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Renato “Moicano”: o lutador que defende sua liberdade, se opõe ao globalismo e admira Mises

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Depois de quase dez anos, o brasileiro Renato “Moicano” Carneiro aprendeu o caminho das pedras para brilhar no UFC – o evento de lutas em que o show é tão crucial quanto a técnica.

Além de vencer seus quatro últimos combates, ele vem se destacando pelas entrevistas que concede no ringue.  “A mensagem é o mais importante”, diz o brasiliense de 35 anos, que conquistou os fãs com discursos engraçados e polêmicos, falados num inglês macarrônico intercalado por palavrões. 

Ele só não esperava que furaria a bolha das artes marciais e se tornaria um “mito instantâneo do liberalismo”, como definiu Hélio Beltrão, presidente do Instituto Mises Brasil, dedicado à produção e difusão de estudos sobre o livre mercado. 

Tudo porque o peso-leve, assumidamente de direita e avesso aos excessos do Estado, também tem usado seu tempo de microfone para falar sobre política, economia e, principalmente, liberdades individuais. 

Em abril, após vencer o americano Jalin Turner por nocaute na histórica edição de número 300 do UFC, Moicano viralizou pela primeira vez fora do meio do MMA ao expressar sua visão de mundo. 

“Eu amo a América, amo a constituição. Quero carregar armas. Eu amo a propriedade privada. Deixe-me dizer uma coisa. Se você se preocupa com o seu país, leia Ludwig von Mises e ‘As Seis Lições’ da escola austríaca de economia”, afirmou.

Moicano se referia ao livro do economista de origem judaica que explica de forma acessível tópicos como a origem do capitalismo e o fracasso do socialismo no século XX, além dos conceitos de inflação, intervencionismo e investimento estrangeiro.

Depois da indicação, os exemplares físicos da obra tiveram uma procura sem precedentes nas livrarias especializadas e até na Amazon. Segundo o lutador, 26 mil cópias foram vendidas na gigante do comércio online apenas naquele final de semana. 

No sábado passado (28), Renato Moicano voltou a viralizar em escala global. Dessa vez em Paris, quando derrotou o francês Benoît Saint-Denis por nocaute técnico após interrupção médica. 

Apesar de ter aplicado uma bela surra no adversário, o brasileiro realmente chamou a atenção pelo discurso afiado pós-combate. Xingou o presidente Emmanuel Macron, os globalistas e até a Revolução Francesa – que, de acordo com ele, “tentou eliminar Deus do mapa”.

“Mas adivinhe? Jesus Cristo está mais vivo do que nunca”, completou o atleta (que é católico, porém frequenta uma igreja batista na Flórida, onde vive com a mulher e o filho de 4 anos). 

De quebra, o peso-leve sugeriu outra leitura: ‘Democracia, o Deus que Falhou’, do alemão Hans-Hermann Hoppe, também ligado à escola austríaca. 

No livro, o economista e filósofo defende, entre outras teses, a ideia de que os líderes de regimes democráticos tendem a não pensar em projetos a longo prazo, pois sua permanência no poder será por tempo limitado.

“Por favor, leiam Hoppe e entendam porque o mundo está enlouquecendo”, disse Moicano, cujo estilo mais “vocal”, como dizem os americanos, nem sempre agrada à cúpula do Ultimate Fighting Championship.

Talvez preocupados com a politização do esporte, os donos da organização não concederam ao brasileiro, tanto em Paris como em Las Vegas (onde aconteceu o UFC 300), o bônus em dinheiro oferecido às melhores performances de cada noite. 

O lutador, no entanto, se conforma com o suposto puxão de orelha. “Somos liberados para falar o que bem entendemos em cima do ringue. Mas falei mal do presidente do país que recebeu o evento, é possível que não tenha recebido o prêmio por isso.”

Moicano também se dedica a gravar conteúdos para dois podcasts. (crédito: Divulgação/Renato Moicano)
Moicano também se dedica a gravar conteúdos para dois podcasts. (crédito: Divulgação/Renato Moicano)| ivulgação/Renato Moicano)

Moicano trocou o niilismo pelo liberalismo e deu uma guinada na carreira

Nascido e criado em Brasília, Renato Moicano cresceu cercado por funcionários públicos – o pai é servidor do Senado e a mãe, da Caixa Econômica. 

“Quando volto para lá, vejo que os meus amigos, mesmos aqueles com as melhores mentes, ainda estão fazendo concursos. Alguns já são concursados e buscam outra vaga melhor”, diz, Moicano, em entrevista por telefone concedida à reportagem da Gazeta do Povo

Mas Renato queria “mexer com esporte”. Mesmo quando, para agradar o pai, ingressou na faculdade de Direito – abandonada, após três anos, em nome da paixão pelo jiu-jitsu. 

Estimulado por seus treinadores, o brasiliense passou a se dedicar integralmente à luta. E não apenas como atleta profissional. Também deu aulas e abriu a própria academia, vendida para um dos sócios há seis anos, quando se mudou de vez para os Estados Unidos. 

Após um período, segundo ele, de leituras “niilistas” e “relativistas”, Moicano passou a estudar a história dos chamados Pais Fundadores dos EUA e mergulhar nas obras de ícones do liberalismo econômico – como Milton Friedman, Thomas Sowell e Roberto Campos, além dos já citados Mises e Hoppe. 

Não por acaso, essas novas inspirações se revertam numa nova fase de sua carreira, marcada por uma maior atividade extrarringue.

De acordo com o peso-pena, os lutadores profissionais de MMA treinam, em média, quatro horas por dia, em dois turnos. “E enquanto os outros ficam jogando videogame e vendo série no resto do tempo, eu faço outras coisas.” 

O que inclui ler, estudar investimentos (especialmente o bitcoin) e gravar conteúdos para o YouTube, plataforma em que mantém dois podcasts (um em inglês, mais dedicado ao UFC, e outro em português, no qual recebe convidados e fala de temas variados). 

Javier Milei e Jordan Peterson já compartilharam os discursos do brasileiro 

O canal para os brasileiros, mais recente, é fruto de sua popularidade entre o público de direita, iniciada quando personalidades como o escritor canadense Jordan Peterson, o deputado federal Kim Kataguiri e até o presidente argentino Javier Milei compartilharam seus discursos pós-luta nas redes sociais. 

Em comum com esses nomes, ele tem o apreço pela liberdade econômica e de expressão. E, ao contrário do que muitos pensam, principalmente por sua defesa do bitcoin e das apostas esportivas, ele não se considera um radical anarcocapitalista. 

“Acredito, como o [Milton] Friedman, que deve existir um Estado mínimo. Para evitar as fraudes nos contratos e cuidar do sistema de justiça, da defesa do país e da polícia.” 

Por falar em polícia, é bem possível que Renato Moicano realize um sonho antigo quando pendurar as luvas: tornar-se um agente da lei.

A exemplo de outro lutador de MMA brasileiro, o fluminense Marlon Moraes, ele cogita a possibilidade de se naturalizar americano e se graduar num curso de formação policial. 

“Quero ajudar as pessoas. Da mesma forma que fui muito ajudado, durante toda a minha vida, pela minha família e meus amigos. E já que não tem limite de idade para ser policial aqui nos EUA, gostaria de tentar entrar na S.W.A.T.”, diz o brasiliense, que já é um exemplo para muita gente.

Como disse um fã na área de comentários de seu canal, “Meu herói não usa capa. Ele bate em francês, fala de Deus e estuda bitcoin”.

Fonte: gazetadopovo

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