aplicaram métodos quantitativos normalmente usados para avaliar a fala das crianças para estudar o canto das baleias-jubarte. Esse estudo também mostrou que as jubartes seguem a lei de Zipf, e têm padrões vocais muito complexos e parecidos com os dos humanos.
Fonte: abril