Transtorno do espectro autista, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), deficiência intelectual, transtornos de comunicação, transtornos específicos de aprendizagem e transtornos motores são os principais transtornos de neurodesenvolvimento. E, em sua grande maioria, são diagnosticados durante a infância e adolescência do paciente.
Isso porque, segundo Deisy Mendes Porto, psiquiatra Geral e da Infância e Adolescência, “são transtornos que comprometem o desenvolvimento cerebral de forma muito precoce, iniciando-se nos primeiros anos de vida”.
Caracterizados por déficits no desenvolvimento, o psiquiatra da Infância e Adolescência António Alvim Soares explica que eles acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social ou acadêmico, podendo variar desde dificuldades específicas na aprendizagem até quadros com prejuízos globais, como na inteligência ou nas habilidades sociais.
Com causas multifatoriais, podem ser influenciados por fatores genéticos e ambientais, esclarece Lílian Schwanz Lucas, que também é psiquiatra da Infância e Adolescência. E ainda
que tenham base genética, não quer dizer que será sempre herdado, ou seja, passado
para todos os descendentes da família. Afinal, pode acontecer da alteração genética
ter ocorrido pela primeira vez naquele indivíduo.
Por isso, é importante a prevenção através dos fatores ambientais, muitas vezes relacionados ao período gestacional, evitando o uso de substâncias como o álcool, tabaco e cannabis, e ao parto, buscando adotar cuidados que minimizem o risco de prematuridade, baixo peso ao nascer e sofrimento fetal, destaca Soares.
Quanto mais cedo diagnosticado, maior o avanço através da plasticidade cerebral
A importância de serem diagnosticados precocemente, é que seja possibilitado ao paciente as melhores opções de apoio e estimulação. Assim, ele conseguirá alcançar um grande potencial de desenvolvimento, motivam os psiquiatras que participaram do 39º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado em Fortaleza, no início de outubro deste ano.
Por isso, Soares orienta que os pais procurem especialistas que têm maior experiência com tais quadros, como psiquiatra da infância ou neurologista pediátrico, tão logo percebam atrasos no desenvolvimento de seus filhos. “Quanto mais precoce o diagnóstico, mais plásticas são as estruturas cerebrais e mais passíveis de resposta as intervenções, que também devem ser precoces por permitirem o desenvolvimento cerebral e evitarem novos prejuízos no desenvolvimento”, acrescenta Lílian.
Segundo os médicos, o tratamento costuma ser multidisciplinar, implicando na psicoeducação do paciente e familiares, por meio do conhecimento sobre o transtorno, como também por abordagens psicoterápicas, farmacológicas e com envolvimento, além do médico psiquiatra, de psicólogos, psicopedagogos e fonoaudiólogos.
Soares lamenta que no Brasil, infelizmente ainda são poucas as políticas públicas relativas à saúde mental de crianças e adolescentes. “Para a maior parte das pessoas, conseguir acesso a uma equipe multidisciplinar e ao tratamento adequado é algo muito difícil”, desabafa.
Por
isso, segundo ele, as escolas desempenham um papel relevante, tanto no
diagnóstico (por serem as primeiras a notar algo diferente na criança), quanto
no tratamento, já que é o local de inserção e acolhimento do indivíduo. “Claro,
desde que os professores tenham formação adequada para lidar com esse perfil de
alunos, possibilitando sua real inclusão”, acrescenta.
Mesmo com o passar dos anos, o acompanhamento deve ser contínuo
Considerando
que as dificuldades no neurodesenvolvimento, na grande maioria das vezes, permanecem
com o indivíduo ao longo de seu crescimento, o acompanhamento da criança durante
a adolescência, até chegar na vida adulta, deve ser feito de forma individual. Assim,
a evolução do paciente poderá ser avaliada progressivamente, potencializando ao
máximo seu desenvolvimento ao longo de todo o ciclo da vida.
“Sabemos que um transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, se não tratado, pode estar ligado ao surgimento de outros transtornos mentais ao longo da vida, como problemas de conduta, quadros depressivos, reprovações escolares, maior risco de acidentes” exemplifica Lílian, ao acrescentar que o mesmo tende a acontecer com os outros transtornos do neurodesenvolvimento.
Porém, se
tratados de forma adequada, muitas crianças conseguem alcançar boa qualidade de
vida e relacionamentos. “Em relação ao TDAH, uma parte não terá mais sintomas
significativos, que causem prejuízo em suas vidas. E o mesmo pode acontecer com
os quadros do espectro do autismo, ainda que os sintomas centrais do quadro,
como dificuldades de interação social, sempre estejam presentes, em maior ou
menor grau”, exemplifica a psiquiatra.
Por isso, indivíduos com o mesmo diagnóstico podem exigir diferentes tipos de intervenção, dependendo de sintomas concomitantes, idade e contexto social. E ainda que sigam com acompanhamento médico, boa parte dos pacientes que mantem algum dos prejuízos precisarão de auxílio para ingressar na vida universitária ou em uma profissão, alerta Deisy.
“Os indivíduos
com níveis de prejuízo menores podem ser mais capazes de funcionar com independência,
mas, mesmo assim, podem continuar socialmente ingênuos e vulneráveis, com
dificuldades para organizar as demandas práticas sem ajuda, mais propensos a
ansiedade e depressão”, acrescenta Soares.
Considerando
isso, Lílian destaca a importância de se adotar uma visão de desenvolvimento ao
longo da vida. “Isso requer abordagens de pesquisa longitudinais que unam a
vida infantil e adulta e uma perspectiva clínica que vá além dos problemas
atuais”, finaliza a especialista.
Fonte: semprefamilia.com.br