A programação da Feira Literária de Bonito, nesta quinta-feira (18), contou com a presença dos escritores de Mato Grosso do Sul, Idayne Jacques, Febraro de Oliveira e Maria Carol, onde trouxeram o debate sobre literatura, questões de identidade e pertencimento.
A discussão revelou como a escrita se manifesta não apenas como forma de expressão artística, mas também como uma ferramenta de legitimação e resistência para grupos historicamente invisibilizados.
Ydayne, poeta com deficiência, ressaltou a importância das oficinas de escrita como um espaço crucial para o seu desenvolvimento, reforçando que a literatura deve ser acessível a todos os corpos. Ela enfatizou a necessidade de criar “brechas” para que pessoas com deficiência possam participar e ter suas histórias registradas, contrariando a visão de que ocupam apenas um lugar físico ou preenchem uma “tabelinha”. Ela expressou que sua própria existência e a de outros grupos marginalizados já são um incômodo para alguns, e que o objetivo é continuar incomodando.
Febraro de Oliveira, por sua vez, abordou o papel da sua livraria e editora. Ele afirmou que a curadoria dos livros não se baseia em best-sellers, mas sim em obras que abrem “fendas” nos espaços, em vez de apenas ocupá-los. Para ele, o interesse reside em projetos de continuidade que dão visibilidade a corpos LGBTQAP+, com deficiência, negros e indígenas, especialmente em tempos de rearticulação de narrativas de extrema direita. O escritor defendeu a ideia de que a literatura deve criar desconforto, questionando as noções de diálogo com o ódio e reforçando que o objetivo é a produção de um horizonte de dignidade e existência.
Maria Carolina, ao introduzir o conceito de “escrevivência”, cunhado por Conceição Evaristo, explicou como essa abordagem é fundamental para a humanização de pessoas negras. A escrevivência é a escrita que dá espaço para a existência de suas vivências, permitindo que as narrativas de amor, afeto, dor e resistência não sejam contadas por outros, mas sim por elas próprias. Para Carolina, a literatura se torna uma ferramenta de saúde mental e fortalecimento, onde se perde a vergonha e o medo para ganhar a possibilidade de existir. Ela destacou que não há mais interesse em dialogar com quem deseja a morte de sua comunidade, mas sim em se fortalecerem mutuamente.
Os participantes compartilharam ainda suas visões sobre o que define um escritor, com o entrevistador defendendo que a publicação é o marco, enquanto Febraro de Oliveira e Ydayne sugeriram que a escrita em si, como um trabalho e uma prática constante, é o que realmente define.
Fonte: primeirapagina