Um novo estudo descobriu como usar penas de pinguins para criar um mapa da contaminação por mercúrio, que ameaça cada vez mais animais do Hemisfério Sul.
O mercúrio (Hg) é um elemento químico tóxico. Ele assume a forma líquida em temperatura ambiente, mas basta o termômetro aumentar para o elemento virar um vapor maligno e corrosivo. Esse material deve ser manuseado com o uso de luvas, máscaras e em locais restritos – ou, pelo menos, deveria ser assim.
Na América do Sul, o mercúrio costuma ser usado para a mineração do ouro, muitas vezes realizada pela dragagem de rios. Para separar os quilates de outros sedimentos, os mineradores acrescentam mercúrio líquido à mistura, que forma uma camada ao redor do metal. Após a queima do mercúrio, o que sobra é o ouro sólido – e muito gás poluente na atmosfera.
Uma vez na atmosfera, ele pode retornar ao ambiente de três maneiras, de acordo com um estudo que examina a poluição por mercúrio na Amazônia: dissolvido na chuva, aderido a partículas atmosféricas que caem nas folhas e, finalmente, pela absorção durante a fotossíntese, sendo liberado no solo quando as folhas caem.
Um pouquinho mais ao sul, o problema é acentuado pelo derretimento de geleiras. Isso porque o metal intoxicante é encontrado naturalmente em rochas. Quando as geleiras derretem, parte desse pedregulho entra na mistura e vai parar na água – levando junto o mercúrio.
Quando o mercúrio entra no ambiente, ele pode causar danos neurológicos em pessoas e animais selvagens. O metal tóxico se acumula à medida que sobe na cadeia alimentar, ligando-se a aminoácidos nos animais e infiltrando-se em seus sistemas nervosos centrais, o que pode inibir o crescimento neural.
O grande desafio dos pesquisadores para monitorar a exposição ao mercúrio é que amostras de rochas, gelo ou solo não mostram quando o elemento está entrando na cadeia.
É aí que entram os pinguins.
Muitos animais, inclusive os pinguins, têm mecanismos biológicos responsáveis por descartar o mercúrio. O químico se acumula nas penas dos protagonistas de Happy Feet, mas essas são trocadas com frequência para que a substância tóxica não contamine os animais.
Em um novo estudo, pesquisadores da Universidade Rutgers esperavam usar as penas abandonadas para mapear onde os pinguins entraram em contato com o elemento.
Analisando as penas descartadas desses pássaros, os cientistas encontraram níveis de mercúrio e de um isótopo de carbono, chamado carbono-13. Esse isótopo varia de acordo com sua localização geográfica.
Assim, é possível usá-lo como um indicador de “onde os pinguins estão se alimentando ou onde estão suas áreas de reprodução”, explica o pesquisador polar e autor do estudo, Philip Sontag, para a Scientific American.
O norte do Oceano Antártico é mais quentinho, e por isso tem mais carbono-13. Sete espécies diferentes de pinguins, que tem um padrão migratório que passa por esse local, confirmaram a teoria dos pesquisadores. O estudo foi publicado no periódico científico Science of the Total Environment.
Para o site americano, John Reinfelder, biólogo marinho que também fez parte da pesquisa, explica que os pinguins poderiam funcionar como bioindicadores de mercúrio: rastreadores vivos de poluentes ambientais.
Espécies de pinguins vizinhas apresentaram diferentes níveis de mercúrio e carbono-13 devido a seus padrões de migração e alimentação. Esses dados poderiam ser usados para orientar projetos de conservação e pesquisas científicas polares, além de mapear áreas com níveis mais altos da substância.
Esses animais são bons candidatos a bioindicadores devido à sua posição na cadeia alimentar, reprodução em colônias (que facilita a coleta de amostras) e trocas sazonais de penas, que acumulam mercúrio durante a temporada não reprodutiva, facilitando o monitoramento da contaminação.
Em vez de medir o mercúrio em um único ponto, medir os níveis nas penas dos pinguins permite rastrear sua movimentação na teia alimentar oceânica.
Os pesquisadores pretendem coletar penas mais recentes de diversas espécies de pinguins, além da medir dos níveis de mercúrio no sangue e nas presas dos animais, para uma comparação mais detalhada entre as concentrações da substância no organismo dos pinguins.
Fonte: abril