Israel começou os ataques contra o Irã dia 13 de junho. A ofensiva tinha como alvo alguns dos principais líderes militares da república islâmica e seus centros de pesquisa nuclear. Tudo sob a justificativa de impedir que o país liderado pelo aiatolá Ali Khamenei desenvolva armas nucleares.
Os bombardeios aconteceram após a divulgação de um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que revelou que o Irã, país signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, aparentemente tinha três sítios de produção de urânio não declarados. O acordo conta com países que já tem armamento nuclear e países que se comprometem a não produzi-lo, como a república islâmica. Israel nunca assinou o acordo, mas conta com arsenal nuclear.
A informação serviu de justificativa para a ofensiva de Israel, mas depois o próprio diretor da AIEA, Rafael Grossi, disse que não dá para confirmar que o Irã esteja de fato fazendo uma bomba. O país se defende dizendo que só usa a pesquisa nuclear para fins civis, como a geração de energia.
Agora, a situação já escalou a ponto dos Estados Unidos atacarem três instalações nucleares iranianas no sábado (21). Desde então, o presidente Donald Trump anunciou um cessar-fogo entre Israel e Irã – mas ambos países reclamam que o outro lado descumpre o acordoo.
De acordo com a ONU, o Irã tem um estoque de cerca de 400 quilos de urânio enriquecido a 60%, bem mais do que o necessário para usos civis. Se toda essa quantidade de minério fosse enriquecida a 90%, eles seriam capazes de fabricar nove armas nucleares.
Mas, afinal: o que vem a ser esse tal “urânio enriquecido”?
Na natureza, dá para encontrar urânio na forma de três isótopos: U-238, U-235 e U-234. Isótopos são átomos de um mesmo elemento químico, mas com massas diferentes por causa de mais ou menos nêutrons no seu núcleo. O número ao lado do “U” indica a massa atômica de cada isótopo – o 238, então, é o mais pesado deles.
Não só o mais pesado, como também o mais comum: 99% do urânio minerado na Terra vem na forma U-238; 1%, como U-235, que é um tipo de isótopo mais instável.
É justamente essa instabilidade do U-235 que o torna ideal para processos de fissão nuclear (quebra do núcleo, o que resulta em energia). O que os cientistas fazem, então, é “enriquecer” artificialmente o urânio da natureza para que ele se torne U-235 – para que, assim, seja mais fácil gerar energia a partir do minério.
Vamos entender como esse processo funciona.
O enriquecimento consiste em separar isótopos. Numa centrífuga, o urânio entra em contato com flúor. Da mistura surge um composto gasoso com ambos os elementos: o hexafluoreto de urânio. O gás gira bem rápido até que o U-238 (o urânio mais pesado) vá para a borda da centrífuga. O U-235, mais leve, fica no centro.
A velocidade e as peneiras de poros microscópicos separam o material com altas quantidades de U-235 (ou seja, o “enriquecido”) do resto, “empobrecido”. Quanto mais enriquecido o urânio, mais radiação ele emite.
É um trabalho demorado – e caro. Só para chegar em 3% de enriquecimento, taxa necessária para geração de energia nuclear, é preciso repetir o processo de centrifugação 1.400 vezes até que haja uma quantidade satisfatória da U-235.
Para usos civis, a quantidade de isótopos U-235 na composição total pode variar entre 3% e 20%. Para construir armas nucleares, o enriquecimento precisa ser muito maior: acima de 85%.
A AIEA monitora as instalações de enriquecimento nos países signatários para controlar a proliferação de bombas com urânio. O Brasil, por exemplo, aderiu ao acordo em 1998 e só tem urânio enriquecido para pesquisa e geração de energia nas usinas Angra 1 e Angra 2.
Vale dizer que o urânio empobrecido, com poucos átomos U-235 em sua composição, é um metal pouco radioativo, mas que pode ser usado de outras formas, como em blindagens e em projéteis com alta capacidade de penetração. Enriquecido ou empobrecido, o urânio pode ser usado para fazer estrago.
Fonte: abril