Um estudo publicado na revista iSciente nesta quinta aponta uma correlação entre a temperatura e a complexidade dos discursos pĂșblicos de polĂticos. Quanto mais quente, menor Ă© a sofisticação das suas falas â ou seja, preferem palavras menores e frases mais curtas.
A pesquisa usou uma base de dados de 7,4 milhĂ”es de discursos parlamentares feitos entre 1950 e 2019 nos Estados Unidos, na Nova ZelĂąndia, na Inglaterra, Dinamarca, Holanda, Alemanha, Espanha e Ăustria. Os pesquisadores estabeleceram a mĂ©dia de conforto tĂ©rmico como entre 12ÂșC e 18ÂșC, de forma que dias com temperaturas mais altas do que essas foram considerados quentes â ou seja, padrĂ”es irreais para o Brasil.
Os cientistas desenvolveram um sistema de modelagem computacional que permitiu analisar as flutuaçÔes aparentemente aleatĂłrias das temperaturas diĂĄrias, assim como as variaçÔes nos prĂłprios padrĂ”es de fala de cada indivĂduo. Eles explicam que a abordagem lhes âpermitiu isolar o efeito da temperatura sobre a linguagem dos polĂticosâ, excluindo da conta outros fatores que podem alterar esses resultados, como influĂȘncias prĂłprias de cada paĂs e cultura, o dia da semana em que o discurso foi proferido e os prĂłprios maneirismos de cada indivĂduo, o que gerou âresultados surpreendentemente clarosâ.
A base de dados alemĂŁ era a Ășnica que continha dados de gĂȘnero e idade dos polĂticos, o que permitiu uma anĂĄlise dos impactos do calor mais segmentada por pĂșblico.Â
âUma descoberta surpreendente Ă© que o efeito Ă© muito maior em polĂticos mais velhos em comparação com seus colegas mais jovens na Alemanhaâ, diz Conte Keivabu. âEsse resultado nĂŁo apenas se destaca como interessante por si sĂł, mas tambĂ©m aumenta nossa confiança nas conclusĂ”es do estudo. Ă lĂłgico que indivĂduos mais velhos podem ser mais suscetĂveis a temperaturas extremas, o que se alinha com nossa observação e ressalta a robustez de nossas conclusĂ”es.â
A hipĂłtese dos cientistas Ă© que a causa pode estar relacionada Ă uma redução da capacidade cognitiva causada pelo calor.Â
âHĂĄ muito tempo o calor tem sido associado a uma sĂ©rie de impactos negativos na saĂșde, incluindo o aumento do risco de queda na produtividade e no desempenho cognitivoâ, diz Risto Conte Keivabu, um dos responsĂĄveis pela pesquisa, do Max Planck Institute for Demographic Research, na Alemanha. âNosso estudo destaca que esse fenĂŽmeno se estende aos polĂticos, que sĂŁo encarregados de responsabilidades crĂticas.â
Mas eles destacam que mais estudos sĂŁo necessĂĄrios na ĂĄrea: âReconhecemos que a [complexidade da fala] Ă© apenas um indicador do desempenho cognitivo, e nĂŁo uma medida perfeita deleâ. Ou seja, ainda nĂŁo dĂĄ para dizer que calor causa burrice.Â
Fonte: abril