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Estudo com 435 ossadas revela ligação perdida nas línguas indo-europeias

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Há cerca de 6 mil anos, nas estepes áridas ao redor dos mares Cáspio e Negro, uma etnia de pastores nômades começou a expandir seus territórios usando cavalos e carroças. Alguns artefatos arqueológicos encontrados nos Bálcãs e em ex-repúblicas soviéticas podem ser resquícios da existência desse povo, mas não há consenso.

A única evidência sólida da existência dessas pessoas é que, hoje, 46% da população mundial se comunica em algum idioma derivado da língua que eles falavam, batizada pelos estudiosos de protoindo-europeu (PIE).

Não há documentos escritos em PIE – sequer existia escrita, naquela época. Mas é possível reconstruí-lo artificialmente por meio da comparação entre suas línguas-filhas, que incluem o português, o inglês, o russo, o persa e até o hindu (bem como o latim, o grego antigo e o sânscrito, lá na Antiguidade). É um trabalho de engenharia reversa.

Agora, pesquisadores do Departamento de Antropologia Evolucionária da Universidade de Viena e do Laboratório de DNA Antigo de Harvard analisaram o DNA de 435 ossadas encontradas em sítios arqueológicos na Eurásia, pertencentes a pessoas de diversas etnias que viveram entre 640o e 2000 a.C. O objetivo era finalmente determinar a identidade dos falantes de indo-europeu.

O raciocínio por trás desse levantamento é o seguinte: podemos não saber quem eram os falantes originais de PIE, mas é fato que eles fizeram sexo com muita gente. Caso contrário, o PIE não teria substuído as línguas de tantos povos euroasiáticos e alcançado uma distribuição geográfica tão ampla, da Índia até Portugal. Na Europa, apenas um pequeno punhado de línguas como o finlandês, o basco e o húngaro não descendem do PIE.

Ou seja: se você encontrar ossos cujo genoma dá match com os genomas de toda essa galera, dos indianos aos portugueses, há uma chance razoável de que esses ossos tenham pertencido a um falante nativo de PIE. E isso é importante porque, até agora, não havia nenhum resto humano ou artefato arqueológico que pudesse ser atribuído inequivocamente à cultura deles.

O novo estudo preenche essa lacuna: o DNA de ossos pertencentes à chamada cultura do Cáucaso-Baixo Volga (conhecida pela sigla em inglês CLV) dá justamente esse match genético cosmopolita que os falantes de PIE precisam ter. Pela primeira vez na história foi possível associar um conjunto coerente de ossos e artefatos arqueológicos da vida real ao idioma reconstruído artificialmente. 

A partir dos dados genéticos, foi possível reconstituir a seguinte história (que está relatada em detalhes no periódico especializado Nature, neste link):

De início, parte do povo CLV se fixou no território atual da Turquia, a Anatólia. Essa “dissidência” do ramo principal deu origem a línguas que guardam um parentesco mais distante com o resto do tronco indo-europeu, como o hitita (falado no Império Hitita, que data da mesma época do auge da civilização egípcia).

O outro ramo do povo CLV, que consistia nos Yamnaya em si, se espalharia por uma área muito maior. As migrações desses falantes de PIE, que não sabemos se foram encontros pacíficos ou invasões violentas, foram o evento demográfico mais relevante registrado na Europa nos últimos 5 mil anos.

Embora haja evidências bastante sólidas a favor dessa versão dos acontecimentos, e a metodologia do estudo tenha sido elogiada por especialistas que não participaram do estudo, muitos linguistas permanecem céticos em relação à pretensão de unir biologia e linguagem em um mesmo estudo.

“Genes não nos dizem nada sobre linguagem, e ponto final”, declarou ao New York Times o holandês Guus Kroonen, linguista da Universidade Leiden, na Holanda.

Fonte: abril

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Fábio Neves

Jornalista DRT 0003133/MT - O universo de cada um, se resume no tamanho do seu saber. Vamos ser a mudança que, queremos ver no Mundo