Situações como o câncer, as doenças hematológicas e transplantes de órgãos são sempre delicadas, ainda mais com crianças e adolescentes. Os centros médicos que são referência para cuidar desses casos não são muitos, o que faz com que famílias precisem se deslocar por períodos relativamente longos para acompanhar o tratamento dos seus filhos. Foi devido a esse contexto que há quase 25 anos um grupo de estudantes deu início a um projeto que hoje é a Casa de Apoio Aura, que só no ano passado acolheu mais de 3 mil pessoas – crianças e seus familiares ou cuidadores – que passavam por Belo Horizonte em busca de tratamento para essas condições.
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“Aqui nos
tratamos a dor do coração”, explica Eliana Cardoso Vieira Quintão,
superintendente da ONG, cujo novo prédio, com 10 andares, pode receber até 32
crianças e adolescentes por vez. “A dor física é tratada no hospital. Mas as
outras dores o hospital não trata”. Por isso, a Aura conta com uma equipe
multidisciplinar que busca oferecer um atendimento integral à criança e à sua
família, quer aquelas que, morando na grande Belo Horizonte, apenas passam o
dia no local, quer as que se hospedam, vindas principalmente do norte de Minas
Gerais e das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país.
“Procuramos atender a todas as necessidades da criança ou adolescente durante todo o processo de adoecimento e tratamento, tanto com a hospedagem quanto com o atendimento das equipes de enfermagem, psicologia, serviço social, pedagogia, nutrição e fisioterapia, e ainda as necessidades básicas inerentes ao tratamento como fornecimento de medicação e de materiais para a realização de cuidados, realização de alguns exames, aquisição de órteses e próteses, itens de higiene pessoal, vestuário e transporte”, especifica Cleudes Francisca de Souza, enfermeira paliativista da casa de apoio.
Atenção integral
Crianças e adolescentes em tratamentos como esses têm, de fato, uma série de necessidades a serem atendidas. Desde o cuidado para que não aconteçam atrasos nos estudos até a rotina de brincadeiras e passeios, a Casa de Apoio Aura procura se preocupar com tudo, com transparência e profissionalismo – o que fez dela uma das 100 melhores ONGs do Brasil no ranking de 2021. “A intenção é fazer com que a criança, ao sair do hospital, venha pra cá ser criança”, afirma Eliana. “E com isso resgatar a sua autoestima, para que a criança tenha a consciência de que ela não é a doença”.
“O brincar é uma linguagem essencial na comunicação que a criança estabelece com o mundo”, diz a psicóloga Georgia Lavorato de Castro Salvo, que é especialista em psico-oncologia e em cuidados paliativos e na Aura é responsável pelo espaço de ludicidade. “A casa de apoio dá mais liberdade para que a criança esteja em atividade, explorando o ambiente de maneira livre, segura e mediada. Através do brincar ela consegue expressar e elaborar toda a dor que o tratamento envolve”. O mesmo vale para os adolescentes em sua relação com os jogos.
E todo esse cuidado se estende aos familiares. “Quando o diagnóstico de câncer chega, ele não chega só para a criança, mas para a família”, resume Geórgia. “A pessoa que cuida – geralmente a mãe – também tem que abrir mão do seu trabalho, da sua rotina social e familiar”. “Oferecemos por meio de uma escuta compassiva um melhor entendimento da situação e do processo de adoecimento”, complementa Cleudes.
Com o apoio de voluntários – no total são cerca de 30, mas antes da pandemia o número chegava a 90 –, a Aura promove até mesmo oficinas que ensinem aos familiares atividades geradoras de renda, bem como aulas de economia familiar e de como precificar produtos feitos manualmente. Além disso, em casos de óbito, a ONG mantém o contato com os familiares por meio de conversas regulares, para ajudar a trabalhar o processo de luto.
Como ajudar
Mantida principalmente por doações da sociedade civil, a Casa de Apoio Aura deseja estender ainda mais a sua atuação junto a essas crianças e adolescentes – a instituição tem investido na formação de seus profissionais na área de cuidados paliativos e tem caminhado para poder acolher a terminalidade dentro da própria casa, de uma maneira mais humana do que no hospital. Para saber como se tornar um doador ou um voluntário, acesse o site da instituição.
Fonte: semprefamilia.com.br