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Estudo aponta que idade da mãe pode influenciar o sexo do bebê: saiba mais!

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Durante muito tempo, acreditou-se que o sexo de um bebê ao nascer fosse determinado puramente pelo acaso – uma espécie de sorteio biológico, como o tradicional cara ou coroa. A lógica era simples: como os espermatozoides carregam cromossomos sexuais X ou Y em proporções praticamente iguais, cada gestação teria 50% de chance de resultar no nascimento de um menino ou de uma menina. 

Mas uma nova leva de pesquisas, liderada por cientistas da Universidade Harvard e publicada na revista Science Advances, começa a desafiar essa noção. Segundo os autores, a idade da mãe ao ter o primeiro filho pode afetar significativamente essa equação.

O estudo analisou dados de mais de 58 mil mulheres norte-americanas que participaram dos estudos epidemiológicos Nurses’ Health Study II e III, entre 1956 e 2015. Ao todo, foram examinadas informações sobre 146.064 nascimentos. 

Aproximadamente 61% das mulheres tinham dois filhos, enquanto as demais tinham três ou mais. A expectativa inicial era de que os dados se alinhassem a uma distribuição estatística simples, em que cada nascimento fosse independente do anterior – como se, a cada filho, a chance de ser menino ou menina continuasse sendo exatamente igual.

No entanto, os resultados desafiaram esse modelo. Em vez de uma distribuição binomial (utilizada para fenômenos aleatórios com duas possibilidades igualmente prováveis), os dados se ajustaram melhor a uma distribuição beta-binomial, um tipo de modelo estatístico que indica uma leve inclinação ou “viés” em determinados grupos. 

Em outras palavras, alguns casais pareceram ter uma probabilidade maior de gerar filhos de apenas um sexo do que seria esperado por puro acaso. E esse padrão se acentuou em famílias com três ou mais filhos, nas quais a ocorrência de todos os filhos serem do mesmo sexo foi mais comum do que o modelo aleatório previa.

Uma das descobertas mais marcantes foi a associação entre a idade da mulher ao ter o primeiro filho e a chance de ter filhos de um único sexo. As mulheres que se tornaram mães após os 28 anos apresentaram uma probabilidade 43% maior de ter apenas meninas ou apenas meninos, em comparação com 34% entre aquelas que tiveram o primeiro filho antes dos 23 anos. Esse dado, por si só, já sugere que fatores ligados ao envelhecimento reprodutivo podem alterar as chances de nascimento de meninos ou meninas.

Embora o estudo não ofereça respostas definitivas sobre os mecanismos por trás desse fenômeno, os pesquisadores levantam hipóteses biológicas que ajudam a explicar os padrões observados. Uma delas é a mudança no ambiente vaginal ao longo dos anos férteis da mulher: com a idade, o pH vaginal tende a se tornar mais ácido. Esse ambiente pode favorecer a sobrevivência de espermatozoides com cromossomo X – que são um pouco maiores e mais resistentes –, o que aumentaria a probabilidade de nascimento de meninas.

Por outro lado, alterações no ciclo menstrual com o avançar da idade, como a fase folicular mais curta, podem beneficiar espermatozoides com cromossomo Y, inclinando a balança para o nascimento de meninos. O impacto parece depender de qual fator biológico se manifesta com mais força em cada indivíduo.

Além das influências hormonais e fisiológicas, o estudo também buscou descartar fatores comportamentais que pudessem interferir nos resultados. Um exemplo é o chamado comportamento de “coleta de cupons” – casais que decidem ter filhos até conseguirem um de cada sexo e depois interrompem a reprodução. Para isolar esse efeito, os pesquisadores refizeram as análises excluindo os dados referentes ao último filho de cada mulher. Mesmo assim, a tendência de famílias com filhos de um único sexo permaneceu evidente – e até se intensificou.

Para investigar se havia um componente genético nessa tendência, os autores realizaram ainda uma análise genômica ampla (GWAS) com uma parte dos participantes. Eles detectaram um gene associado ao nascimento de apenas meninas (o NSUN6), e outro ao nascimento de apenas meninos (o TSHZ1). 

Esses genes ainda não estão relacionados a funções reprodutivas conhecidas, mas a descoberta levanta a possibilidade de que predisposições genéticas individuais influenciem o sexo dos filhos.

Apesar dos achados, os próprios autores reconhecem as limitações do estudo. A amostra analisada é composta exclusivamente por enfermeiras dos Estados Unidos, das quais 95% são mulheres brancas, o que compromete a representatividade dos dados. 

Além disso, o estudo não levou em conta informações sobre os pais das crianças, como idade ou histórico de saúde – variáveis que também podem influenciar a determinação do sexo biológico do bebê. Os pesquisadores recomendam que estudos futuros ampliem a diversidade étnica, geográfica e socioeconômica das amostras, além de incluir dados sobre os parceiros.

Outros cientistas se mantêm céticos quanto às conclusões. Brendan Zietsch, geneticista comportamental da Universidade de Queensland, na Austrália, disse à Science News que análises com amostras populacionais ainda maiores, como uma que abrangeu toda a população sueca nascida após 1931, não encontraram evidências de que famílias tenham maior tendência a gerar filhos de um único sexo. Para ele, associações genéticas com proporções de sexo dos filhos ainda precisam ser replicadas em outros estudos antes de serem aceitas como explicação plausível.

Já Nicola Barban, demógrafo da Universidade de Bolonha, na Itália, afirmou ao veículo que a pesquisa fornece informações valiosas, mas ressaltou que fatores biológicos sozinhos não são suficientes para explicar os padrões reprodutivos humanos, sendo necessário considerar também aspectos culturais, sociais e comportamentais.

Ainda assim, os novos dados sugerem que o “cara ou coroa” da biologia pode ser mais complexo do que imaginávamos. Ao que tudo indica, para algumas famílias, a moeda pode já estar levemente viciada antes mesmo do lançamento.

Fonte: abril

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