Saúde

Estudo aponta que TFFF pode reduzir drasticamente a emissão de 4,6 trilhões de toneladas de CO2

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Na última quinta-feira (6), o presidente Lula anunciou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Trata-se de um fundo de investimento administrado pelo Banco Mundial que promete remunerar até 74 países em desenvolvimento que mantiverem suas florestas tropicais de pé. 

O fundo deve pagar US$ 4 por hectare preservado, por ano. Quanto mais hectares a nação preserva, mais dinheiro ela recebe. Dessa forma, os países são estimulados a intensificar a governança e monitoramento contra o desmatamento. Para ter acesso ao dinheiro, o país deve demonstrar que o desmatamento ficou abaixo de 0,5% ao ano, com base em dados de satélite.

Manter a floresta em pé, em especial as florestas tropicais e subtropicais, é a forma mais eficiente de capturar carbono da atmosfera e compensar as emissões de combustíveis fósseis. O gás carbônico é consumido na fotossíntese das árvores, e fica capturado na biomassa da floresta daí a importância do novo fundo. Uma nova pesquisa apresentada na COP30 mostra que a iniciativa não só preserva essas máquinas de captura de carbono, mas também evita que os combustíveis fósseis embaixo delas sejam explorados.

O estudo foi conduzido pelo projeto LINGO (acrônimo para “deixe os combustíveis fósseis no solo”). Os pesquisadores mapearam qual o tamanho e o potencial de combustíveis fósseis alojados embaixo das florestas que serão protegidas pelo TFFF – como a Amazônia, Bacia do Congo, e as florestas da Indonésia.

Em outras palavras, o estudo calcula as emissões de CO2 que podem ser evitadas com a não exploração do petróleo nas áreas protegidas pelo fundo. 68 países têm recursos fósseis sobre florestas que podem ser protegidas pelo TFFF. A China tem a maior concentração, com 3,8 trilhões de toneladas, seguida pela Índia (201 bilhões de toneladas), Indonésia (141 bilhões de toneladas) e Brasil (36 bilhões de toneladas). Se tudo isso fosse explorado economicamente, cerca de 4,6 trilhões de toneladas de CO2 seriam lançadas na atmosfera. 

Dentre os recursos fósseis, apenas 317 bilhões de toneladas estão em condições técnicas e viáveis para a extração imediata, e estão nas chamadas reservas. As maiores reservas estão na Índia (117 bilhões de toneladas); China (98 bilhões de toneladas), Indonésia (47 bilhões de toneladas) e Venezuela (17 bilhões de toneladas). O Brasil fica em oitavo, com 3,6 bilhões de toneladas em reservas.

O mapa abaixo mostra onde estão localizados os recursos. Em verde estão as florestas contempladas pelo TFFF; em laranja são as regiões com óleo/gás em potencial; em verde-neon, o carvão; e em amarelo, locais em que há os dois.

Mapa
(Leave It In The Ground (LINGO)/Reprodução)

“Essa pesquisa pode ser um ponto de partida para um estudo mais aprofundado sobre o potencial do TFFF de evitar emissões”, escreve Alice McGown, pesquisadora e autora do levantamento. O documento foi apresentado pelos pesquisadores Paul Boëffard e Kjeil Kühne, ambos da LINGO, em um evento nesta manhã na COP30, em Belém.

“Nós sabemos por experiência que é possível não extrair esses recursos da floresta”, diz Kühne em comunicado à imprensa. “No México, o presidente estabeleceu uma zona de proteção na Selva Lacandona onde a extração de óleo e gás é proibida. Nós achamos que essa é a combinação ideal para as mudanças climáticas, que protege as florestas e deixa os combustíveis fósseis no chão”.

O potencial de evitar emissões de CO2 é como um bônus da proteção das florestas, já que não foi levado em consideração no escopo da discussão do TFFF mas os pesquisadores acreditam que deveria ser considerado. “O problema climático é holístico. Se a gente não lidar com todas as diferentes questões coletivamente, não vamos resolvê-lo”, disse Boëffard. “Se você protege a floresta mas continua extraindo combustíveis fósseis, a temperatura aumenta e você tem incêndios florestais daqui 25 ou 50 anos”.

Os pesquisadores propõem adicionar ao TFFF acordos que incentivem os países a não extrair combustíveis fósseis. Na proposta apresentada por Boëffard, haveria acordos financeiros entre dois países, em que um pode pagar o outro para manter seus combustíveis fósseis no chão. 

Ao serem questionados sobre a proposta de extração de combustíveis fósseis na bacia amazônica, os pesquisadores dizem que encaram o fato como uma contradição. “Dizer que precisamos urgentemente nos afastar dos combustíveis fósseis e dar permissões para explorar mais, mesmo quando sabemos que isso não deve ser feito, não faz sentido”, diz Kühne. “No discurso o Brasil diz querer se afastar dos combustíveis fósseis, mas precisamos ver isso na prática”.

Fonte: abril

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