Nesta terça-feira, 29, a partida da Copa do Mundo de 2022 entre Irã e Estados Unidos é decisiva, já que define qual dos dois times avança para as oitavas de final do campeonato. Só que a disputa no gramado tornou-se mais do que um jogo, em meio a uma turbulência geopolítica intensificada.
O Irã participa do Mundial dois meses depois que a sua polícia da moralidade, encarregada de impor códigos rígidos sobre vestimenta e comportamento feminino, prendeu Mahsa Amini, de 22 anos, por usar seu hijab – véu islâmico – de maneira inadequada. Amini morreu sob custódia das autoridades, supostamente após ser espancada por policiais.
Sua morte foi o catalisador para um movimento popular maciço que eclodiu em todo o país, com protestos contra a falta de direitos das mulheres. Pelo menos 450 manifestantes foram mortos e outros 18 mil foram presos.
Neste mês, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, respondeu à onda de protestos dizendo que “vamos libertar o Irã” em um discurso. Enquanto isso, o Departamento do Tesouro americano emitiu sanções contra várias autoridades iranianas devido à repressão violenta às manifestações.
Antes mesmo do início da Copa no Catar, jogadores de futebol iranianos expressaram apoio contínuo ao movimento popular. Em setembro, a seleção cobriu seus uniformes antes de um amistoso, e no jogo de estreia do Mundial, contra a Inglaterra, a equipe se recusou a cantar o hino nacional.
Contudo, alguns jogadores continuam próximos de altos funcionários do governo. Dois dias antes do time partir para o Catar, dois dos atletas realizaram uma polêmica sessão de fotos com o presidente iraniano, Ebrahim Raisi.
O governo iraniano condenou as manifestações da seleção na Copa do Mundo e, na segunda-feira 28, ameaçou as famílias dos jogadores com prisão e tortura caso eles não “se comportassem” antes da partida nesta terça-feira.
Antes do jogo, em seu próprio ato de protesto, a seleção dos Estados Unidos postou, nas redes sociais, uma bandeira do Irã sem o emblema da República Islâmica para mostrar “apoio às mulheres no Irã que lutam pelos direitos humanos básicos”. O país respondeu pedindo que a equipe americana fosse expulsa da Copa do Mundo – o que tem chance zero de acontecer.
A última partida de Copa do Mundo entre os Estados Unidos e o Irã, em 1998, na França, foi considerada uma das mais politicamente carregadas da história. Ambos os países referiam-se um ao outro como “O Grande Satã” e um “estado fora da lei”. O Irã venceu, por 2 a 1.
Aquela partida começou com um gesto improvável: os jogadores iranianos deram buquês de flores brancas aos americanos, como um símbolo de paz antes do confronto. A disputa em Lyon aconteceu 20 anos depois que as relações diplomáticas entre os dois países foram rompidas, como resultado da invasão da embaixada dos Estados Unidos em Teerã em 1979 e a subsequente crise de reféns de 444 dias.
Apenas um mês antes do jogo, o Departamento de Estado dos Estados Unidos rotulou o Irã como o Estado patrocinador do terrorismo “mais ativo” do mundo, enquanto várias autoridades iranianas de alto escalão mantiveram um fluxo constante de retórica antiamericana.
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Fonte: Veja