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Em confronto há 230 milhões de anos: Dinossauros brasileiros e argentinos se enfrentavam antes de existirmos

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Alguns dos dinossauros mais antigos do mundo viveram nos territórios que hoje correspondem ao sul do Brasil e a Argentina.

Há 230 milhões de anos, durante o período Triássico, a maioria desses répteis ainda era de pequeno porte, mas os herrerassaurídeos gaúchos já se destacavam. Esses pioneiros tinham caudas longas e musculosas, garras e dentes afiados e podiam chegar a 6 m de comprimento.

Agora, um grupo de pesquisadores analisou fósseis de herrerassaurídeos encontrados no Rio Grande do Sul e na Argentina e percebeu que eles já se envolviam em comportamentos sociais complexos, como brigas violentas. 

Entre os sete crânios de herrerassaurídeos analisados, três possuíam sinais de ferimentos cicatrizados, que teriam sido causados por mordidas de outros herrerassaurídeos durante confrontos.

 

Esse tipo de comportamento ocorre até hoje entre diversos animais, como os crocodilos. Mas nem sempre a briga é grave o suficiente para deixar marcas nos ossos, que podem ser eternizadas pela fossilização.

A análise dos fósseis permite aos pesquisadores identificar se os ferimentos ocorreram antes da morte, se foram os causadores da morte ou se ocorreram bem depois, graças a impactos nos ossos do animal já morto.

O principal paleontólogo responsável pela descoberta, Maurício Silva Garcia, já tinha tido contato com alguns dos espécimes durante a sua pesquisa de mestrado na Universidade Federal de Santa Maria. Ao perceber as marcas diferentes, ficou curioso: não dava para ter certeza do que se tratavam. 

Fotografia do Fóssil de Gnathovorax cabreirai, um herrerassaurídeo com lesões ósseas preservadas no maxilar.
O fóssil de Gnathovorax cabreirai, um herrerassaurídeo com lesões ósseas preservadas no maxilar. (Rodrigo Temp Müller/Reprodução)

Para descobrir, é preciso observar a estrutura do osso bem de pertinho, com uma lupa. Assim, o pesquisador percebeu padrões de porosidade nos ossos que não deixam dúvidas de que aqueles seres passaram por um intenso processo de inflamação local e cicatrização. 

“A gente analisa a microestrutura do osso ali em volta dessas marcas no detalhe mesmo, na lupa, para ter certeza. É bem difícil de identificar isso”, explica Garcia à Super. “Alguns outros crânios que analisamos até apresentavam marcas que a gente poderia atribuir a mesma coisa, mas como não dava para ter certeza, a gente acabou deixando eles de fora.”

Estudos em fósseis de outras épocas e outros lugares do mundo já tinham identificado esse tipo de comportamento agressivo entre animais da mesma espécie, como o Tyrannosaurus rex. Entretanto, é a primeira vez que evidências desse tipo são encontradas para o Período Triássico, quando os dinossauros ainda não dominavam o mundo como no posterior Período Jurássico. 

 

Para os autores, isso revela que as disputas territoriais e hierárquicas podem ter surgido já durante o início da evolução dos dinossauros. Apesar de serem antigos, os herrerassaurídeos sumiram durante uma grande mudança climática há 225 milhões de anos e não deixaram descendentes.

“Esse grupo só existiu durante um pedacinho do Período Triássico, que, inclusive, é a mesma faixa de tempo que ocorre nas rochas aqui do Rio Grande do Sul e da Argentina. Então, a gente tem a sorte de ter essas rochas: não existem herrerassaurídeos em rochas mais antigas nem em rochas mais recentes”, diz Garcia. 

O estudo foi publicado hoje (26) no periódico científico The Science of Nature. As pesquisas são parte do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (CAPPA), cuja sede em São João do Polêsine (RS) pode ser visitada gratuitamente de segunda a domingo em horário comercial para apreciação de dinossauros e outros fósseis encontrados na região central do Rio Grande do Sul. 

Dá até para ver os restos fósseis de um dos dinossauros estudados, o Gnathovorax cabreirai, retratado na imagem acima, em excelente estado de conservação.

 

Fonte: abril

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