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Economia

Gestor Militante: Estratégias Eficazes para Liderança e Engajamento

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Fernando Pessoa escreveu, em 1922, o conto O Banqueiro Anarquista, onde narra a história de um anarquista que descobriu que ser banqueiro era a melhor maneira de atingir o ideal anarquista de acabar com a opressão no mundo. Pessoa, de forma muito hábil, mostra como subverter a evidente contradição entre ser banqueiro e anarquista usando a lógica dos que têm poucos escrúpulos.

Em muitos aspectos, vemos esse comportamento contraditório nos gestores de ativos, os asset managers. Esses são os gestores militantes, aqueles que, ou não se dão conta da contradição da sua atividade profissional com sua paixão por causas em voga ou, muito pior, o fazem conscientemente.

O gestor militante parte de uma visão de mundo muito própria sobre temas de pouca correlação com o desempenho das carteiras que administra e usa o recurso dos outros para influenciar comportamentos e políticas de acordo com essa visão. Com o dinheiro dos clientes, faz apologia de crenças pessoais. Isso foi bastante forte nos sob a égide dos investimentos sustentáveis, ou ESG, termo agora em desuso.

Óbvio que teve seguidores também no Brasil. Foi somente quando o maior gestor mundial, BlackRock, com U$11,5 trilhões, voltou a priorizar o retorno aos clientes, ou seja, aos poupadores que lhe entregaram recursos para serem administrados, que o ESG deixou de ser moda. A seguir, os demais gestores refluíram desse modismo.

“São poucos os que abrem mão de uma aposentadoria confortável por uma questionável melhoria nas condições de vida no planeta”

Andre Burger

A realidade mostrou que gerir ativos baseando-se em discutíveis teses de sustentabilidade e inclusão social custa dinheiro — e são poucos os que abrem mão de uma aposentadoria confortável por uma questionável melhoria nas condições de vida no planeta. Dois movimentos concorreram para isso simultaneamente: os grandes fundos de pensão norte-americanos caíram fora da ladainha ESG; e a realidade energética europeia mostrou que essas questões são menos tangíveis que uma casa aquecida.

Ainda sobre a questão ESG

O ESG surgiu na ONU, em 2004 | Foto: Divulgação/Revista Oeste | Imagem gerada com o auxílio de inteligência artificialO ESG surgiu na ONU, em 2004 | Foto: Divulgação/Revista Oeste | Imagem gerada com o auxílio de inteligência artificial
O ESG surgiu na ONU, em 2004 | Foto: Divulgação/Revista Oeste | Imagem gerada com o auxílio de inteligência artificial

No entanto, devemos reconhecer que os gestores militantes são leigos sobre os complexos temas que defendem. É escasso seu conhecimento sobre ecologia, antropologia e termodinâmica, matérias fundamentais para entender a fundo as questões incorporadas nas letras E e S da sigla ESG. Os gestores de carteira normalmente têm formação em economia, administração ou contabilidade, quando muito em engenharia. Suas opiniões sobre temas distintos do ambiente econômico e da análise de investimentos são, por princípio, restritas — e ainda bem, pois eles são contratados para a complexa atividade de cuidar do dinheiro dos outros. Seu trabalho é buscar os ativos mais rentáveis para entregar o maior retorno para seus clientes. Contudo, alguns esquecem sua formação e adotam posturas ativistas que pouco contribuem para o desempenho das carteiras que administram e em completa contradição com os interesses daqueles que lhes confiaram os recursos.

Como diz um dileto professor de economia, é no Brasil onde as ideologias vêm se aposentar. Aqui essa visão ambientalista-sustentável-includente segue forte entre alguns gestores. Para eles, o crescente endividamento do governo e a decorrente elevação das taxas de juros e são tema secundário. Mais importantes são as questões ambientais e de gênero. O negacionismo só existe em relação aos temas que defendem, mas não em economia. Tal postura identifica o elitismo e descompasso dos gestores militantes com as efetivas demandas do brasileiro comum que busca estabilidade, renda e segurança.

Quando vemos os gestores que formam a turma apelidada de “farialimers” dando opinião sobre temas com os quais simpatizam, mas têm pouco conhecimento, fica claro que estão motivados pela paixão e não pela razão. Um bom motivo para que não os deixemos cuidar das nossas poupanças.

A incoerência do gestor militante

O mês com o menor valor investido foi janeiro, com R$ 4,8 bilhões, enquanto dezembro registrou o maior investimento, R$ 7,3 bilhões | Foto: Reprodução/FreepikO mês com o menor valor investido foi janeiro, com R$ 4,8 bilhões, enquanto dezembro registrou o maior investimento, R$ 7,3 bilhões | Foto: Reprodução/Freepik
Gestores De Investimentos Precisam Focar Nos Resultados De Seus Clientes, Reforça Economista | Foto: Reprodução/Freepik

Acrescento que a mesma dissonância cognitiva dos “farialimers” se observa em temas sobre os quais deveriam ter amplo domínio: a economia. Essa turma votou em massa num candidato a presidente cuja proposta econômica era bem conhecida e causou, no passado recente, terríveis danos ao país. Da mesma forma, o passado de corrupção do eleito contradiz a boa governança, o que mostra a distância entre a razão e a emoção dessas pessoas na hora do voto.

Portanto, a credibilidade dos gestores que enveredaram por caminhos além da pura administração dos recursos, fica muito reduzida. Quem lhes entregar recursos para gerir terá dúvida sobre qual chapéu o gestor usa: o de analista fleumático ou de militante ativista. Estará o gestor imbuído do dever fiduciário de buscar o melhor retorno para seu cliente?

“Gestores que deveriam cuidar do dinheiro dos clientes passam a opinar publicamente sobre questões de segurança interna e conflitos mundiais”

André Burger

Não bastasse esse óbvio conflito de interesses, alguns gestores extrapolam suas opiniões e palpites para áreas como segurança e geopolítica. Gestores que deveriam cuidar do dinheiro dos clientes passam a opinar publicamente sobre questões de segurança interna e conflitos mundiais. Não me lembro de ter visto essas matérias nas aulas sobre administração de investimentos.

Penso que um gestor de carteira de investimentos deve ter a postura de um mordomo inglês: fazer seu trabalho o melhor possível sem que se perceba a sua existência. Gestores que buscam exposição na mídia e são opiniáticos me fazem duvidar da sua competência técnica, como se necessitassem da popularidade para manter o fluxo de recursos sob gestão.

Será interessante acompanhar o desempenho das carteiras administradas pelos gestores militantes. Espero que seu dever fiduciário se sobreponha à paixão das causas que defendem e obtenham retornos adequados ao nicho em que decidiram apostar.

Assim como Fernando Pessoa fez de forma proposital uma argumentação viciosa para justificar o banqueiro anarquista de seu conto, os gestores militantes o fazem em relação às causas que defendem ao forçar uma relação inexistente com a atividade de administrar ativos. São rodeios de lógica que soam bem para um dos melhores escritores da língua portuguesa, mas um desastre para quem se propõe de forma séria a cuidar do dinheiro dos outros.

O conto O Banqueiro Anarquista pode ser baixado de forma on-line. .


André Burger é economista e conselheiro do .

Fonte: revistaoeste

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